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Omelete Entrevista: Antonio Banderas, o Gato de Botas de Shrek Terceiro

Ator espanhol tem TOC...

MF
17.06.2007, às 22H30.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 22H03

Antonio Banderas tem TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Claro que eu não sou médico e, na verdade, estou falando isso mais para criar polêmica. O fato é que ao entrar na sala onde faríamos a entrevista, a primeira coisa que ele fez foi alinhar os gravadores que estavam jogados na sua frente. No meio da entrevista, acabou a fita de um jornalista do México que participava da mesma entrevista. O cara virou a fita e colocou o gravador mais ou menos onde ele estava. Sem perceber, Banderas continuou falando e alinhou novamente o gravador. Só eu percebi, talvez porque estava sentado bem ao seu lado. Mas foi engraçado. Ah, sim, o espanhol é gente boa, tem aquele sotaque espanhol forte e na entrevista quase toda ficou sussurrando suas quilométricas respostas. A única hora que ele aumentou o volume foi quando uma jornalista espanhola fez uma pergunta para ele em espanhol, que ele sabiamente respondeu em inglês, afinal, tinha gente na sala de outros países. Vamos à entrevista.

Antonio Banderas: Ok, o que vocês querem saber?

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O Gato de Botas e Antonio Banderas

Tudo!

No fim do dia estarei cansado depois de falar pra caramba. Mas é muito fácil defender este filme. Sem grandes tensões ou aquelas situações em que você vem falar de um projeto que ninguém gosta e você quer falar "cara, você está certo", mas o produtor está ali vendo tudo (risos) E daí você tem que torcer seu cérebro para não mentir para si mesmo. Mas Shrek é muito fácil. É um filme que já está no subconsciente das pessoas. Uma história pode ser melhor do que a outra, mas todas elas têm o mesmo parâmetro de qualidade. Jeffrey Katzemberg [o produtor] é a alma deste projeto. Ele não se preocupa apenas com o dinheiro. Ele quer deixar um legado, um filme para ser lembrado na história das animações. E ele conseguiu de forma soberba. Shrek é um filme de contra-cultura, mesmo tendo uma franquia. É por isso que o segundo estava no Festival de Cannes. Se não fosse por isso, você não chegaria lá, no meio da nata intelectual da Europa.

Neste ponto, você deve ter uma boa relação com o pessoal que fez Shrek.

Sim.

Você chegou a considerar o trabalho atrás das câmeras, sei lá, no filme do Gato de Botas ou alguma das seqüências?

Não.

Por que não?

As coisas aqui demoram muito tempo. O diretor tem que ficar focado nisso por uns dois anos, gravando as vozes ao redor do mundo, onde quer que os atores estejam naquele momento. Acho que é muito válido. Veja o caso do Andrew Adamson [diretor dos dois primeiros Shrek], que saiu daqui para fazer Crônicas de Nárnia e hoje já tem outros projetos. Para mim, dirigir é algo "más chiquitito", é algo mais pessoal. Eu gosto de experimentar, que é uma palavra que não pode ser dita aqui sem deixar as pessoas loucas. Foi por isso que abri minha própria companhia. Foi um jeito de libertar este cara que estava dentro de mim, meio que esquecido, e agora está de volta. El Camino de los Ingleses [filme que Banderas dirigiu] me permitiu voltar à minha cidade, voltar ao anos de 1978, voltar a pensar em um tipo de arte que está quase esquecido.

Ano passado, quando decidi voltar a ser europeu, todos os filmes presentes no prêmio Goya [o Oscar espanhol] eram americanos. Todos eram grandes produções, Alatriste, O Labirinto de Fauno, e eu fiquei pensando "não era bem assim que eu me lembrava das coisas" (risos) E isso se repetem em todos os lugares. As pessoas estão atrás do dinheiro. Mas eu ainda acredito naquele modelo europeu ainda feito na França, Itália e Espanha, em que filmes devam ser preservados pelo Estado, sem pensar no paternalismo que vem com isso.

Mas se você pensar no Labirinto de Fauno, é um ótimo filme financiado com dinheiro americano, mas feito por um mexicano, na Espanha, usando atores espanhóis.

Não, não, não... Acho o filme fantástico! Não estava falando da sua qualidade.

É ótimo ter este dinheiro lá para ajudar o cinema local, não?

Claro! Não me interprete mal. O que eu estava dizendo é que quando eu estava pensando em um cinema menor, mais artístico, tudo estava cada vez maior! Eu adoro o Guillermo. Aliás, tem uma coisa que eu tenho que dizer em público: quando eu estava finalizando o meu filme, liguei para ele, porque eu sabia que ele era ótimo na edição, um mago do cinema. O filme estava com quase três horas e ele me deu umas dicas... ele disse que tinha gostado do que tinha visto, mas que precisava juntar umas coisas e começou a falar e apontar "que tal isso, e aquilo", etc. E eu só pensando "caramba, ele está certo". Eu sou muito grato ao Guillermo e adoraria um dia trabalhar com ele como ator.

Como vão estes seus projetos como produtor e diretor?

Eu dirigi dois filmes e tenho um escritório de produção no sul da Espanha.

Por que não aqui em Hollywood?

Porque como diretor e produtor, eu preciso de liberdade. E eu não teria isso aqui. Como produtor, o que estamos fazendo é criar um espaço para colocar atrás das câmeras jovens que chegam com um roteiro embaixo do braço esperando que alguém os atenda. Estamos produzindo projetos de caras muito novos, documentaristas, curtas-metragens, cineastas que querem filmar shows. Dar a estas pessoas a possibilidade de contar uma história de trás das câmeras é a garantia que eles precisam. Nós vamos começar um filme de um jovem chamado Javier Gutiérrez, que é The Summer of the Rock, com as câmeras rodando agora no fim de junho.

Eu mostrei meu filme em Sundance, no Festival de Berlim, Guadalajara e agora vamos para a Seattle. Estou muito satisfeito com o resultado de El Camino de los Ingleses e este é um aspecto meu que gostaria de desenvolver mais.

Como ator, você não tem esta liberdade?

Como ator é bem diferente. Existe uma outra palavra para definir o ator, que é "intérprete". Eu acho ela mais correta, porque é isso o que você está fazendo, você está interpretando a idéia dos outros. Às vezes, você compartilha dessas idéias e faz delas suas também, mas nem sempre isso acontece. Você é um profissional, então vai lá e faz o que te pedem. Como diretor, é um trabalho completamente diferente. Eu nunca aceitaria fazer filmes como em Hollywood, que eles exigem direito à edição final. É por isso que eu decidi montar esta companhia no sul da Espanha. Com menos dinheiro, mas mais liberdade.

Quais são as diretrizes básicas para a sua produtora?

Apesar de ser sócio da produtora, o que me permitiria tomar decisões sozinho, eu prefiro chegar aos cinco membros da companhia e me sentar com eles para ler as pilhas de roteiros que recebemos. Alguns deles são muito bons e outros tantos são muito ruins. Assim vamos separando e quando achamos algo bom, fazemos uma votação. Foi assim que escolhemos The Summer of Rock e o seu diretor.

E na sua companhia, você tem também pessoas vindas da Argentina, Chile, México... ou apenas espanhóis?

Na Green Moon Spain, somos todos espanhóis.

Como ator latino aqui em Hollywood, que tipo de dica você pode dar para outros atores?

Não apenas para atores latinos, mas para atores em geral, indiferente dos seus países, eu diria: goste do que você está fazendo. Não trabalhe pensando nos resultados. Não se prostitua por algo que você não acredita. Não se prostitua para conseguir um Oscar. Senão, é melhor procurar outro trabalho. Você tem que gostar de contar histórias. Você deve estar 100% comprometido nisso.

Ontem, quando cheguei aqui, encontrei Frank Miller ali na piscina e ele falava que estava preparando Sin City 2 [Nota do Editor: esta entrevista foi feita no início de maio, antes do próprio Miller confirmar o adiamento do filme]. Você vai participar deste projeto?

Eu não sei! Todo mundo fica me perguntando isso. Eu já fiz seis filmes com Robert [Rodriguez] e não sei qual a dificuldade dele pegar o telefone e me ligar. Ele é assim. Uma das vezes que trabalhamos juntos, eu estava em Paris, filmando com Brian de Palma, e ele me ligou "E aí, quer fazer outro Desperado?" e eu "Quando?", e ele me fala "Em duas semanas." (risos) "Duas semanas? Mas como é o roteiro?", perguntei. E ele diz "Eu não tenho roteiro ainda. Estou correndo com o pessoal do estúdio para conseguir o dinheiro". "Como assim não tem roteiro? Faz o seguinte, me ligue depois, quando conseguir a grana", eu falei para ele... e ele me ligou no dia seguinte, falando que tinha o dinheiro e me esperava em duas semanas no México. Este é o Robert! Se ele precisar de mim, ele vai me chamar um dia antes. hahahaha

Mas eu adoraria fazer Sin City. Principalmente para dar continuidade a esta relação que eu adoro. Nos divertimos muito quando trabalhamos juntos, alguns bem sucedidos. É uma ótimoa colaboração.

Existem outros diretores com quem gostaria de trabalhar de novo?

Muitos! Muitos! Não dá nem para dizer.

E como diretor?

Também! Adoraria trabalhar com meus heróis, DeNiro, Pacino, Hoffman... estes caras que estão aí desde que eu tinha 14 anos. Mas estes caras, você não dirige. Você só fala para eles o que você quer, o estilo do filme e deixa rolar.

Qual é a parte dificil de dirigir Antonio Banderas?

Eu acho que sou muito fácil de dirigir. Especialmente depois que eu dirigi. Sei os problemas que o diretor enfrenta. Eu tento ajudá-los, ficar ali para o que eles precisarem de mim. Eu quero fazer igual àquele filme que vi na noite passada. A única coisa que eu quero saber de um diretor é por que ele me chamou. Converso muito, até descobrir o que ele tem em mente. E como diretor, eu tento dar aos meus atores muita liberdade, compartilho com eles todas as etapas do processo, o que nem todos diretores fazem. Tem muita gente que tem medo disso, não mostram o que já gravamos, coisas desse tipo.

Em El Camino fiz muito isso e foi espetacular. Como estávamos todos filmando em Málaga, eu não ia para casa. Queria ficar junto com eles. Acabei montando a sala de edição no hotel. Então, todo dia eu os chamava para mostrar o que tínhamos feito e preparar para o dia seguinte. Nós costumávamos terminar as filmagens às 3h da tarde de sábado, então às 5h da tarde estavam todos no meu quarto e ficávamos até as 4h da madrugada vendo tudo o que tínhamos feito naquela semana, criticando o nosso trabalho. Mostrava também a música e outras coisas que estava pensando. Então, no fim do dia, eles não tinham apenas aprendido sobre o seu personagem, mas como um filme é feito e isso é muito importante, pois ajuda a respeitar todo mundo que está trabalhando ao redor deles. Eles ficam sabendo o que um chefe de departamento está fazendo.

Recentemente, você trabalhou com a atriz brasileira Sônia Braga, em Bordertown, como foi trabalhar com ela?

Neste filme nós fizemos só algumas cenas juntos, mas eu já conhecia Sônia antes de trabalhar com ela neste filme. Nós nos conhecemos há muitos anos, em Nova York. Nos conhecemos através do Alfonso Arau, que ia fazer um filme. Fomos até o hotel onde ele estava para conversar com ele e depois, como ela tinha que ir para o centro e eu também, perguntei se ela queria rachar um táxi e ela falou "está uma tarde linda, vamos andando". E caminhamos tipo uma hora, conversando, dando muitas risadas. Então foi ótimo revê-la.

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