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Lady Chatterley

Adaptação do livro clássico de D.H. Lawrence ensina o que é erotismo

22.11.2007, às 16H00.
Atualizada em 27.11.2016, ÀS 13H01

Outro dia um membro aqui da Cozinha, cuja identidade será preservada, lembrou que havia uma série erótica que passava no Sexytime do canal Multishow com o nome Contos de Lady Chatterley. Quando D.H. Lawrence escreveu em 1928 Lady Chatterley's Lover, obra transgressora que ficou proibida na Inglaterra por 32 anos, ele não imaginava que seu livro viraria pornô soft.

De certo modo, o filme Lady Chatterley (2006) restitui a dignidade do original, ao mesmo tempo em que o reinventa.

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A co-produção francesa, belga e inglesa do diretor Pascale Ferran recorre a uma estética e uma narrativa classicista para contar em 2h48 como Constance (Marina Hands, de As Invasões Bárbaras), esposa do nobre e empresário Clifford Chatterley (Hyppolyte Girardot), descobriu o amor - e, por extensão, descobriu a si mesma - nos braços do guarda-caças da propriedade campestre dos Chatterley.

Dá para dizer que a busca de Constance pela plenitude começa quando Clifford retorna da Primeira Guerra Mundial em uma cadeira de rodas. Ela ainda não tem consciência, mas ser apenas companheira e abdicar da condição de amante não lhe basta. Um dia, ao se dirigir à cabana do guarda-caças, Parkin (Jean-Louis Coullo'ch), ela o flagra nu, no banho. O corpo parrudo do rude caçador é o completo oposto da fragilidade pomposa de Clifford. Claro que a lady e o empregado não vão se atracar imediatamente - em 2h48 dá para desenvolver a paixão com calma.

O livro de D.H. Lawrence foi proibido na época não apenas por narrar atos de liberdade sexual, mas, principalmente, por mostrar como uma dama da nobreza só conseguia ser feliz ao lado de um "bruto". Ferran se emancipa um pouco do original e não enfoca tanto o lado social da história. Seu objetivo é acompanhar como Constance se transforma à medida em que se desnuda.

Porque Lady Chatterley é nada mais do que o processo de desnudamento da personagem, literal e figurativamente. Em interpretação notável, Marina Hands parte de uma timidez tremenda e chega, no fim, a uma luz contagiante. Para usar uma imagem banal, mas de fácil reconhecimento, é como se Lady Chatterley começasse lagarta e terminasse borboleta. Essa transformação - o literal desnudamento - a câmera de Pascale Ferran acompanha sem perder detalhes.

O que faz do filme uma excepcional leitura do clássico de Lawrence, e não apenas mais um drama-de-época libertino, é a maneira como Ferran filma Marina. A câmera está sempre posta no melhor ângulo, na distância ideal, com o enquadramento exato, para que acompanhemos aos poucos a auto-descoberta da lady. Primeiro, camadas e camadas de pano, planos abertos longe do corpo, "desatentos". Depois, o olhar se aproxima, temos vislumbres de pele. Os movimentos da câmera param de ser fugazes, perdem a vergonha, arriscam o close, no momento em que Constance se deixa tocar.

A isso, um dia, foi dado o nome erotismo.

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