Omelete Entrevista: Cameron Diaz, a Fiona de Shrek Terceiro
Atriz fala de sua personagem e dá uma verdadeira palestra sobre o meio-ambiente
Eu tinha acabado de perguntar quem seria a próxima pessoa a entrar na sala, quando uma loira magra, alta, de olhos azuis entra, causando, falando alto, como só uma das atrizes mais bem pagas (e lindas) de Hollywood tem o direito de fazer. Cameron Diaz dispensa apresentações, então vamos direto à entrevista, que começou dentro do tema (Shrek Terceiro), mas acabou virando um monólogo sobre a atual crise ecológica que vivemos:
Olha só, loira de novo!
Fiona e Cameron Diaz
Cameron Diaz: Sim! Fui fazer umas luzes ontem... estava morena desde agosto, acho.
Como foi voltar a fazer Shrek?
Eu adorei! Não poderia estar mais feliz. Adoro este filme, adoro ser parte disso, adoro fazer o meu papel.
Pra você, como foi a experiência desde o primeiro filme até este?
Bem, já faz tempo... Hoje, minha relação com Fiona é bem diferente. Gosto muito mais dela agora. Eu não a conhecia direito no começo, mas agora sei tudo sobre ela. Eu vi o seu amadurecimento e a admiro muito.
De qual Fiona você gosta mais? Daquela do início do primeiro filme ou esta?
Quando a encontramos pela primeira vez, ela está confinada naquela torre, esperando para ser resgatada e daí você percebe que ela poderia ter saído de lá quando quisesse. Ela estava só fazendo o seu papel [de princesa em apuros]. Daí ela se torna quem ela realmente é. Ela se aceita e isso lhe dá poder. E isso faz parte do caminho que vem até agora, em que ela assume mais responsabilidades, está se preparando para ser mãe, tem um casamento e os afazeres no seu reino. É assim que ela se resolve como mulher e o que ela é frente às outras princesas. Então acho que essa é uma ótima caminhada. Acho o máximo que nós conseguimos mostrar isso ao mesmo tempo que temos a evolução dos outros personagens.
Você é uma das pessoas que está dando apoio ao Live Earth, que vai ter concertos em várias cidades do mundo. Qual é exatamente o seu papel nisso tudo?
Sou uma respresentante. Sou um dos rostos que pode vir a público e falar sobre isso. Estarei em um dos shows...
No Brasil?
Eu não sei se é o do Brasil, acho até que não, mas adoraria ir para lá. Eu com certeza ainda vou passar por lá! [No dia do Live Earth,] Provavelmente estarei em Londres.
Basicamente, o que vou fazer por lá é ajudar a falar das coisas. Ajudar na campanha do Climate Crisis Coalition a informar as pessoas como elas podem ajudar, o que elas podem fazer no seu dia-a-dia para ajudar a mudar o cenário para onde caminhamos.
E ainda há esperanças?
Eu acredito que sim! Você tem que acreditar que há esperanças. Se você desistir disso, você desiste de tudo.
Mas não é tarde demais?
Não pense dessa forma! Eu já fui assim. Já fiquei dando de ombros e pensando "todos nós vamos morrer... oh deus, por quê?" (risos) Eu não quero morrer. O lance é que as coisas não vão mudar de uma hora para outra.
Tudo isso é muito maior do que se vê hoje. Se as calotas polares se derreterem, isso vai mudar a vida de todo mundo. Teremos refugiados climáticos. Se você olha para a África, a maioria das pessoas que estão em campos de refugiados são por motivos políticos. É resultado de guerras civis, que são conseqüência de problemas climáticos. Não há água, não há comida e eles têm de ir para onde há o mínimo para sobreviver. Se não cuidarmos das coisas agora, isso vai acontecer no mundo todo. Pegue por exemplo o que aconteceu com o Katrina e o tanto de gente que ficou desabrigada e aumente para todas as cidades costeiras do mundo. Vai matar muita gente. Vai ter muito mais gente desabrigada. Vai mudar o mundo como o conhecemos hoje!
É algo que temos que pensar. Esta é a verdade inconveniente que ouvimos. Eu moro na praia e não quero isso! (risos) Nós precisamos de mais do que apenas pensar a respeito. Temos de fazer algo! E tudo o que temos de fazer é muito simples. Não são coisas impossíveis. É fácil, como trocar uma lâmpada, ter um carro menos poluente, comprar produtos recicláveis. É desperdiçar menos. Se você não quiser fazer tudo isso de uma hora para outra, você já vai ajudar bastante adotando uma dessas novas rotinas. Se todo mundo mudar uma coisinha, já vai ajudar a melhorar.
Mas você acha que as pessoas vão até lá porque estão envolvidas com esta preocupação ecológica, ou porque querem ver um bom show e talvez encontrar uma atriz famosa como você?
Não adianta mentir... o impulso inicial é fazer as pessoas irem até lá por causa da música, mas é uma pegadinha! (risos) Quando você estiver lá... É como a bruxa de Joãozinho e Maria. Nós oferecemos os doces e falamos que a casa é feita de biscoito e daí os pegamos de jeito. (risos)
É como se fala com este público e chama a atenção deles. Eu me sinto feliz de ser uma dessas pessoas que atrai a atenção dos outros na minha direção, para que eu possa dizer tudo isso para eles. Mas eu também vou participar da guerrilha, entregando folhetos para que as pessoas leiam mais sobre o projeto. A verdade é que isso tem que ser algo para as massas. Tem que ser político. Tem que ser colocado em todas as nossas constituições. Tem que ser mais importante do que qualquer outra coisa que estamos fazendo.
A esperança é que as pessoas vão se tocar disso e ver que isso é importante. Quando eles perceberem que está funcionando, vão dar continuidade. Tudo ao nosso redor está mudando. Não é mais um fato isolado. Em todos os continentes as coisas estão diferentes. Se conseguirmos produzir mudanças que possam ser vistas agora, isso vai impulsionar mais pessoas a mudar também. Quanto antes conseguirmos fazer as pessoas se mobilizarem, mais rápido vamos ver as diferenças.
E ainda temos as crianças. Elas têm muito poder. São consumidoras. Elas podem dizer o que querem ou não e as pessoas que produzem vão ter que se curvar a elas. Se elas quiserem produtos ecologicamente corretos, feitos com material reciclável, não tóxico, que seja movido a um combustível não poluente... eles podem pedir tudo isso e serão atendidos.
Você vai ter filhos?
Nossa! De onde veio essa pergunta? (30 segundos de risos) Só sei que eu não vou começar a parir ogros carecas verdes. Você vai ter filhos?
Eu não sei. 20 anos atrás era uma resposta óbvia, hoje em dia você tem que pensar muito.
Eu acho que hoje as pessoas pensam mais sobre isso. E isso é parte da questão. Temos de pensar quantas pessoas cabem no planeta. Temos de pensar no mundo como uma conta no banco. Nós temos todas essas contas que temos de pagar, com água, luz, etc., mais cartão de crédito, carro e tudo mais. Você tem de ter dinheiro para pagar tudo isso e ainda sobrar um pouco para ir ao cinema e ver Shrek Terceiro (risos). Se você não gastar da forma certa, acaba sem nada. É assim que temos de encarar nossos recursos naturais, para que não fiquemos sem.
Você trabalhou com o Rodrigo Santoro no segundo As Panteras. O que você se lembra desses dias?
Ele é um amor. Muito gente boa. Um cara muito carinhoso, bem humorado. Ele era o nosso caçula por lá.