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Kevin Smith: Uma saída para filmes com debilóides

Kevin Smith: Uma saída para filmes com debilóides

25.04.2002, às 00H00.
Atualizada em 22.12.2016, ÀS 21H00

Smith e Mewes durante as filmagens
de Jay & Silent Bob


Smith e Stan Lee
As críticas ao mais novo filme de Kevin Smith recém-lançado em DVD nos Estados Unidos não são boas; talvez porque Jay and Silent Bob strike back seja protagonizado pela dupla mais improvável do cinema. Jay (Jason Mewes) é um cabeludo loiro que fala sem parar, imitando a ginga dos negros do hip hop. Silent Bob, vivido pelo próprio diretor Smith – e como o nome sugere – raramente emite algum som.

As resenhas falam de um filme superficial e repleto de piadas politicamente incorretas. Não é a especialidade de Kevin Smith. Ele tem sido generoso com as várias tribos dos jovens, aborda questões delicadas e, apesar de algumas personagens preconceituosas, a visão do cineasta é simpática às minorias.

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Os protagonistas de Jay and Silent Bob strike back estão presentes em todos os filmes de Kevin Smith: O balconista (Clerks), Barrados no shopping (Mallrats), Procura-se Amy (Chasing Amy) e Dogma.

Os dois, porém, não dão o tom a esses filmes. Pelo contrário, são contrapontos a uma grande turma de jovens que pensam e falam o tempo todo. Jay e Silent Bob não são muito chegados dos protagonistas, mas sempre estão presentes como testemunhas da narrativa. Às vezes, arriscam algum comentário. Jay vive roubando junk food. Silent Bob tem um olhar altero e se considera um hiper-herói. Sim, ele acredita ter os dons de Batman e até de um jedi.

GALERA QUE PENSA

Kevin Smith é uma mistura de Woody Allen e Tarantino, sem neurose e violência. Seus diálogos são complexos, com palavras pouco usadas por jovens e muito menos pelo cinema comercial. Alinhava pontes entre seus filmes, relembrando, por meio de conversas, os acontecimentos que suas personagens viveram.

Nós nos familiarizamos rapidamente com todos os seus tipos. Temos, a cada filme, a impressão de se tratar de nossa própria turma ou de um primo próximo. Assim como em outras obras recentes do cinema americano, Smith fala de uma nova espécie de família, na qual pai, mãe e irmãos não têm mais lugar garantido.

As personagens discutem o tempo todo suas relações. Nada fica de fora: amizade, sexo, amor, morte. O fantasma é o tédio. Recusam-se a aceitar a cultura oferecida. Falam sobre filmes, música, televisão, enfim todo o estímulo da mídia é filtrado pelas criações de Smith.

ESPANTANDO O TÉDIO

O lançamento em DVD de seu último filme nos Estados Unidos e de Barrados no shopping aqui no Brasil compõem um bom momento para se traçar a evolução do autor nas suas três primeiras películas, uma espécie de trilogia. Deixaremos Dogma para uma outra vez, pois é um filme bastante diferente do restante, repleto de outras pretensões.

Em O balconista, dois amigos e vizinhos de trabalho atravessam um dia inteiro atentos a tudo o que ocorre a seu redor. Qualquer freguês acrescenta algo importante à sua filosofia de vida. Antigas namoradas aparecem. Questões afetivas pendentes são atualizadas em conversas sem fim. Suas histórias desfilam diante dos nossos olhos.

Em momento algum, reclamam de sua condição financeira. É óbvio que ganham um mínimo para sobreviver. Assim está bem. O verdadeiro problema é como aproveitar cada minuto de suas existências sem nunca perder de vista que amizade é a sustentação.

Em O balconista, o cenário apertado, a mediocridade do trabalho (um mercadinho e uma pequena loja de aluguel de vídeos) toma um inesperado colorido, apesar de o filme ser em preto e branco.

VIDA INTELIGENTE É POSSÍVEL EM UM SHOPPING

Barrados no shopping retrata – mais uma vez num só dia – o estilo de vida do interior americano em que a única diversão são estes modernos templos de compras. Nada muito diferente do programa básico maior parte da juventude de São Paulo. A garotada, porém, não é mostrada de forma estereotipada. Não há mauricinhos, nem patricinhas.

As meninas sabem o que querem de seus relacionamentos: são experientes em sexo, não exigem atenção especial. Querem companheiros, algum romantismo e diversão. Os rapazes são mais complicados. Kevin Smith é especialista em quadrinhos. Sabe bem o perfil de garotos viciados em HQ, vídeo game e horas no banheiro lendo no trono. Assim, os garotos vacilam entre a fraternidade entre homens e um futuro com as mulheres que não parece muito atraente.

Pais e policiais são sinônimos. São representantes de uma época de hipocrisias e tolhimento à liberdade de criação. As personagens mais velhas dos filmes de Smith e, especialmente, em Barrados no shopping são patéticas. Merecem o desprezo dos mais novos. Seu estilo de vida não interessa mais.

SEXO E AMIZADE

Procura-se Amy provavelmente é o filme mais maduro de Kevin Smith. Não tem a rapidez dos anteriores. É mais amargo porque já entra na idade adulta. A mediocridade não é aceita pelos jovens que procuram desesperados a redenção pela criatividade – o trabalho com quadrinhos – ou em relacionamentos afetivos mais estáveis – amizade e namoro.

Smith não foge de nenhuma situação. Não há limite. Logo no início, o herói apaixona-se por uma linda gata. Lésbica. Isto não o impede de ir à luta, mesmo que seu novo interesse abale uma amizade mais antiga. É neste momento que fica evidente que o filme fala de um triângulo amoroso.

O diretor sabe que sexo não é para ser discutido e sim feito. Os três resolvem debater sua relação – em uma cena surpreendente – e obviamente nada se resolve. Somente com o tempo notamos que algo se ordenou, embora com o afastamento do trio.

JOVEM NO CINEMA NÃO PRECISA SER IDIOTA

Smith faz um elogio à vida jovem, sem ser específico com faixa etária. Suas personagens podem ser adolescentes ou adultas, mas estão sempre prontas a aceitar novidades e revelações bombásticas. Essencial é a manutenção da crítica. Não se deve aceitar toda a porcaria que o cinema, a televisão ou as lojas oferecem. Pode haver maravilhas em um novo cookie da lojinha do shopping ou – quem sabe? – em um segredo crucial nunca revelado em Guerra nas estrelas. São mistérios que se oferecem à descoberta para quem tiver olhos para ver. A garotada de Smith não faz programas apenas pela diversão.

O diretor parece o tempo todo estar nos dizendo isto: prazer, criatividade e uma vida mais engraçada não dependem de grana ou posição social. Vive-se melhor quando se mantém uma amizade e a crítica permanente a tudo que se apresenta.

O que ele faria com Casa dos artistas em um filme? Uma dica talvez esteja em Barrados no shopping, quando destrói de forma hilariante o equivalente ao Namoro na TV americano.

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