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Entrevista

Omelete entrevista Shia LaBeouf, ator principal de Transformers

Astro em ascensão comenta o filme, Michael Bay, sua carreira e até Indiana Jones 4

ÉB
17.07.2007, às 22H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 21H03

Shia LaBeouf, que interpreta Sam Witwicky em Transformers, entrou na sala de imprensa do hotel londrino onde estavam sendo realizadas as entrevistas da adaptação com cara de ressaca. Pelo visto, o sucesso do filme havia rendido uma merecida balada na noite anterior. De cara, gostei do sujeito. Antes de sequer sentar-se para começar o papo, ele pegou uma garrafa d´agua de um litro - que tomou inteira em 20 minutos! - e conversou algumas amenidades. Quando, finalmente, ajeitou-se na cadeira, preparei meu gravador digital e dei um peteleco preciso nele, fazendo com que o aparelho atravessasse a mesa e parasse, funcionando, a meros 10 centímetros do ator.

Shia LaBeouf: Cara, belo deslizamento de gravador! Pelo visto você faz muito isso!

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Obrigado! Eu treino em casa! Você deve estar chocado com o resultado do filme. Quer dizer, essa é uma dessas produções em que os atores atuam basicamente com o nada... deve ser empolgante finalmente ver os robôs na sua frente na telona.

É sim! O visual do filme ficou incrível. Eu mesmo nunca vi nada nesse nível. O Bumblebee com o qual eu falava o tempo todo era uma bola verde no alto de uma vareta... e, quer saber? eu amava aquela coisa. Amava aquele Bumblebee. E tinha que me sentir daquele jeito mesmo. Era meu melhor amigo, estava sofrendo... e aí, quando finalmente o vi na tela, ele parecia mais legal do que qualquer coisa que eu imaginei. Esse foi meu primeiro filme em que eu pude sentar, relaxar e não ser tão crítico comigo mesmo, porque eu não tinha visto o filme de certo modo. Eu nunca desfruto dos meus filmes, vê-los é estudar. Mas esse foi diferente, não liguei a mínima pra mim mesmo, se eu atuei bem ou não.

A técnica é diferente nesse caso?

Isso é Transformers... não é o tipo de filme que você precisa de Método de Stanislavski [conjunto de técnicas de atuação criadas pelo teatrólogo e ator russo, Constantin Stanislavski no final do século XIX] ou coisa parecida.... é muito mais reação que outra coisa. As pessoas dizem que Michael Bay é um mau diretor de atores - e eu não poderia discordar mais disso. Ele vai a extremos para chegar o mais próximo possível de colocar fogo na sua roupa, sem te queimar. É muito difícil imaginar que você está pendurado num prédio sendo que você está confortavelmente em estúdio com uma tela verde ao fundo. Ele pendura você no prédio. Para um ator isso é ótimo, é reação pura. Ele colocará você em situações beirando o real. A primeira coisa que ele me disse quando cheguei ao set foi "você vai se machucar. Fique preparado". Daí você não fica se achando invencível no filme.

E os machucados aconteceram?

Tenho uma cicatriz nas costelas pra provar...

O que houve?

Uma das bombas, um morteiro, acho, me feriu. Acho que era um morteiro. O legal de atuar num filme desses é que você aprende todas essas coisas legais, como construir uma bomba, etc. Bom, estávamos filmando em Los Angeles, na rua, e era um verdadeiro balé. Você tem que saber exatamente onde correr, onde parar... porque bombas vão explodir, carros vão voar, helicópteros vão cair, edifícios vão ser demolidos... numa dessas eu errei, corri perto demais de uma explosão e um pedaço dela me acertou na costela. Foi culpa minha. Não foi nada demais, mas eu devia ter prestado mais atenção.

Você passou a prestar mais atenção ao seu diretor então?

Sim, ou morreria. Hahahahahahaha.

Como você se prepara para um cenário desses?

Eu não me preparo porque, realmente, não tenho idéia do que estou fazendo. Não sei atuar, na verdade. Pra mim, esse trabalho é totalmente reativo. Essa é a magia do cinema - e eu acho que é justamente isso que se perdeu nos últimos, sei lá, vinte anos. A magia se foi. Meu único preparo foi ver filme e mais filmes. Sou meio um ermitão. Me tranco em casa e fico vendo filmes. Mas pensando bem... é meio estranho agora, porque aquele universo está se tornando real pra mim. Sabe como é? "Oi Harrison"... é loucura.

Esses são os trabalhos com que você sempre sonhou, então?

Não sonho à noite com unicórnios - odeio unicórnios - mas com isso. Olha, eu não deveria ter esses trabalhos. Eles são meio como os carro dos seus sonhos, sabe? Você não devia ter esse carro. Ele fica lá, nos seus sonhos. Mas agora estou dirigindo esse carro. E aí? O sonho virou realidade. E agora?

Agora você vai precisar de outros sonhos.

Poisé. Mas acho que eles vão seguir essa linha...

Li uma história que você quis entrar nesse ramo por causa de um amigo.

É verdade. Ele estava num programa de TV chamado Uma mulher contra todos (Dr. Quinn, medicine woman). Eu não tinha coisa alguma, vivia duro, e ele tinha todas as coisas legais. Ele era um regular da série, nem lembro o nome do cara, e tinha grana. A gente ia surfar e o cara tinha a prancha mais legal, aparecia com o Game Boy novo... e quando se tem 8 ou 9 anos de idade, a vida é materialismo puro. Você vai pra escola e é definido pelo tênis que tem... e os meus eram uma merda. Meus pais não tinham nem empregos fixos... então acabei sendo atraído para atuação pela grana, não pela arte. Pelo tênis legal. A arte só veio quando eu conheci Jon Voight, em O Mistério dos Escavadores (Holes). Ele me mostrou a responsabilidade que um ator tem, me mostrou como os atores na verdade são mágicos. As conversas com ele foram importantíssimas pra mim, mudaram minha vida. Acho que ele não faz a menor idéia disso. O cara me falou 10 palavras e o mundo se abriu à minha frente. E ele me trazia filmes pra ver, filmes que eu jamais alugaria.

Motivado pela grana do amigo então você entrou no mercado com a série de TV Mano a Mana (Even Stevens), da Disney. Você ficou lá bastante tempo...

É estranho. Eu não tinha a menor idéia do que estava acontecendo, tinha apenas 12 anos e umas pessoas me pagavam pra fazer guerrinha de comida. Era maravilhoso e eu não fazia idéia de que era um programa de sucesso ou que havia gente assistindo. Na época eu vivia num hotelzinho, meu pai me levava pro set todos os dias e aquela era minha família. Eu os via mais que meus próprios pais. Eu cresci lá, passei pela puberdade lá. Ao mesmo tempo, era um ambiente de adultos e minha infância foi meio deixada de lado - eu era criança quando me mandavam.

Muitas dessas crianças que nasceram e cresceram no meio hoje são problemáticas. Será algo por conta dessa infância diminuída?

Não sei. Eu não sinto isso. Deve ser um lance de personalidade. Sabe, eu não freqüento casas noturnas ou coisas do tipo. Eu tenho uma tatuagem no pulso que me lembra o tempo todo quem eu sou - e que devo permanecer assim. Ela tem algumas datas importantes pra mim, uma espécie de linha do tempo da minha vida. É uma espécie de precaução contra o deslumbramento.

Voltando a Transformers, como é sua relação com Michael Bay?

Somos amigos. Ele manda eu me ferrar, eu mando ele se ferrar. Ele é um cara difícil no set, mas você não pode levar para o lado pessoal. A má reputação dele vem daí. Eu não sou o tipo de ator que precisa de um abraço de manhã e Michael não é o diretor que vai abraçá-lo de manhã, então nos demos bem. Se você é o tipo de ator que precisa de carinho, não faça um filme de Michael Bay.

Ao mesmo tempo parece que ele dá certa liberdade aos atores, já que o filme tem ótimos momentos de improvisão - algo curioso já que se trata de um blockbuster monstruoso...

É, porque geralmente eles são tão planejados e organizados, porque envolvem milhões e milhões de dólares, blá blá blá... mas pra Michael, que já fez tantos filmes desse, é algo trivial. Los Angeles está explodindo e ele, blasé, está escolhendo o que almoçar. "Não se preocupe, o edifício vai cair no lugar certo, fique tranquilo. Salada de ovos, por favor". Ele é o cara pra fazer esses filmes, não se intimida.

Certo, mas você não vai sair daqui sem falar de Indiana Jones [aproveitando a pergunta, vale dizer que Shia tinha os cabelos cobertos de gel, disfarçando o penteado da década de 1950 que ele deixou para as filmagens de Indiana Jones IV, das quais ele tirou alguns dias para ir a Londres fazer a divulgação do filme]

Eu sou péssimo para guardar segredos, mas há algo de poderoso no olhar de Steven Spielberg que faz você se comportar. "Estou contando com você garoto". É difícil não falar. É como ganhar o Superbowl e não poder comemorar. Tem tanta coisa que queria contar, mas não posso.

Você falou de sonhos... atuar em Indiana Jones e com Harrison Ford tem que ser um deles...

Claro! Indiana Jones é uma das maiores franquias já criadas! Esses caras são gênios. George Lucas, Harrison Ford e Steven Spielberg são ícones e você está lá no meio, sem acreditar. Se minha infância foi diminuída, hoje em dia me sinto um moleque como nunca me senti antes.

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