Os Mosconautas no Mundo da Lua - Festival do Rio 2008
Animação 3D mostra moscas viajando até a Lua
Há uma cena em Os Mosconautas no Mundo da Lua (Fly me to the Moon, 2008) que, por mais banal que seja, é de uma beleza singela: quando as moscas, já dentro da Apollo XI em órbita, flutuam em gravidade zero pela primeira vez. É uma imagem banal porque nos habituamos a ver esse balé em câmera lenta desde o começo da corrida espacial. Mas é belamente singela porque estamos falando de uma animação produzida especialmente para exibições com óculos 3D.
A tecnologia do 3D digital, empregada em Beowulf e Viagem ao Centro da Terra - O Filme, está engatinhando. E esta animação belga ainda não é o tipo de filme que faria o formato subir de patamar; está mais para uma produção artesanal que experimenta mexer com a novidade. Ao contrário dos lances de efeito de Viagem ao Centro da Terra, que jogam peixes voadores na nossa cara, Os Mosconautas se limita a "descolar" do pano-de-fundo os personagens que estão em primeiro plano.
Mosconautas
Mosconautas
Mosconautas
Daí uma cena como o bailado em órbita ganha beleza. Aquilo que numa animação em CGI amadora normalmente fica com cara de chapado, com os personagens se movimentando sobre o cenário fixo, passa a ter um mínimo de vida, com o 3D timidamente colocando aqueles três pequenos seres para se movimentar a um palmo de nós. A singeleza está no fato de Os Mosconautas se contentar com a tecnologia em sua essência - dentro de um gênero, o das animações, em que a overdose de informação visual se tornou regra.
Poéticas do minimalismo à parte - moscas são ótimas para avançar e recuar em 3D, de qualquer forma - estamos diante de mais uma história, igual a todas as outras, da superação do jovem sonhador contra o ceticismo dos adultos. Você já viu esse filme antes. Aliás, já viu mesmo, porque o trabalho do diretor Ben Stassen acompanha três moscas que conseguem entrar na nave que levou o homem à Lua em 1969, um dos momentos históricos mais repetidos pela televisão ao longo do século passado.
Temos a jovem e corajosa mosca idealista, com amigos disfuncionais (a mosca nerd e a mosca obesa), um avô que já teve seus dias de aventura e uma mãe zelosa em excesso. O antropomorfismo é outra norma do gênero que poucos ousam discutir, e a vocação de Os Mosconautas definitivamente não é inovar.
Aliás, pelo contrário: Stassen está tão preocupado em não incomodar ninguém que coloca até o astronauta Buzz Aldrin no fim do filme, em live-action, para dizer que nada daquilo que foi narrado (moscas à bordo da Apollo XI) aconteceu de verdade, pois as medidas de segurança da NASA não permitiriam. Ou seja, a criança vai ao cinema, se encanta com o 3D, e no fim do filme vem uma pessoa de carne e osso dizer que tudo aquilo era mentira...
Com pensamento estreito assim não há tecnologia que ajude.