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Entrevista

Omelete Entrevista: Christian Bale

Ator fala do filme Inimigos Públicos

SW
23.07.2009, às 00H00.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 22H03

Depois de defender Gotham City duas vezes e de lutar pelo futuro da humanidade contra robôs fortemente armados, Christian Bale agora volta no tempo, até os anos 1930. No papel do agente do FBI Melvin Purvis, o ator que recentemente foi Batman e John Connor agora usa um estiloso chapéu e sai à caça de ninguém menos do que Johnny Depp, que interpreta o criminoso boa-praça John Dillinger. Veja abaixo trechos da entrevista coletiva concedida em Chicago para promover Inimigos Públicos, novo filme dirigido por Michael Mann.

O chapéu te ajudou a manter o anonimato?

Omelete Recomenda

Inimigos Públicos

None

Christian Bale: Não [risos].

Interpretar o agente do FBI que mata John Dillinger faz de você o vilão, já que a platéia está torcendo por Johnny Depp. Como você se sentiu em relação a isso?

Eu acho que essa era a verdade da época. Era a Grande Depressão e o Dillinger era um herói para muitas pessoas - e é bem fácil entender o porquê. Ele era um homem muito charmoso e carismático. Eu acho que ele devia fazer um bom marketing pessoal. Esse tipo de comparação com Robin Hood é um pouco errada, mas com certeza o fato de que ele não estava tirando dos pobres e sim dos grandões que estavam tirando tudo do homem comum era algo que todos na época reconheciam. O público gostava dele. É a natureza humana. Nós ficamos fascinados quando alguém se rebela e enfrenta o sistema e ainda, aparentemente, vive uma vida feliz e completa. Dillinger parecia viver como se já soubesse que a vida dele ia se acabar antes do tempo.

Purvis era também um homem bajulado pela imprensa e incrivelmente popular na sua época. Ele era chamado de "o Clark Gable do escritório" e tudo. Eu acho que no final das contas ele ficou desiludido com seu mentor, J. Edgar Hoover, que ele idolatrava e admirava sua visão. Ele era um incrível visionário, mas isso era no começo. E na natureza ciumenta de Hoover e o desejo que ele tinha pelo sucesso no curto prazo demandavam de Purvis ações que deixavam-no muito infeliz, que iam contra a natureza dele, que lhe eram moralmente ofensivas e também comprometiam seus próprios valores. Então, quando Dillinger é derrotado, Purvis não vê nenhuma satisfação nisso. Na verdade, ele questiona qual realmente era a maior perda. No fim, você enxerga os fatos. Ele se demitiu do FBI um ano depois de derrotar Dillinger.

Purvis ter o apelido de Clark Gable do FBI te deu alguma ideia de como você gostaria de interpreter e criar este personagem?

Existe uma riqueza de informações sobre Purvis; clipping de jornais, filmagens de noticiários e até um livro escrito pelo próprio Purvis. Outro livro, esse escrito pelo filho dele, Alston, eu levava comigo sempre. Se chama "A Vingança" e é muito interessante. Eu reconheço, é claro, que Purvis é um papel coadjuvante nesse filme, mas eu não consegui evitar de me tornar fascinado pelo personagem e ter muito carinho por ele. Eu queria saber o máximo que pudesse e tinha bastante informação. Ele era uma pessoa única. Ele não se encaixava na fôrma da maioria dos agents do FBI da época. Ele era incrivelmente agradável e elegante. Ele gostava de ballet e opera. E era igualmente capaz com as armas, porque cresceu no campo, caçando. Ele era um homem extraordinário que foi trazido abaixo pelo seu sucesso.

Você está em vários filmes hollywoodianos ultimamente. Como é sair da figura cult que você era no passado para se tornar a figura popular que você é hoje e lidar com toda essa atenção a mais?

Eu nunca prestei muita atenção na minha reputação. Nunca tive interesse em me olhar, me vigiar ou algo do tipo. Eu faço filmes que eu gostaria de assistir ou que eu gostaria de…bem, não, na verdade. Não tanto que eu gostaria de assistir e sim filmes que eu sinto que terão algo intrigante em seu processo. Filmes que me levem a lugares diferentes. O fato de eu ter feito alguns filmes grandes recentemente não significa que é isso que vou querer fazer a partir de agora. Essa profissão nos dá a opção de muita variedade e eu seria um tolo se não tirasse proveito disso.

Michael Mann filma em HD. Você poderia falar sobre a revolução que o HD está causando nos filmes e como você se sente com isso?

E eu adorei o HD, nunca tinha trabalhado em alta definição antes. É algo que eu vou dar a dica em projetos futuros, mas na verdade é uma decisão do diretor e da relação dele com o diretor com o diretor de fotografia, que é vital em qualquer set de filmagem. Mas do meu ponto de vista, achei que rolou um clima incrível, de experimentação e mais similaridade com a vida em poder deixar a camera rodando por 52 minutos corridos, sem precisar parar. Com película você precisa parar a cada 6 minutos e recarregar. Foi uma experiência nova e maravilhosa pra mim.

Você trabalhou com grandes cineastas como [Steven] Spielberg, [Terrence] Malick, [Werner] Herzog e agora Michael Mann. Como você os compara, e a visão cinematográfica de cada um?

Eu não gosto de comparar.

Você tem um preferido?

É exatamente isso que eu quero evitar [risos].

Então, o que você acha do Michael Mann como cineasta?

Ele é fantástico, de verdade. É um dos melhores por aí. Eu espero poder sugerir minhas preferências a quem eu estiver trabalhando, novamente.

E quanto ao Malick?

É um diretor igualmente fantástico. Ambas as experiências foram com certeza das mais satisfatórias que eu já tive na vida.

Você se diverte atuando, ou é às vezes um trabalho árduo?

As duas coisas. Depende do dia e de como você se sente naquele momento. Depende das pessoas ao seu redor, dos relacionamentos, das relações profissionais, de quanta satisfação você está realmente tirando de qualquer papel. Então você nunca sabe, nunca dá pra dizer. Não importa quão maravilhosa foi a reunião com a pessoa, você nunca sabe até estar trabalhando junto com ela exatamente o que você vai tirar dali.

Você poderia falar sobre a sua relação com a cidade de Chicago, depois de filmar lá tantas vezes e se você gostaria de fazer isso mais vezes?

Sim, é uma cidade incrível. É uma cidade muito dinâmica no que diz respeito à dualidade que ela tem, que podemos filmar lá Inimigos Públicos e também Batman - O Cavaleiro das Trevas. Num filme ela parece uma cidade contemporânea, brilhante de vidro e aço. No outro, ela parece uma cidade de 1930. É uma cidade com todos esses aspectos, tem muita personalidade.

Você considera os filmes como uma experiência capaz de mudar a vida de alguém ou só como entretenimento?

Ambas as coisas e os filmes devem ser ambas. Claro que seria muito pomposo sugerir que certos filmes por aí e também alguns filmes em que eu estive envolvido poderiam ser capazes de mudar vidas. Alguns deles são puro entretenimento e são maravilhosos por isso. Existe muito talento para isso também. Da mesma forma que existem alguns filmes que com certeza têm como consequência mudar vidas, e histórias que tocam profundamente e não conseguimos nos esquivar. Eles deveriam ser tudo isso, não deveriam nunca ser uma coisa só.

Em Batman - O Cavaleiro das Trevas você tem várias engenhocas modernas para brincar. E nesse filme não tem nada disso. Como foi essa experiência?

Bom, ele tinha os acessórios modernos de seu tempo. Naquela época, a arma semi-automática Thompson era o auge da modernidade. E alguns dos carros que eles dirigiam eram todos novos. Eram essas coisas que permitiam que caras como Dillinger fizessem o que faziam por alguns anos. E como eu acho que nós falamos, eles nem andavam armados até muito mais tarde. Eles não tinham rádios para se comunicar. Na cena dos apartamentos de Sheridan, você vê a desvantagem ridícula em que eles estão, tendo que descer correndo as escadas pra se comunicar com alguém, que aí tinha que correr a rua pra se comunicar com o outro cara, e aí o cara que está no carro que bloqueia a rua ouve tiros e sai do único posto que seria útil que ele ficasse para ver o que está acontecendo. Enquanto isso, os bandidos fogem. A confusão por causa da impossibilidade total de comunicação era muito frustrante pra eles. Como você pôde ver, o grampo telefônico era algo novo, uma revelação, incrivelmente útil. Mas, no fim das contas, alguém teve que delatar Dillinger para que eles pudessem prendê-lo.

Johnny Depp é um ator único em Hollywood e muitos jovens atores têm admiração por ele. Você poderia falar sobre como foi trabalhar com ele e se você descobriu algo novo sobre ele?

Eu não posso comentar sobre descobrir algo novo porque eu sabia pouquíssimo sobre ele em primeiro lugar, o que eu penso ser sempre uma vantagem com qualquer ator. Eu concordo muito com você, ele é único. Ele tem um estilo próprio, faz escolhas muito interessantes e faz uma variedade incrível de filmes e acho isso muito interessante. Eu penso que ele achou o Dillinger um personagem fascinante e acho que ele fez um trabalho incrível com ele. Mas a maneira como nós trabalhamos juntos foi muito parecida com a história. Purvis só o alcançou uma vez. Eu praticamente só encontrei com o Johnny aquela vez. Quando eu estava trabalhando ele não estava. Mas eu gosto disso, devo admitir. Eu gosto de estar trabalhando com uma pessoa e você só conhece ela através das cenas que estão fazendo juntos.

Quando você está trabalhando com um personagem real existe muita informação para procurar. Mas quando você está trabalhando com um personagem fictício você compensa a falta de informação criando sua própria história pra ele? Como você cria um personagem?

Eu tenho a tendência de ir mais para a primeira opção. Se você não criou algum tipo de história por trás do personagem ele pode não fazer sentido para quem assiste, e eu acho que dá para notar a diferença. É muito parecido com o caso de quando você assiste a um filme que tem um design de set ruim, onde tudo parece certo mas tem algo errado e é porque você sabe que se a câmera virasse só mais um pouquinho você não estaria mais no cenário e ia poder ver uns caras comendo uns sanduíches ou algo do tipo. Dá para perceber isso num filme e eu acho que dá para perceber numa atuação também. Se você só sabe aquilo que pediram pra você fazer na cena então tem algo muito irreal nisso. Eu acho que é sempre bom ter isso em mente.

Dillinger e Purvis viviam na Grande Depressão e o Dillinger se tornou quase um herói nacional porque as pessoas não tinham nada. Agora nós estamos numa época de recessão...

Eu sei. Quem será o Dillinger de hoje? Quer dizer, com certeza existe uma oportunidade para alguém.

Mas os bancos não têm mais dinheiro.

Ah é? Nós não tínhamos acabado de dar um monte pra eles?

Nós estamos brincando, mas estes são tempos difíceis para muita gente. Como Hollywood foi afetada pela recessão e talvez você como astro de Hollywood; de que maneiras você sente a recessão?

Absolutamente tudo foi afetado e tanta gente, amigos meus, não tem nenhum trabalho para eles. São tempos difíceis, depois de greves, etc. Tem sido muito, muito duro. Eu tive a sorte de continuar trabalhando através disso, mas muitos não tiveram a mesma sorte. Eu acho que afeta os filmes tanto quanto qualquer indústria. O que eu ouço com frequência é que filmes e bebida alcóolica sempre se darão bem em qualquer momento, porque o cinema é a forma mais barata de entretenimento e o álcool é um conforto para muitos. Em termos de bilheteria e coisas do tipo, eu nunca olho isso e não faço ideia se isso tem se refletido nas bilheterias e se as pessoas ainda estão indo ao cinema ou não. Eu realmente não sei.

Chegou a hora da pergunta do Batman. Chris [Nolan] está trabalhando em Inception. Houve alguma conversa entre vocês sobre voltar a Gotham City?

Nesse momento, eu realmente não posso te contar se algum dia haverá ou não um outro filme do Batman. O Chris obviamente fez um trabalho incrível, mas ele está imerso neste novo filme agora. Eu não faço ideia se nós vamos revisitar Gotham ou não.

Muita gente, inclusive eu, não sabe muito sobre Fighter. Você poderia falar um pouco sobre o que é esse filme?

É uma história verídica de dois boxeadores incrivelmente talentosos que são meio-irmãos. Um deles, Dicky Ecklund, lutou contra Sugar Ray Leonard quando tinha 21 anos e tinha um talento natural incrível. Ele viveu uma vida muito difícil. E depois ele treinou seu irmão, Irish Mickey Ward, para o título mundial.

Você está em ótima forma agora e é conhecido pelo seu processo de treinamento. Você poderia falar sobre como é a preparação física para um papel como esse?

Boxe. Não tem nada como o boxe par ate deixar em forma.

São muitas horas por dia?

Sim. É algo maravilhoso quando o seu treinador é a pessoa que você vai interpretar.

Você já tinha praticado boxe antes?

Não, nunca.

Eu sou fã do filme Metroland. Você tem algum plano de revisitar esse mundo menor dos filmes indies novamente?

Eu não tenho planos além do que estou fazendo em The Fighter. E eu posso te dizer que nós estamos juntando cada centavo que conseguimos nesse. Meu interesse num projeto nunca está relacionado ao orçamento, de onde vem o dinheiro, seja do estúdio ou independente. Eu só me importo com a história e as possibilidades de quem eu poderei interpretar e como será a experiência. Então, sim, com certeza posso voltar a qualquer momento, mas não tenho planos. E tenho certaza que vai acontecer.

Você viu esse filme projetado em HD. Foi estranho pra você? Tudo é exposto, os poros, as rugas - como foi isso?

Eu não tenho problema com isso. Eu não sei o tratamento que foi feito antes nesse filme, mas eu achei que ficou incrível. Ele captura a riqueza da época, mas também faz parecer tão relevante.

Você fez Batman - O Cavaleiro das Trevas com cenas em Imax, o que foi arrebatador. E o 3D parece ser uma revolução em toda a indústria. E agora vem o Michael Mann e aparece com esse HD. O que você pensa sobre tudo isso?

Eu não sei. Eu não sei o suficiente sobre isso. Eu nem tenho TiVo, eu nem tenho bina no celular. Eu uso papel e caneta. Eu não sou a pessoa ideal pra responder a essa pergunta [risos].

Mas você se viu em Imax [o Batman]... como foi a sua experiência?

Ah, marcante. Foi fenomenal. Eu não sei se é adequado para qualquer filme, mas naquele com certeza era. Eu contei para todos os meus amigos que ainda não tinham visto em Imax que valia a pena. Não é o meu caso, mas na casa de muitas pessoas hoje já há tecnologia tão avançada para assistir a filmes que eles devem se questionar se vão se incomodar indo ao cinema, a não ser que eles apreciem o espírito comum do cinema como eu. Novamente, eu não sou o cara certo pra falar disso, mas eu imagino que essa repentina obsessão com o 3D e Imax é a necessidade de dar algo maior para as pessoas, algo que elas não podem ver em casa.

Purvis pega o Dillinger no final, e aí nós descobrimos que ele se matou um ano depois.

Não, não. Ele se demitiu do FBI um ano depois. Ele se suicidou muitos anos depois, por volta de 1960. Se tornou um coronel no exército, interrogou Goering em Nuremberg. Liderou uma investigação de má-conduta de Patton. Foi dono de estações de rádio e de jornais. Ele ia se tornar juíz mas o Hoover interferiu e se certificou que isso não acontecesse. Ele viveu uma vida interessante durante muito tempo depois do FBI.

Você sabe por que ele se matou?

Eu só posso especular. Existe a ideia de que poderia ter sido um acidente. O que é improvável com alguém que tinha tanta experiência com armas, mas existe a possibilidade de que tinha uma bala no tambor quando ele estava limpando a arma. Mas é meio difícil de acreditar nisso, especialmente se tratando de alguém tão bom e experiente com armas. Ele sofreu de depressão. E ele, até o dia da sua morte, ficava remoendo e se incomodando com a richa de Hoover contra ele. É algo extraordinário o tanto que esse homem o perseguiu e fez de tudo para tornar a vida de Purvis um inferno. Mas ele era um homem complexo, como qualquer um, e seria errado da minha parte dizer que eu realmente sei os motivos.

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