O Agente da UNCLE | Um dia com o Superman e o Cavaleiro Solitário
Visitamos cinco cenários do set do filme dirigido por Guy Ritchie
Hoje estamos no fim da primavera aqui em Londres e o sol nasce umas 4h45 e só se põe depois das 21h15. Mas no dia 1º de novembro de 2014, a situação era bem diferente. Quando chegamos ao Estúdio Leavesden (o mesmo da Harry Potter Tour e que já havíamos visitado durante as filmagens de Batman - O Cavaleiro das Trevas), o relógio mal marcava 17h e já era de noite. Cenário perfeito (e frio!) para filmar cenas noturnas no topo de prédios (cenográficos) de Berlim Oriental.
Bem-vindo ao set de O Agente da UNCLE (The Man from UNCLE), novo filme de Guy Ritchie (Sherlock Holmes, Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Snatch - Porcos e Diamantes), estrelado por Henry Cavill (O Homem de Aço), Armie Hammer (Cavaleiro Solitário) e Alicia Vikander (Anna Karenina). O projeto é uma adaptação da série de TV dos anos 1960 sobre um agente da CIA que é levado a trabalhar lado a lado com um espião russo - em plena Guerra Fria!
A visita começou com uma passagem pela oficina da figurinista Joanna Johnston. Foi ela quem primeiro descreveu os personagens, sob o seu ponto de vista: "Solo (Henry Cavill) é mais elegante. Illya (Armie Hammer) não liga tanto para o que está vestindo, mas fica lindo de qualquer jeito. Gaby (Alicia Vikander) entra nesta história sem querer e passa por uma transformação fashion. Hugh Grant foi o Solo do passado, então muito do estilo do Solo vem do personagem dele. Já Elizabeth Debicki é uma das vilãs e é muito sexy e manipuladora. Loira, estilosa e malvada em figurinos monocromáticos."
O produtor Steve Clark-Hall, que trabalha pela quinta vez ao lado de Guy Ritchie, deu o contexto do filme. "Estamos no meio dos anos 1960, com a Alemanha dividida e começamos justamente no Checkpoint Charlie [ponto de imigração entre os lados oriental e ocidental de Berlim]. Para mim, a Guerra Fria é algo recente, mas para muitas pessoas, como meus filhos, é algo que não fez parte de suas vidas, então queremos aproveitar o filme para ensinar um pouco de história também”, disse em tom de brincadeira. "O principal que você precisa saber sobre O Agente da UNCLE é que você tem dois espiões que naquela época estavam em lados opostos da Guerra Fria. Um americano e um russo. O que temos aqui é uma história sobre como eles se conheceram e trabalharam juntos pela primeira vez. No primeiro encontro entre eles, Ilya está tentando matar Solo”, resumiu o produtor.
O designer de produção alemão Oliver Scholl (que fez No Limite do Amanhã, e agora trabalha em Esquadrão Suicida) falou que o segredo do filme é justamente tentar resgatar as aventuras de espiões da época da Guerra Fria, com dois lados antagônicos e tensão. A comparação com James Bond é inevitável e levou a equipe a tomar cuidados especiais. "Estamos falando de um filme de ação, então teremos lutas, tiros, romance e diversão”, disse. “Mas não vamos cair na armadilha que se vê frequentemente nos filmes de hoje, e colocar mais e mais coisas explodindo e tombando. Vamos pegar um outro caminho, com cenas surpreendentes. Não temos orçamento para usar tanta computação gráfica, então não teremos monstros andando pelas ruas de Nova York devorando tudo, mas sim cenas de ação feitas com efeitos práticos”, complementou Clark-Hall.
Enquanto fazia sua pesquisa assistindo à série original, Scholl achou paralelos com outra série da mesma época: Star Trek. "Estamos falando de um cenários retrofuturista, algo que nós consideramos retrô, mas na época era futurista. E nós tentamos pensar no que o público de hoje se interessaria. Vocês verão um pouco disso nos elementos de cena”, disse o alemão. "E temos que lembrar que não é um documentário, então não estamos presos em 1963. E quando falamos de tecnologia, temos que estar um pouco à frente do que se via nas ruas até aquele momento, pois estamos falando do universo de espiões. Temos elementos que representam uma quebra do período e isso funciona. Acho que um bom exemplo é a cena de carros que teremos”, alertou.
Schooll ainda disse que 50% dos sets do filme são locações reais e 50% foram construídos. "Itália foi o nosso maior desafio, em termos de cenários e locações. Sempre que você vai a um país diferente da sua própria base você tem menos tempo para se preparar. E também queríamos marcar bem o contraste entre Berlim e a Itália na história”, relatou.
Por falar em sets montados, visitamos cinco locais que estavam em construção naquele momento em um galpão fechado do estúdio. Sabendo que a tendência na temperatura era só cair (the winter was coming!), eles trabalhavam para filmar apenas interiores nas semanas seguintes.
O primeiro set mostrava o interior de uma grande sala, com um pé-direito altíssimo e enormes colunas, tudo em mármore. É naquele cenário que Victoria (Elizabeth Debicki) vai drogar e torturar Solo. Logo depois saímos andando para o que estava sendo transformado em um navio da marinha britânica. É lá que estará o personagem de Hugh Grant. O terceiro set eram corredores estreitos que ficarão no pé de um castelo de uma ilha fictícia no Mediterrâneo. O local estava sendo preparado para uma das cenas de perseguição do filme. Em seguida partimos para umas cavernas onde haverá mais uma cena de tortura. “Algo mais para o laser de Goldfinger do que a cena da cadeira de Cassino Royale”, brincou o produtor. Por fim, visitamos uma luxuosa loja com mais colunas, janelas arredondadas e acabamentos dourados. É lá que a personagem da sueca Alicia Vikander trocará seu macacão sujo de Berlim Oriental pelo luxo do mundo dos espiões.
Eram sets bem grandes. Clark-Hall disse que só não eram os maiores construídos por eles porque em Sherlock Holmes 2 eles haviam feito um pedaço de um castelo que desmoronava. Apesar do tamanho, cada espaço daqueles levava entre uma e duas semanas para ficar pronto, dependendo da sua complexidade.
E voltamos agora para o topo do prédio de Berlim. Não pudemos subir no local, mas acompanhamos a ação acontecendo na nossa frente e também pelos monitores. O local tinha três guindastes para iluminação, uma grua para uma das câmeras e um quarto veículo que levava o material de cima para baixo. Atrás de tudo isso, três enormes painéis verdes e, no solo, pilhas de espuma para garantir a segurança da cena de ação.
Trata-se de uma sequência do começo do filme, com Solo e Gabi saindo de uma clarabóia enquanto estão sendo perseguidos por Ilya. Após trocas de tiros e uma corridinha pelo topo do prédio, uma tentativa de sinal com uma lanterna que não funciona e é descartada. Para tudo, arruma o set, muda a câmera de posição e ao grito de “ação” a atriz sueca coloca seus braços ao redor do Superman, que elegantemente desliza por um cabo de aço e os dois conseguem fugir por sobre “o muro”. Depois de repetir duas vezes a descida, o set é remontado para que Armie Hammer siga os dois. Sem o mesmo aparato, ele tem de improvisar. Joga, então, sua jaqueta de couro sobre o fio e pula lá de cima, meio desengonçado até, e nada confortável. Depois de alguns takes começa a chover. Hora de parar para tomar um chá quente (Henry Cavil tem sua própria caneca amarela) e conversar com os atores e o diretor.