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Entrevista

Omelete Entrevista: Mark Webb, o diretor de 500 Dias com Ela

Estreante fala de música, da cidade, do azul e da promessa de um cruzamento de gigante com vampiro

05.11.2009, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H54

Durante os créditos iniciais de 500 Dias com Ela, aprendemos que a pessoa a quem o filme se dedica, Jenny Beckman, deve ter ferrado com a vida de alguém. Esse alguém é o coroteirista Scott Neustadter. Na conversa com o diretor do filme, Marc Webb, egresso dos videoclipes que estreia em longas de ficção, falamos um pouco da tal moça, de como a atriz Zooey Deschanel se tornou uma destruidora de corações e da mítica barriga-tanquinho de Cristo.

Antes de mais nada, preciso perguntar sobre Jenny Beckman. O que ela fez para o Scott, a ponto de ele escrever um filme para ela?

500 dias com ela

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O que ela faz para o Scott... Acho que foi mais 'o que Scott fez a si mesmo', e aí você vai ter que perguntar pra ele. Este filme é sobre aquela época da vida em que você espera certas coisas que nem sempre vêm, e Jenny Beckman era a manifestação disso para o jovem Scott.

É verdade que a Zooey se parece com ela?

Hmm, interessante. A personagem, Summer, se parece com Jenny. Já a Zooey... Olha, tem algumas coisas ali que se referem à realidade, é como um amálgama de várias mulheres e várias vidas diferentes. Não dá pra dizer que é uma só. Mas não procure a Jenny Beckman no Facebook.

Não?

Nem tente. Seria uma má ideia.

No filme você faz várias referências cinematográficas - A Primeira Noite de um Homem, O Sétimo Selo, a Nouvelle Vague - mas ao mesmo tempo você tem muito mais referências musicais. Você acha que a música lida com o amor de um jeito mais poderoso que o cinema?

Eu não diria mais poderoso, são linguagens diferentes. E parte da linguagem cinematográfica é musical, mesmo nos videoclipes. Eu acho que a música pode criar um tom e um sentimento mais rapidamente do que muitas outras coisas. Os dois se complementam de um jeito poderoso, eu diria.

E você já tem uma bagagem nos videoclipes.

Sim, acho que música e cinema são parceiros naturais.

Assim como em outras comédias românticas independentes, como Juno, há muita música tirada desse segmento do rock indie. Aqui você tem Belle & Sebastian etc. Você vê uma conexão entre esses filmes?

Acho engraçado isso, porque indie pra mim soa como um mundo falso. Acho que o nosso filme - que não é independente, foi feito pela Fox - só se encaixa nessa categoria porque nosso orçamento era pequeno. Mas todos os músicos na nossa trilha têm contrato com majors: Smiths, Hall & Oates, Wolfmother. O único indie seria o Black Lips... Eu sempre pensei neste filme como um filme pop, não indie - não que as duas coisas sejam inconciliáveis. Mas queríamos que o filme soasse amigável à cultura pop.

O clipe que você dirigiu para a banda de Zooey, o She & Him, foi antes ou depois do filme?

Não foi um clipe inteiro, mas meio um curta com Zooey, mais uma sequência de dança. Fizemos depois do filme, porque ela ficou com inveja que Joe [Joseph Gordon-Levitt, coprotagonista] tinha um número musical no filme e ela não... Na verdade a gente ia usar uma música diferente, mas daí escutei o álbum dela e fez mais sentido com "Why Do You Let Me Stay Here?". E ela é uma grande cantora, dançarina, ela é esperta, foi demais.

Você já viu um filme chamado Prova de Amor?

Claro, o filme de David Gordon Green.

Bom, então podemos dizer que hoje Zooey já é uma destruidora de corações profissional.

Haha, ela tem uma energia, e fica muito fácil se apaixonar por ela. Ela tem uns olhos azuis enormes que são muito convidativos. E ela é, de alguma forma, mais acessível do que, digamos, uma modelo de biquinis. Ela tem uma beleza específica, que faz parte da energia dela, e tem uma inteligência que alguns homens podem achar atraente também.

Não sei se ela pode ficar marcada por esses papeis da garota que não se apaixona, porque a beleza e o jeito da Zooey meio que dão a ela um espírito ausente, não necessariamente blasé...

Bom, ela está fazendo agora o novo filme do Gordon Green, Your Highness, em Belfast, e é um papel bem diferente. É tipo um filme de época.

Sim, é uma fantasia e tal.

Exato. E ela tem feito outras coisas. Em Quase Famosos o papel dela era meio de mentora para o adolescente, a rebelde, e acho que isso caiu bem.

O que você fez com a fotografia pra destacar mais o azul dos olhos dela?

Foi mais desenho de produção do que fotografia. Nós designamos que o azul seria a cor dela, por causa dos olhos. Então o único momento em que você vê azul no filme é quando ela está em cena. Uma regra é que ela tivesse um pedaço de azul na roupa dela, o tempo todo. Podia ser um vestido, uma camiseta, algo simples, mas que servisse de lembrete. O apartamento dela é azul. A sequência musical [com o personagem de Gordon-Levitt, Tom] é toda azul, mas aí foi uma exceção. A ideia é criar uma sensação de que algo está faltando, quando ela não está por perto. Uma coisa subliminar.

É curioso que vocês rodaram em Los Angeles, e a cidade interpreta um papel importante no filme, mas você não vê, por exemplo, pessoas andando na rua em L.A. normalmente. E o filme tem muito disso.

O engraçado é que as pessoas andam, sim! Um jornal de Dallas publicou uma crítica dizendo que o filme era obviamente uma visão falsa de L.A., porque as pessoas não andam por aí... O fato é que muita gente mora no centro, e é uma parte legítima da cidade, que nunca é explorada [no cinema]. As pessoas estão filmando lá o tempo inteiro, mas só quando querem que aquela região sirva de "dublê" para Nova York. O que eu gosto é que a geografia deste filme combina com a personalidade do protagonista [Tom], que é um cara que gosta de descobrir a beleza em lugares onde as pessoas não procuram - essa é a noção de amor dele.

E o que eu gosto do centro de Los Angeles é que foi construído, claramente, por otimistas. Era um tempo em que havia muita esperança pelo crescimento do centro de L.A., mas aos poucos as pessoas foram se mudando para perto da praia, e entre os anos 60 e 80 o centro se degradou. Então recentemente o centro foi "redescoberto", e nós queríamos fazer parte desse movimento.

E o personagem é um arquiteto, aliás.

Tom é um aspirante a arquiteto, sim. Queríamos que o centro tivesse também uma textura clássica, romântica, então só filmamos prédios que foram construídos antes de 1950. Isso permitiu que a gente criasse um universo fechado, meio como uma livraria, uma coisa nem tão naturalista, mas algo mais elevado.

E há também os figurinos de Tom e Summer, dentro dessa linha vintage.

Particularmente Summer. Muito veio da própria Zooey - acho que ela tem uma regra de só vestir roupas e ouvir músicas que foram criados antes de ela nascer. Ocasionalmente ouvíamos alto música no set que ela trazia, em cenas que não tinham captação de som, eram só tomadas com dolly. Zooey encontra coisas de que ela gosta e define sua própria moda, ao invés de deixar que a moda a defina.

É verdade que você vai dirigir o remake de Jesus Christ Superstar?

Hmm, não posso comentar. Posso te contar depois, off the record.

Vamos pelo menos ver o abdômen de Jesus?

Hehehee, sem comentários.

E depois disso, talvez, você possa fazer um filme de Vagiant?

Um filme de Vagiant... A gente chegou a gravar som vindo desse filme [que Tom e Summer assistem no cinema], talvez entre no DVD. Quem sabe um dia a gente faça. Você pagaria pra ver esse filme?

Claro. Seria uma história de amor de vampiro, como Crepúsculo, mas com gigantes.

Gostei. Vampiro se apaixona por gigante, tem um bebê...

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