Chamar de zebra a inclusão inesperada de Michael Shannon entre os concorrentes ao Oscar 2017, como candidato ao prêmio de melhor coadjuvante, por Animais Noturnos, seria negligenciar os feitos de uma das mais ascendentes carreira de um ator a serviço de Hollywood (e da seara indie do cinema dos EUA) nos últimos dez anos. Esperava-se ouvir o nome do inglês Hugh Grant (considerado uma aposta certa por Florence, Quem É Essa Mulher?) entre os candidatos a estatuetas e não o desse americano de 1m92 de altura, consagrado na ala nerd pelo papel do General Zod em Homem de Aço (2013). Projetado para o estrelato em 2006, ao dividir com Ashley Judd o protagonismo de Possuídos (2006), de William Friedkin, este aclamado cidadão do Kentucky, de 42 anos, figura sempre entre os potenciais oscarizáveis da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, tendo sido indicado antes em 2009, por Foi Apenas um Sonho.
“Se existe uma questão que me interessa muito no cinema é a chance de entender melhor a retidão, ou seja, compreender o sentimento que impele as pessoas adiante, para atingir um objetivo, com base apenas nos desejos ou nos deveres”, explicou Shannon ao Omelete no Festival de Berlim, no qual ele estrelava o cult Destino Especial, ficção científica de Jeff Nichols, ainda inédita aqui. “Um ator não interpreta símbolos nem ideologias, ele encarna pessoas, com contradições reais. E para isso ele precisa ser um pesquisador de relações humanas. Os filmes que fiz com Nichols, por exemplo, e foram vários, são observações sobre concepções de família. Esta sci-fi que fizemos, por exemplo, é um estudo sobre paternidade, sobre os limites a serem transpostos para se defender um filho”.
Durante a apresentação na Berlinale 2016, ele havia já dominado o personagem que ganhou do diretor Tom Ford em Animais Noturnos: Bobby Andes, um policial em estado terminal de um câncer que tenta ajudar Jake Gyllenhaal a punir os homens que atacaram sua família. É uma figura durona, como outros tipos que o ator viveu em filmes como O Abrigo, vencedor da Semana da Crítica de Cannes em 2011.
“Fazer cinema é um processo contínuo de estudo onde eu tento aprender o efeito que as pessoas exercem sobre as outras, a partir de suas virtudes mais específicas. E só se chega a este entendimento partindo de experiências pessoais”, explicou o ator, que voltará às telas este ano à frente de The Shape Of Water, de Guillermo del Toro, num confronto com situações fantásticas dos EUA dos anos 1960. “Tenho buscado trabalhar com diretores que constroem mitologias próprias”.
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