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Omelete entrevista: Álex de la Iglesia, diretor de Crime ferpeito

Omelete entrevista: Álex de la Iglesia, diretor de Crime ferpeito

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27.04.2006, às 00H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 04H08

Crime ferpeito
Crimen ferpecto

Espanha/Itália, 2005
Comédia/Policial - 105 min

Direção: Álex de la Iglesia
Roteiro:
Jorge Guerricaechevarría,
Álex de la Iglesia

Elenco: Guillermo Toledo, Mónica Cervera, Luis Varela, Fernando Tejero, Kira Miró, Enrique Villén, Alicia Andújar, Eduardo Gómez, Javier Gutiérrez, Montse Mostaza, Gracia Olayo, Isabel Osca, Rosario Pardo


Alex de la Iglesias vem sendo apontado como o sucessor natural do diretor Pedro Almodóvar. Além de serem espanhóis, o cinema de ambos tem pontos em comum. No Festival do Rio 2005, ele esteve presente na sessão de gala de seu novo filme, Crime ferpeito (2005), e conversou animadamente com a platéia. Na manhã do dia seguinte, de forma menos cerimoniosa, concedeu uma entrevista ao Omelete. Desta vez, ele preferiu ser conversar à beira da piscina, bebericando. Ao nosso redor estavam as crianças, brincando, espirrando água para todos os lados. O cara realmente gosta de um cenário inusitado.

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Seu filme é um dos representantes do cinema Espanhol esse ano no Festival do Rio. Como você vê a indústria cinematográfica espanhola nesse período de tempo?

Alex de la Iglesias - Na Espanha eles andam dizendo que não é uma boa época, que não se está produzindo muito. Mas eles sempre dizem isso (risos). Eu li um artigo em uma revista de esportes que dizia que o cinema espanhol está em crise e o esporte também. Eu acho que estamos em uma boa fase porque você tem uma diversidade de filmes e de diretores fazendo cinema no país. E fazendo bons filmes, tanto os mais antigos, como os mais novos.

Sobre o que se trata seu último filme Crime Ferpeito?

É um filme sobre relacionamentos nos tempos estranhos em que estamos vivendo.

O final de Crime Ferpeito é bastante sarcástico ao colocar na moda vestimentas de palhaços. Tem algum motivo em especial?

Eu coloquei as pessoas vestidas como palhaços porque acredito que todos somos palhaços. Eu sou um palhaço, um cara tranqüilo, com um grande sorriso no rosto. O palhaço é como as pessoas, e nós somos estúpidos porque sempre tentamos imitar algo. É como o cara que quer ser Frank Sinatra e no final acaba se transformando em estúpidos como Tony Bennett (risos).

Além dos palhaços, também tem gente vestida de uma maneira bem cafona. Você acha que o mau gosto pela opção da tristeza está presente na mídia em todo mundo, inclusive aqui no Brasil?

Bom, eu gosto de ser um cara contente. A única maneira de sermos alguma coisa é não apagando a nossa esperança de fazermos o que gostamos. Eu preciso fazer filmes para tentar ser feliz. Esse tipo de filosofia sarcástica de tristeza é difícil de acontecer aqui no Brasil. Vocês aqui têm areia, belas garotas, é difícil ser triste aqui.

Mas tem algo sobre a feiúra também no filme. Há seqüências em que a protagonista é ignorada por sua aparência. Por que resolveu abordar este assunto?

É porque eu sou a Lourdes (personagem feiosa) e também tenho um pouco de Rafael (personagem galante). Eu me lembro de quando estive na Tailândia de férias, na praia com um amigo, à noite nós dançávamos de uma maneira tão ridícula que não conseguíamos nada com as garotas. No final das férias, meu amigo perguntou para as meninas o que achavam de mim e elas disseram: "que amigo, aquele feio?" (risos). Eu vivi esse tipo de coisa por toda a minha vida.

Como foi desenvolver o personagem Rafael?

Quando pensamos em um filme, Jorge e eu adoramos o processo de criar este bandido. A audiência espera que o cara mal pague pelo que fez e a solução está nos filmes da década de trinta. Você pode colocar o bandido roubando pessoas, enganando mulheres, matando outros seres, mas no final ele deve pagar pelo que ele fez. Você tem um cara com uma péssima moral, que tem mulheres à sua volta, que quer possuir coisas caras, morar em um castelo, trabalhar apenas com pessoas bonitas. É uma máscara. Dentro do seu mundo é tudo perfeito e ele não mede as conseqüências de seus atos.

Eu vi em seus projetos algumas referências de filmes antigos como os de Jerry Lewis, quando a multidão invade o shopping no dia de promoção e também pude perceber uma certa influência do estilo de Hitchcock, na parte do suspense. Foi seu objetivo colocar essas referências?

Na verdade, eu pensei na cena em que Obelix invade Roma. Eu diria que é perfeito (risos). Mas existem essas influências e outras também.

Como você vê esse seu estilo particular de fazer filmes?

Eu amo fazer filmes loucos com idéias loucas, mas tecnicamente eu odeio fazer coisas estranhas. Eu adoro os filmes clássicos americanos, a maneira de filmar, as tomadas. Eu sempre tento fazer os meus filmes seriamente. Eu acho que a linguagem de suspense que é mais tecnicamente perfeita é a de Hitchcock. Falo isso no sentido da estrutura e a maneira de filmar. Eu gosto de filmar coisas diferentes e interessantes para mim, mas o faço de maneira bem séria. Eu não gosto apenas de fazer coisas estranhas.

Você lê as críticas de seus filmes?

Na Espanha eu sempre leio, mas na Europa e na América não. Lá na Espanha as críticas sempre são mais ou menos. Eles acham que se eu quero fazer uma comédia, que devo fazê-la de modo intenso, e não é esse tipo de trabalho que faço, misturando humor com tragédia e violência. Na Espanha, eles querem sempre rotular o diretor como apenas conhecedor de um gênero. Você tem várias opiniões diferentes nas críticas, que chega a ser chato.

Você já percebeu ter sido influenciado por críticas ou por idéias de outras pessoas na hora de fazer seus filmes?

Eu trabalho há 15 anos fazendo cinema e normalmente não penso sobre os meus filmes, mas provavelmente isso já deve ter acontecido. Você não pensa enquanto faz amor, você tenta fazer e não pensar. Eu só penso em meus filmes quando tento achar uma resposta para alguma questão. Eu não acho que seja uma boa idéia pensar durante a criação, eu sou um artista desenvolvendo o meu estilo.

Muitos críticos comentaram de você fazer parte de uma nova geração de diretores como Sam Raimi, Peter Jackson. Mas eu li que você não concorda com essa idéia. Por quê?

Eu adoro Sam Raimi e Peter Jackson, mas eu não acredito em gerações, eu não acredito que seja necessário fazer parte de um grupo de diretores. Nós estamos sempre sozinhos. Eu apenas tenho conhecimento de pessoas que filmam pelo mundo, suas histórias, mas não os conheço bem.

Mas isso também ocorre no mercado Espanhol? Você não se acha parte de uma geração de diretores espanhóis?

Se você pensar em relação à arte, eu acho que faço parte de um grupo que faz o mesmo tipo de cinema que eu faço, e nesse grupo se incluem pessoas muito jovens e eu estou localizado no meio.

Você já teve alguma proposta de algum estúdio norte-americano para filmar lá?

Eu estive em Hollywood para conversar. Nós tínhamos a idéia de fazer um grande filme sobre um cara que não consegue ver o inferno, porque ele não está no ar e sim aqui, onde vivemos, à nossa volta. O nome seria Think about Disney. Eu falei com a Fox, a Paramout, a DreamWorks, e eles disseram que adoram meus filmes, meu trabalho, mas que não era o caminho certo.

Você também esteve lá para ver a possibilidade de dirigir a versão para as telas de Doom, um jogo de videogame?

Eu adoro esse jogo e fui até Hollywood para ver se havia a possibilidade de dirigi-lo. Nós tivemos 15 minutos de papo, eu acho que foi na Universal, e disse que teria vontade de fazer um filme como Alien gastando aproximadamente 15 milhões de dólares, porém com muitos demônios. Eles disseram que seria impossível fazer um filme desses apenas com essa quantia de dinheiro.

Qual o seu próximo projeto?

Será um filme sério, de suspense e não uma comédia. Será um filme sobre crimes acontecidos em Oxford, sul da Inglaterra. O autor do livro é Iermo Martinez. A história é sobre pessoas que trabalham com lógica e matemática e as estatísticas relacionadas aos crimes.

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