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Omelete entrevista: Guillermo Del Toro, o diretor de O labirinto do fauno

Omelete entrevista: Guillermo Del Toro, o diretor de O labirinto do fauno

30.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 17.11.2016, ÀS 20H00

O Labirinto do Fauno
El Laberinto del Fauno

México/Espanha/EUA
2006, 112 min
Drama/Fantasia


Direção e roteiro: Guillermo del Toro

Elenco: Ivana Baquero, Doug Jones, Sergi López, Ariadna Gil, Maribel Verdú, Álex Angulo, Roger Casamajor, César Vea, Federico Luppi, Manolo Solo



A entrevista com o mexicano Guillermo Del Toro (leia a biografia dele aqui) já tinha sido pedida há um tempo e estávamos esperando pela confirmação da data. E ela aconteceu na hora e no lugar mais inesperados. Quando estava em Los Angeles para fazer as entrevistas do filme Blood Diamond [que você verá em breve aqui no Omelete] vi que tinha uma luz piscando no telefone do quarto do hotel. Era a confirmação de que a entrevista seria feita no dia seguinte, lá de Los Angeles mesmo, por telefone. Não é irônico atravessar um continente inteiro para falar com um cara pelo telefone enquanto você poderia fazer isso da sua casa? Enfim, o importante é que deu tudo certo, tive meus 15 (na verdade, 17) minutos de papo com Del Toro, no qual ele falou sobre O labirinto do fauno, Hellboy and the golden army, a Copa do Mundo de 70, o segundo Quarteto Fantástico, no qual o seu amigo Doug Jones trabalha como o Surfista Prateado e - surpresa maior - que ele atualmente está relendo a obra de John Stanley para Luluzinha. Valeu a pena viajar até LA. ;-)

Hola Guillermo!

Hola! Como estás, bien?

Si, bien! Vamos fazer a entrevista em inglês ou em espanhol?

Podemos fazer em inglês.

Que ótimo, porque meu espanhol é péssimo!

Tubo bem, porque o meu português é pior!

Bom, a primeira coisa é por que o título em inglês ficou Pans Labirinth (O labirinto de Pan), se o nome do fauno não é dito nenhuma vez no filme?

O fauno do filme não deveria ser Pan, mas os distribuidores americanos acharam que ia criar uma ligação maior com o público. Eles acharam melhor do que O labirinto do fauno, já que ninguém sabe o que é um fauno. E por mim tudo bem. Às vezes, os títulos dos meus filmes no exterior podem ficar ainda mais estranhos. Eu me lembro que o título de Hellboy na Malásia era Super Sapiens. (risos)

É, realmente podia ser pior (risos)... Eu achei Labirinto um filme bastante religioso. Você concorda com isso? Seria essa uma possível herança católica?

Acho que é uma mistura do conceito de um tipo de redenção católica com uma mitologia pagã. Acho que a magia sempre penou bastante para sobreviver no mundo material.

As provas que Ofélia tem de cumprir também têm um pouco de religião envolvidas, não?

O filme foi pensado como uma fábula, uma parábola sobre escolhas e desobediência, que fala sobre a forma como você decide viver. A partir do momento que você decide como quer morrer, você comanda a sua vida. Se você ficar seguindo cegamente as regras, você nunca estará no comando.

Exato! Na segunda tarefa, ela decide sozinha em qual fechadura ela deveria usar a chave, contrariando a criatura que a guiava, aquela fada. E ainda come umas uvas no final!

Eu acredito que ter opções é uma das chaves para ser desobediente. Obedecer cegamente a qualquer coisa é uma das coisas mais horríveis que a humanidade tem. Não importa se você está seguindo uma religião, uma pátria, noções de um país, uma bandeira... ninguém deveria seguir nada disso cegamente.

Quando Ron Perlman foi ao Brasil, para promover Hellboy, nós conversamos sobre elementos que você gosta de esconder no meio dos seus filmes, como o feto de Espinha do diabo em Hellboy, e a camiseta da BPRD que o Scud usa em Blade II. Você escondeu algo em Labirinto do fauno, porque eu não consegui achar nada.

Bom, dois dos caras que participam da força rebelde foram crianças em Espinha do diabo. Se você assistir ao filme novamente vai vê-los por lá. E eles são mortos pelo capitão!

Ron Perlman também falou que você o ensinou a ler quadrinhos, indicando Hellboy e A liga dos cavalheiros extraordinários, do Alan Moore. O que você tem lido ultimamente?

Eu costumo acompanhar mais a obra de artistas underground. Eu adoro Jim Woodring, Robert Crumb, Richard Corben... Histórias de super-heróis realmente não são para mim. Eu achava aquilo muito chato mesmo quando eu era pequeno.

E tem alguma coisa recente que você indicou para o Ron Perlman?

Eu não estou lendo nada muito grandioso atualmente. Pra falar a verdade, eu estou relendo as história da Luluzinha do John Stanley [que estão sendo republicadas no Brasil pela Devir]. Eu acho que ele conseguiu mostrar muitos episódios da nossa infância naqueles quadrinhos e estou relendo essas histórias junto com a minha filha mais velha, de 10 anos. Ela adora a Luluzinha!

É muito mais fácil trabalhar com as pessoas que você já conhece? Pergunto isso porque você tem parcerias com atores como Doug Jones e Ron Perlman, e Guillermo Navarro, que é sempre o seu diretor de fotografia. É algo que vai além da amizade?

Tem um pouco da amizade. E com o tempo você cria um tipo de segunda linguagem em que você não tem que explicar nada e eles já entendem o que você quer, sabe? É quase uma família, na verdade. É muito mais fácil. Você se sente em casa.

Você falou recentemente com Doug Jones [que dará movimentos ao Surfista Prateado] sobre como estão sendo as gravações do segundo Quarteto Fantástico?

Eu falei com ele outro dia e ele falou que está adorando. Ele me diz que adora o personagem e eu vi um pouco do processo de maquiagem e é sensacional! Não é computação gráfica, é tudo maquiagem e está maravilhoso!

Voltando aos quadrinhos, em Espinha do diabo você criou Carlos, que era um leitor de quadrinhos. E agora, no Labirinto do fauno, Ofélia adora histórias fantásticas. Essa é uma forma de colocar um pouco de si mesmo nos protagonistas?

Sim, eu faço muito isso. Sempre tento incluir algo biográfico, escrevendo coisas que eu conheço. E isso vale também para os vilões, eu sempre procuro algo que tenha a ver comigo. Até mesmo Hellboy é um pouco biográfico. (risos)

E como está a preparação para Hellboy and the Golden Army? Vocês vão mesmo começar a filmar em abril?

Nós estamos em estágio de pré-produção, fazendo story-board e tal. Acho que vamos começar a filmar no fim de maio de 2007. E queremos lançar o filme no outono [do hemisfério norte] de 2008.

E pelo que eu li vocês vão filmar em Budapeste e Londres. Por que você decidiu não voltar a Praga?

Ainda não é 100% certo, mas os planos são de realmente filmar em Budapeste e Londres. Tudo depende do aspecto econômico. Nós podemos até mesmo acabar filmando em outro lugar.

E, para você, como foi a mudança da Sony para a Universal?

Até agora tem sido ótimo! Eu sempre falei que o Hellboy era um tipo de monstro como o Frankenstein. E o fato de que agora nós temos acesso aos arquivos da Universal, nos permite passar um tempão revendo clássicos como A noiva do Frankenstein.

Nós temos um problema com os seus filmes mais antigos. Acho que só Blade II e Hellboy foram lançados em DVD. Até Espinha do diabo, que foi lançado nos cinemas, só está disponível em VHS. Você pode nos ajudar a lançar isso em DVD.

Eu adoraria! Eu queria muito achar empresas para lançá-los por aí. Eu acho que Mimic está para ser lançado. E, pelo que eu saiba, Chronos só foi exibido no Festival Internacional do Rio em 1994 ou 1995. Se você souber de algum distribuidor interessado, me avise que eu ligo pra eles.

O que você pensa de um filme como Chamas da vingança (Man on fire), em que o México é mostrado como um país onde toda mulher é prostituta e os homens são traficantes, seqüestradores ou policiais corruptos?

Eu acho bastante ofensivo o jeito como esse filme mostra o país, com seqüestros e corrupções, mesmo depois que meu pai foi seqüestrado, em 1997. Um filme como este é uma propaganda ofensiva. Ele é quase um desenho animado, um filme de super-herói em que o país é caricaturalmente mal.

O Brasil tem o mesmo problema e vem aí o filme Turistas para piorar ainda mais. O que nós podemos fazer para mudar essa visão?

Devemos fazer filmes que são mais complexos que isso, não importa se eles são urbanos ou sobre o passado do país. Nós devemos iluminar o país de um jeito diferente. Acho que filmes de diretores como Walter Salles ou Fernando Meirelles têm esta densidade e se sobrepõe à visão caricatural que vemos nos filmes americanos.

Tem um projeto na sua página do IMDb chamado 3993. A sinopse fala que será uma história com fantasmas na Espanha com conexões com a guerra civil espanhola. De novo! Este seria o fim da sua trilogia [que já teve Espinha do diabo e agora Labirinto do fauno]?

Eu adoraria fazer este filme, mas não deve rolar tão cedo porque o roteiro ainda não está pronto. Está sendo escrito por um novo roteirista chamado Sergio Sanchez e é uma ótima história. Espero fazê-lo e terminar esta trilogia sobre a guerra civil.

Então não seria o fim da SUA trilogia. Funcionaria como a terceira parte, mas não como você planejava.

Eu nunca vi isso como uma trilogia. Quando eu estava fazendo Espinha do diabo, eu fui descobrindo cada vez mais coisas interessantes sobre a guerra civil espanhola e vendo que ainda tem muito a ser dito.

E por que não algo sobre a guerra civil mexicana?

Acho que é porque a revolução do México não é só um lado contra o outro. Tem muitas outras guerras dentro dela. Ela começou com uma luta dos pobres contra os ricos e a queda de um ditador reeleito [Porfírio Díaz Mori], mas depois ela se transformou em três, quatro, cinco guerras. Eu escrevi um roteiro sobre isso, mas nunca consegui fazê-lo.

Sabendo que você é de Guadalajara, eu tenho que te perguntar: você se lembra de alguma coisa da Copa do Mundo de 70?

Eu tinha uns 7 anos e estava muito empolgado com aquilo tudo. Eu me lembro que o Brasil ficou um tempo em Guadalajara e no dia da final a cidade estava totalmente deserta. Quem não foi para o estádio estava na frente da TV. Você poderia andar na cidade e não veria ninguém, nenhum carro, nada.

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