O Senhor dos Anéis: Entrevista exclusiva - Christopher Lee
Entrevista exclusiva: Christopher Lee
![]() Saruman é o senhor de Orthanc, uma das "duas torres" do título |
![]() Christopher Lee o define como um "herói maléfico" |
![]() Ao lado de Grima Língua de Cobra... |
![]() ... o mago é um tecnocrata, que não mede esforços para exterminar os homens |
![]() O Rei Theodén, na parte em que é interpretado por Christopher Lee |
Entrevistar Christopher Lee, o Saruman de O Senhor dos Anéis, se provou uma das tarefas mais difíceis até então. Não porque ele seja esnobe ou cheio de estrelismo. Pelo contrário, ele é super educado, gentil e, acima de tudo, culto! Se existe um sinônimo que o resume é experiente. Ele é do tipo de pessoa que vai colando uma idéia na outra, mesmo sem fazer muito sentido, algo que só um artista que está trabalhando há quase 70 anos pode ter. No fim, já com o microfone desligado, ele falou que se encontrou com Alfonso Cuarón, o diretor do próximo Harry Potter, mas negou veementemente que tenha sido convidado para o papel de Dumbledore.
Você está trabalhando em algum filme atualmente?
Christopher Lee: Não. Se eu estivesse trabalhando, não estaria aqui. Eu gravei na Dinamarca, não faz muito tempo, as canções da Barbárvore. Não tem nada a ver com o filme. E tenho viajado bastante também nos últimos tempos. Ganhei um prêmio pelo conjunto de minha obra das mãos de Mikhail Gorbachev.
E você vai ser condecorado aqui na França, não é?
CL: Sim. Eu pensei que ninguém soubesse disso.
Você gosta deste tipo de prêmio?
CL: Claro! E neste caso, é ainda mais especial, pois é um prêmio artístico internacional, resultado de 65 anos de trabalho, vários deles desenvolvidos aqui. Eu trabalhei muito aqui na França, em francês. Embora o último filme que eu fiz aqui tenha sido em 1989, chamado La Révolution française. Quando as pessoas me perguntam que papel eu fiz, respondo o personagem mais importante da revolução francesa. E as pessoas começam a chutar: Danton? Robespierre? Não. Mas aí vai uma dica: todos o conheciam, especialmente em Paris, pois o viam todos os dias. Conheciam sua cara e o que ele fazia.
A guilhotina?
CL: Exato!
Você vai receber o prêmio das mãos de Chirac [primeiro ministro francês]?
CL: Não. É um prêmio do Ministério da Cultura da França. Mas prêmios não são importantes pela pessoa que te entrega, mas sim pelo que eles representam. A não ser pelo prêmio russo, que foi entregue por Gorbachev. Ele foi uma das pessoas que mudou o mundo no Século XX.
Você não se importa de fazer sempre papel de vilão?
CL: Existe uma expressão em francês que explica mais ou menos o que eu sinto: héros maléfice [herói maléfico]. Para mim, a palavra que mais importa é herói!
A maioria dos personagens que interpretei são héros maléfice. Mas o que as pessoas se esquecem, é que tudo isso não passa de diversão. Cinema é um meio de entretenimento. Alguns filmes conseguem fazer isso bem, outros não. Filmes em que você vê tudo, nada é deixado para a imaginação, não têm graça. Há filmes que você sabe que vai ter uma guerra, com sangue e corpos voando e você sabe quem vai vencer.
As duas torres tem uma batalha.
CL: Uma enorme batalha! Mas quanto de sangue você vê na tela? É o que você não vê que torna mais interessante. Por isso que Hitchcock foi tão grandioso. Por isso que O Bebê de Rosemary (Rosemarys Baby, de Roman Polanski - 1968) é brilhante! Tem gente que fala para mim Você lembra dos olhos do bebê? Olhos amarelos, garras, rabo!. Eles viram tudo isso... na mente deles.
A sugestão é um dos motivos que faz As duas torres um ótimo filme. Os personagens de Liv Tyler e Viggo são tão graciosos, tão belos e o amor que Arwen tem por Aragorn fará com que ela fique ao lado dele mesmo quando ele morrer. O filme não mostra ela dizendo que vai ficar e viver para sempre, mas você vê as coisas acontecerem.
Ser imortal deve ser a maior maldição de todos os tempos. Tem uma história que fala que quando Cristo estava carregando a cruz para o calvário, um homem cuspiu nele. Jesus diz eu vou agora para a minha vida futura, você vai viver para sempre. E séculos depois, ele ainda é lembrado como a pessoa que cuspiu em Cristo. Ele nunca vai morrer.
Seria este o tema principal de O Senhor dos Anéis?
CL: Não. O tema principal deste livro é esperança e mostrar que os bons sempre vencem. Há heróis neste livro, pessoas normais que são muito mais do que aparentam. Frodo e Sam não são homens, mas os pequenos são heróis. Aragorn é um herói. Os elfos não são homens, mas são heróis. Os anões também são heróis. Até mesmo Gollum, que foi amaldiçoado pelo seu Preciosssso e tem toda aquela batalha magistral entre bem e mal dentro de si, é um herói.
OSdA é uma história sobre a batalha do bem contra o mal. Tem muita coisa bíblica e religiosa, mas há também algo político. Alguns descrevem meu personagem como um tecnocrata. O que eu até entendo, porque Saruman cria os Uruk-hai.
Qual seu personagem preferido na série?
CL: Acho que Sam é o grande herói da história. Ele é o cara comum. Sam é o filho de um jardineiro. É o tipo de pessoa que você encontra em todas as guerras. Nada parece que o tira do sério. Tem uma frase que li outro dia que explica um pouco o filme: o que as pessoas querem ver neste filme, não é heroísmo, mas sim heróis incorruptíveis.
Já Gollum é extraordinário. Todos são, na verdade. Você percebeu que o Rei no começo sou eu? Quando Théoden está sentado no seu trono, cansado e velho e com Língua de Cobra sussurrando ao seu ouvido, aquele sou eu, porque eu controlo o Rei. Daí Gandalf chega e literalmente expulsa Saruman de seu corpo.
É verdade que você conheceu Tolkien?
CL: Sim.
Você acha que ele gostaria do filme?
CL: Claro! O espírito de Tolkien estava ali o tempo todo.
Como você recebeu os rumores de que você poderia interpretar Dumbledore no próximo Harry Potter?
CL: Foi um comentário de mau gosto porque tudo começou apenas três dias após a morte de Richard Harris e não há uma única palavra verdadeira sobre isso. Começou na internet, daí vieram os jornais, TV e de repente estava nas ruas. A verdade é que ninguém nunca me convidou para assumir o papel.
Você aceitaria?
CL: Sim. Mas o interpretaria de um modo diferente.




