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Entrevista

Omelete entrevista Matthew Vaughn, o diretor de Stardust - O Mistério da Estrela

Cineasta comenta o filme, sua desistência de X-Men 3 e mais

SY
11.10.2007, às 15H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 14H02

Depois de produzir vários filmes e de dirigir o bacana Nem tudo é o que Parece, Matthew Vaughn assumiu X-Men 3. Mas ficou pouco no trabalho. Por conta do prazo apertadíssimo, que o impossibilitaria de fazer um bom filme, decidiu deixar a aventura dos mutantes (o estúdio alegou que ele queria "passar mais tempo com a família"). Em seu lugar encarou outra adaptação ligada ao mundo dos quadrinhos, Stardust - O Mistério da Estrela . Na nossa conversa com o cineasta ele comenta o filme, a desistência da aventura dos mutantes e mais. Confira!

Você achou difícil produzir e dirigir Stardust, um filme de grande orçamento comparado com o seu trabalho anterior, Nem tudo é o que parece?

Provavelmente isso vai soar muito arrogante, mas eu achei muito fácil. Foi muito mais fácil porque você tem mais dinheiro, então pode ter mais gente, contratar profissionais de verdade para ajudar. Em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes eram 900 mil, então a gente tinha um monte de garotos que nunca tinham feito um filme antes e iam inventando as coisas no meio do caminho. Agora já estou fazendo isso há 16 anos. Seja em um filme de pequeno orçamento ou num blockbuster, a técnica de produção é a mesma, o difícil é conjugar todos os elementos, comédia, ação, romance e tornar tudo parte de uma coisa só.

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Você gostou de lidar com todos aqueles aspectos técnicos de um filme como Stardust, uso de CGI e tudo o mais?

Você só precisa ter uma boa imaginação e saber o que quer. Aí você explica o que quer da cena, os caras apertam os botões e você diz para mudar isto e aquilo. Eu tento usar tela azul o mínimo possível porque acho que quanto mais você usa coisas reais, melhor. Os atores reagem melhor. Mas eu não posso fazer um barco voar ou transformar alguém em camundongo. O resto eu tento fazer na câmera.

Ter as ilustrações de Charles Vess foram uma benção ou criaram uma maldição, porque era um visual difícil de recriar? Ou desde o começo você já tinha a sua visão?

Eu usei as ilustrações de Charles para recriar a Inglaterra vitoriana, mas eu não queria que o filme todo tivesse aquele visual e sim que fosse mais acessível e o mais moderno possível. Na minha cabeça eu já tinha uma visão de como queria que as coisas ficassem, então foi uma questão de usar meu ego e dizer "é assim que eu quero".

Houve um momento em que você estava na dúvida se convidava Robert DeNiro ou Jack Nicholson para fazer o papel de Capitão Shakespeare. Você chegou a falar com Nicholson sobre o papel?

Não. Nicholson teria feito muito bem, mas você já viu Nicholson exagerando, ele fez o Coringa em Batman e o diabo em As Bruxas de Eastwick. Ele tem essa persona maior do que tudo, enquanto Bob é sempre contido, sério e poderoso. Você poderia imaginar Nicholson fazendo o personagem, mas DeNiro... (sorriso curto)

Stardust tem ainda Michelle Pfeiffer, que não filmava há quase cinco anos.

Pois é, mas ela tem sido uma boa mãe nesse tempo. Eu fiquei sabendo por uma fonte que agora que os meninos estão crescidos, ela estava pronta para retornar ao cinema. E eu queria uma beleza que todo mundo conhecesse, que fizesse parte do imaginário do público. Ver Michelle envelhecendo diante das câmeras é muito mais interessante do que ver uma mulher bonita qualquer. Michelle foi fantástica e muito corajosa. Muitas atrizes não teriam a mesma segurança em fazer esse papel porque elas não suportam sequer a idéia de que estão envelhecendo.

Houve alguma coisa que ela não quis fazer?

Eu ficava sempre pedindo um pouco mais e ela nunca recusou nada.

É verdade que Ricky Gervais tentou várias vezes se aproximar de Robert DeNiro para convidá-lo a fazer uma participação em Extras?

O coitado do Ricky pagou o maior mico porque toda vez que ele tentava falar com Bob sobre isso, vinha voz do primeiro assistente de direção "primeira posição, por favor". Então Bob dizia: "o que é que você queria me perguntar?" e Ricky, "não, depois eu falo". E quando chegou a hora de Bob ir embora, eu chamei Bob e disse "Bob, só um minuto, Ricky queria te perguntar uma coisa". E Bob disse sim.

Stardust estreou nos Estados Unidos contra os blockbusters de verão, como Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Ultimato Bourne. Você disse a Paramount para não esperar algo como um Piratas do Caribe?

Não estou nada feliz com o que aconteceu nos Estados Unidos, mas a Paramount simplesmente não quis me ouvir. Eu disse que tínhamos de vender o filme como um conto de fadas e eles "não, não, o público não gosta de contos de fadas". E no final de semana de estréia, 95% do nosso público estava acima dos 25 anos o que é completamente ridiculo. Em todos os outros países o filme tem ido bem. A América é um lugar estranho, um mundo à parte. Acho que o filme é muito britânico para eles. Ao mesmo tempo, eu acho incrível que Harry Potter tenha ido tão bem lá. Quando eu falava sobre o filme, eu citava A Princesa Prometida (The Princess Bride, 1987) e eles "não mencione A Princesa Prometida" e eu, "por quê?", e eles "o filme afundou nas bilheterias". Afundou porque foi muito mal lançado e hoje é um dos DVDs mais vendidos de todos os tempos. E acho que vai ser o mesmo com Stardust. Eles não entenderam quando as críticas começaram a sair, a maioria elogiando o filme. Vieram me perguntar o que eu tinha feito, o que eu tinha dito aos jornalistas.

É estranho porque Brad Grey (chairman da Paramount Pictures) te deu luz verde para fazer esse projeto e o estúdio não te apoiou até o fim. Qual é a lógica do negócio, se é que existe uma lógica?

Acho que Brad Grey tinha uma visão e confiou em mim. Mas ele não pode fazer tudo no estúdio. Se ele estivesse cuidando da distribuição de Stardust, o filme seria um sucesso. Mas agora com o lançamento em DVD, eu sugeri que se mudasse a campanha - e eles, "o que há de errado com a nossa campanha?". A discussão no departamento de marketing era quem deveria aparecer maior no poster, DeNiro ou Michelle? Para o ego deles é melhor dizer simplesmente que o filme não é para norte-americanos. Para mim isso é uma pena.

Agora que você já testou sua mão na direção e na produção, o que te interessa mais fazer?

Toda produção me deixa com raiva, enlouquecido. Há alguns meses eu dei uma entrevista em que disse "Se for para produzir, você vai ter que me pagar muito dinheiro. Se for para dirigir, eu trabalho de graça". É como eu me sinto. Dirigir para mim é como um hobby, eu adoro cada minuto, tenho muita sorte que me paguem para fazer isso. Quando se é produtor, as pessoas só te procuram para tratar de problemas ou para reclamar de alguma coisa.

E por que você continua produzindo?

Eu não tenho escolha. Se eu vou escrever o roteiro e levantar metade do dinheiro, por que dar metade para um cara que não está nem aí? Metade dos produtores não sabe o que faz, então para mim é duro ficar sentado vendo tanta bobagem. Eu acabo resolvendo os problemas e não citam meu nome nos créditos e nem me pagam por isso.

Trabalhar com Guy Ritchie está nos seus planos ou ficou no passado?

Nós nos damos muito bem, Guy e eu. Agora estou mais concentrado em dirigir, mas posso me ver daqui a alguns anos trabalhando com ele novamente. Mas tem que ser o projeto certo, algo que nós dois achemos ótimo.

E que tal co-dirigir um mesmo filme?

Não, a gente acabaria se matando. A idéia de co-direção simplesmente não entra na minha cabeça, não faz o menor sentido.

Os Coen fazem isso.

Mas eles são irmãos, cresceram juntos. Um diretor tem que ter a sua própria visão. É como entrar num carro e dizer "eu cuido do volante e você, dos pedais". Eventualmente alguma coisa vai dar errado.

E essa história de que foi a sua mulher (a ex-modelo Claudia Schiffer) quem leu Stardust, se apaixonou pela história e te convenceu a fazer o filme?

Ela leu o livro, mas eu já tinha lido cinco anos antes.

Você costuma discutir seus projetos e pedir a opinião dela?

Todo o tempo. A sua mulher é a sua parceira, você deveria discutir tudo com ela.

Você se arrepende de não ter dirigido X-Men 3?

Eu fiquei chateado e depois aliviado. Eu sei que fiz a coisa certa. Teria sido muito bom fazer X-Men 3, mas o filme que eu queria fazer não tinha como acontecer dentro do cronograma do estúdio. E sendo o meu segundo filme, tinha que ser de qualidade. Todo mundo esperava que Nem tudo é o que parece fosse horrível e aí as pessoas foram assistir e acharam que não era tão ruim assim. Esse truque eu já usei, o desafio era fazer de novo. E eu achei que X-Men não seria bom. Para funcionar eu tinha que ter o controle e fazer o filme em que eu acreditava, algo tão bom quanto o segundo. O problema com X3 é que seria um filme ruim em que todo mundo tomaria as decisões no meu lugar e no final todos iam pensar que o filme era ruim porque eu era um diretor ruim. Fiz a escolha certa. Não queria ser conhecido como "o cara que arruinou X-Men". Eu teria feito um filme 100 vezes melhor que o que foi feito. Parece arrogância, mas acredito que faria um filme com muito mais paixão e emoção.

Se você pudesse escolher um filme para fazer, com todo o dinheiro do mundo, que filme seria?

O filme que eu quisesse? Qualquer um (silêncio...) Eu... eu queria muito fazer Tintim, mas Spielberg e Peter Jackson já estão fazendo, então não vai rolar.

E qual aventura do Tintim seria? Tintim na África? Rumo à Lua?

Gosto de todos... (silêncio) Não sei nem por onde começar, não sei... Acho que Os Charutos do Faraó. Mas não tem jeito, agora já foi. Spielberg está fazendo o primeiro filme e Jackson vai fazer o segundo. E não dá para competir com eles.

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