Filmes

Entrevista

O Amante Duplo | "É curioso que mostrar corpos nus gere incômodo", diz o diretor François Ozon

Cineasta fala sobre seu novo filme exibido no Festival Varilux

18.06.2018, às 21H32.

Faltam dois dias para acabar o Festival Varilux, nossa maratona anual de filmes franceses, cuja edição de 2018 viu o suspense erótico O Amante Duplo, de François Ozon – que estreia nesta quinta (21), no circuito nacional – virar um fenômeno de público, lotando uma sessão atrás da outra. Indicado à Palma de Ouro de Cannes em 2017 e visto por 340 mil pagantes em solo francês, o novo longa-metragem do diretor de 8 Mulheres (2002) mistura tensão, sexo e mistério, indo de Alfred Hitchcock a Brian De Palma em seu olhar erótico sobre o instinto de preservação humano. O sucesso do filme por aqui no Varilux ficou ainda maior quando veio à tona a polêmica de que o governo brasileiro confiou a ele uma classificação indicativa de 18 anos, enquanto na França ele era liberado para menores a partir de 12 anos.

Divulgação

“É curioso que expor corpos nus fazendo sexo ainda gere incômodo. Mas a minha questão aqui não era provocar pelo sexo e sim pela questão da autodescoberta: da consciência de quem somos”, disse Ozon ao Omelete. “Temos alguém aí que busca se reconhecer para além das fronteiras de seu desejo, numa relação com dois homens iguais”.

Na trama, a atriz Marine Vacth, na pele de uma funcionária e musa, embarca numa louca jornada de prazeres com seu psiquiatra. Seu astro, o belga Jérémie Renier, ator que costuma trabalhar com os Irmãos Dardenne (A Criança), visitou o Brasil nos primeiros dias do Varilux (de 7 a 10 de junho) para defender a estética de Ozon e conversar sobre seu personagem. Ele vive o médico que cai de amores por uma paciente, Chloé (Marine), sem se dar conta do quão perturbadora é sua psiquê. Chloé, abalada por conflitos internos, busca a ajuda de um psiquiatra a fim de parar de somatizar (com dores de estômago) suas angústias. Suas primeiras sessões com o Dr. Paul (Renier) são ótimas até que ele se apaixona por ela. O amor é mútuo e rende um namoro feliz... até ela saber que ele tem um irmão gêmeo - ainda mais sedutor, e perigoso. Aí começa uma sequência de cenas de mistério com uma pitada de Freud.

“Existem muitos cânones do suspense do meu lado nesta produção, mas eu não filme cheio de reverência a eles, eu busco a minha própria voz, expressando a fronteira entre o desejo e o medo”, diz o cineasta, que já tem um novo longa quentinho pra sair do forno: Alexandre, sobre um reencontro de velhos amigos. “O cinema francês é muito distinto e, como gosto muito de filmar, uso os dispositivos legais que o meu país tem para fomentar minhas ideias”.

Poucos filmes do Varilux deste ano geraram tanto boca a boca quanto o dele, só o desenho A Raposa Má, a comédia romântica Os 50 São os Novos 30 e o drama Custódia. Ano passado, Ozon também reinou no festival com Frantz, estrelado por Pierre Niney.

“A cada ano, o festival se esforça para ser uma vitrine representativa da produção recente da cinematografia francófona. Nesse sentido, mais uma vez, nossa seleção reflete a diversidade e contemporaneidade da criação audiovisual francesa”, explica Emmanuelle Boudier, diretora e curadora do Varilux, que ocorre simultaneamente em 63 cidades do Brasil.

“Trouxemos os trabalhos de novos cineastas como Custódia, de Xavier Legrand, premiado em Veneza, e O Poder de Diane, primeiro longa de Fabien Gorgeart, que olha de maneira original para o tema da maternidade e dos novos modelos familiares. E trouxemos filmes de gêneros não muito comuns no cinema francês, como o longa de Dominique Rocher chamado A Noite Devorou o Mundo, que é um filme de zumbis, com um toque francês, fazendo ao mesmo tempo uma sátira social”.

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