Depois de assombrar a Catalunha e o México, com uma evocação dos cânones do terror, O Diabo Mora Aqui, produção de R$ 200 mil rodada no interior de São Paulo, enfim trouxe seu olhar sobre a Maldade para o Brasil em uma projeção que mobilizou a 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, na madrugada de sábado. A projeção, coroada por uma ovação popular nos minutos finais, serviu de "esquenta" para a carreira nacional deste thriller pingando a sangue sobre o destino de dois casais jovens em um casarão colonial. Uma figura chamada Barão do Mel e um defunto saído da terra sedento de morte garantem tensão ao longa-metragem dirigido por Dante Vescio e Rodrigo Gasparini. Lá fora (e agora aqui) o filme vem arrebanhando elogios (e fãs) sobretudo pela fotografia de Kauê Zilli.
"No Brasil, ou o gênero de terror caminha para algo com cara de 'filme de arte', no qual o medo é abandonado em nome de um estilo, ou ele caminha para algo trash", diz Vescio. "Tentamos fazer algo diferente, entre essas duas vertentes, focado no horror, a partir das referências que temos", finalizou. "A proposta era tentar fazer na tela, no Brasil, aquilo que a gente gosta de ver em matéria de terror", explicou Gasparini.
Ecos do passado escravocrata brasileiro alimentam a porção fantasmagórica de O Diabo Mora Aqui, centrando-se nos rituais para a libertação de um bebê morto ao nascer e no ódio ancestral de um escravo (Sidney Santiago) vítima de humilhações nas mãos do senhor do casarão, encarnado com pelo catarinense Ivo Muller, ator que vem surpreendendo plateias no exterior desde sua aparição em Tabu(2012), do português Miguel Gomes. Ao longo de 79 minutos de viradas contínuas, o público de Tiradentes se deparou com uma nova abordagem brasileira para o gênero, mais próxima das referências de nosso folclore regional.
"Nosso esforço foi pegar um formato já conhecido - adolescentes numa casa - e dar a ele um tratamento brasileiro, uma cor local", disse o produtor M. M. Izidoro, que levantou O Diabo Mora Aqui sem a ajuda de editais nem de incentivos públicos. "Há algo de familiar, mas exposto de uma maneira nova... nossa". Assista abaixo ao teaser de O Diabo Mora Aqui:
Neste domingo, Tiradentes recebe três filmes premiados no Festival do Rio 2015: Jonas, de Lo Politi, Campo Grande, de Sandra Kogut, e Quase Memória, de Ruy Guerra. Até o momento, as produções mais (bem) comentadas, entre os títulos já exibidos, fora O Diabo Mora Aqui, foram Prova de Coragem, de Roberto Gervitz (sobretudo pela atuação vigorosa de Mariana Ximenes) e os curtas mineiros Bili com Limão Verde na Mão, um musical com toques de animação de Rafael Conde, e Um Pouco a Mais, um mergulho do diretor Aleques Eiterer no universo de solidões do escritor Luiz Ruffato.
Nesta segunda, começa a seção competitiva de Tiradentes, chamada Aurora, na qual concorrem sete longas: Aracati, de Aline Portugal eJulia de Simone (RJ/CE); (o esperadíssimo) Animal Político, de Tião (PE); Taego Ãwa, de Marcela e Henrique Borela, Banco Imobiliário,de Miguel Antunes Ramos; Filme de Aborto, de Lincoln Peres; Jovens Infelizes ou Um Homem Que Grita Não É Um Urso Que Dança, deThiago B. Mendonça; e (o primeiro em ordem de projeção) Índios Zoró - Antes, Agora e Depois, de Luiz Paulino dos Santos (PE). O encerramento da Mostra será no dia 30, quando serão conhecidos os ganhadores, em paralelo a uma projeção do thriller de suspense paranaense Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba, coroado com o troféu Silver Zenith no Festival de Montreal, no Canadá, por sua excelência narrativa.