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Notícia

Querô

O mundo cão de Plínio Marcos mais uma vez registrado na tela

MH
14.09.2007, às 22H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 17H02

A honra de um homem é feita de camadas, e, assim como em Dois Perdidos numa Noite Suja, em Querô (2006), a nova adaptação de uma peça do dramaturgo Plínio Marcos (1935-1999) ao cinema, essas camadas são comidas uma a uma.

Filho de prostituta suicida, o garoto Querô (Maxwell Nascimento) cresce em Santos como pode, amparado por outros tipos do submundo da cidade, entre as sombras do cais do porto, bares e prostíbulos. Órfão, Querô não tem muita coisa, mas preza o pouco que tem - basicamente, a sua dignidade.

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Num assalto no porto, ao lado de jovens mais velhos, Querô perde na repartição do dinheiro. Ganha, para compensar, roupas novas para sair à noite. Em seguida a polícia o prende pelo crime. Na Febem, tiram-lhe uma camada da sua honra, a liberdade. Os detentos zoam do seu nome: antes de morrer a mãe dele bebia querosene, daí o apelido. Vai-se outra camada, a identidade. Novato na prisão, Querô é logo currado. Perde então o que restou, a sua hombridade.

Dois Perdidos numa Noite Suja trabalha em operação semelhante - no filme, os personagens perdem cidadania, perdem dinheiro, perdem até o pais, até o ponto em que se matam por um par de sapatos. A grande questão, portanto, é saber: o que se torna uma pessoa de quem tiram tudo?

Tido como "maldito" pelos bons costumes nos anos 60 e 70, Plínio Marcos sempre deu espaço aos marginalizados em suas obras. Dizia, com resignação, que seu trabalho se tornava cada vez mais um clássico: enquanto a realidade do Brasil não mudar, continuará sendo atual. Querô foi escrito como romance na década de 60 e virou peça em 1976, mas o retrato que faz da Febem, como um lugar que elimina o que sobra da pureza de um jovem, não envelheceu.

Mesmo antes do cárcere, o caminho de Querô está condenado desde o seu princípio - e o diretor Carlos Cortez não condescende. Em sua estréia em longa-metragem, filma com câmera nervosa, colada nos corpos dos personagens, com plano-detalhe o tempo inteiro. Sem sutilezas, reforça o que o mundo cão de Plínio Marcos tem de mais berrante.

No meio disso, salva-se, paradoxalmente, Querô. Não o personagem, mas o ator Maxwell Nascimento, que consegue dominar-se em meio ao caos e desponta como mais uma grande revelação. O país pode continuar sem conserto, mas o cinema brasileiro recente, em matéria de preparação de elenco, continua mantendo a excelência.

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