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Kimera - Estranha Sedução - Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Paul Auster de volta às telas

31.10.2007, às 21H00.
Atualizada em 29.11.2016, ÀS 07H03

O escritor, poeta, crítico, tradutor e dramaturgo Paul Auster volta a experimentar a direção de longas-metragens em The Inner Life of Martin Frost (2007), que recebeu o bizarro título Kimera - Estranha Sedução em festivais de cinema no Brasil. Trata-se do quarto trabalho de Auster na função, depois de Cortina de Fumaça, Sem Fôlego e O Mistério de Lulu.

Curiosamente, Auster não tem em seu cinema um átimo sequer da carga dramática de seus livros. Dono de uma obra literária intensa e muitas vezes perturbadora, Auster parece usar a Sétima Arte como "despressurização" pós-romance. Estranhas férias.

the inner life of martin frost

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paul auster

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A idéia ganha força ao analisarmos a própria trama do filme. Um escritor cansado (tema recorrente no trabalho de Auster), depois de seu último e exaustivo livro, aceita passar uns dias no campo, numa bela casa de amigos. Sozinho por lá, seu único intuito é descansar. Mas como sempre acontece como mentes hiperativas quando relaxam, idéias para uma nova história brotam sem aviso. Imediatamente ele recomeça a trabalhar.

Ao acordar no dia seguinte, porém, uma surpresa. Martin Frost (David Thewlis) não está sozinho. Ao seu lado, na cama, e tão surpresa quanto ele, está uma bela mulher, Claire Martin (Irène Jacob), a quem os amigos dele também emprestaram a casa. O que parecia um enorme incômodo, logo se transforma em atração. E Martin (Frost, não Claire) descobre-se inspirado como nunca.

O longa é um romance leve, extremamente agradável, com elementos mitológicos que lembram uma versão light da clássica história de Sandman, "Calliope". Sim. Auster das ruas do Brooklyn, Nova York, explora um certo misticismo fantástico aqui diferente de tudo o que já li dele. Como diretor, no entanto, Auster ainda tem o que aprender. Suas câmeras vez por outra parecem estranhas, deslocadas. E as elipses misteriosas, cortando diálogos ao meio, podem parecer um tanto acovardadas às vezes. O desfecho de determinadas cenas tem que ser totalmente subentendido, o que funciona uma vez, mas não três ou quatro, como ele tenta que funcione.

Mas se ainda não domina as câmeras e coordena direito sua equipe (a edição de Tim Squyres também tem uns saltos estranhos), ao menos ele já sabe dirigir atores. O elenco enxuto faz um bom trabalho, especialmente Jacob, cativante, e os outros dois atores da produção, que aparecem só aos dois terços da fita: O sempre competente Michael Imperioli (Família Soprano), como um encanador aspirante a escritor; e a absurdamente linda e sedutora Sophie Auster, atriz, modelo, cantora e filha do diretor, como musa deslocada do romancista amador. Já Tewlis poderia ter sido mais simpático... sua ranhetice torna difícil aceitar o que Claire viu nele.

Auster pode não ser o gênio no cinema que é na literatura, mas ao menos entretém com inteligência, o que é muito mais do que podemos afirmar da grande maioria dos cineastas em atividade.

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