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Entrevista

Julieta | "É um filme que mostra a mãe vulnerável e frágil", diz Pedro Almodóvar

Cineasta define o longa como um trabalho de maturidade

RF
07.07.2016, às 14H04.

Ao definir seu modo de escrever roteiros como o de Julieta, em cartaz no Brasil a partir desta quinta-feira (7), o espanhol Pedro Almodóvar disse que seu principal aliado é um pacotinho de post-its, aqueles papéis autocolantes amarelinhos usados para anotações. Funciona assim: “Quando eu termino de escrever um filme, pego um bolo de post-its e escrevo perguntas variadas em cada um deles, seja sobre o passado dos personagens, seja sobre os caminhos que pretendo adotar na narrativa, e colo um em cada página do script. Cada dia eu vou lá, releio e respondo uma pergunta, tirando pelo menos um post-it por dia. Quando o último deles é retirado, é sinal de que já posso filmar”, disse o diretor em uma entrevista à TV francesa. Esse método, responsável por algo que teóricos e críticos chamam de metamelodrama, foi a base do diálogo entre o cineasta e a literatura de Alice Munro. Dali nasceu uma trama ambientada ao longo de cerca de 25 anos, entre os anos 1990 e os dias atuais, com dois momentos distintos da vida de uma professora assolada pelos reveses do amor, seja o de amante, de esposa ou – o mais letal aqui - de mãe.

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Existem muitos filmes sobre maternidade no cinema e mesmo na minha história, mas este é o que traz a mãe mais vulnerável e frágil, com uma resistência passiva a suas angústias”, disse Almodóvar em Cannes, numa das coletivas de imprensa mais disputadas de todo o evento. “Aqui, eu aposto mais na contenção das personagens, carregando mais nas cores, evitando uma relação de causa e efeito e de causa e culpa, apostando em algo mais sóbrio”.

Sem humor algum e sem bizarrices na linha do realismo fantástico ou do filão ficção científica vistas em alguns de seus últimos trabalhos, como Volver (2006), A Pele que Habito (2011) e Amantes Passageiros (2013), Julieta é apenas um painel dos acontecimentos da vida de uma professora universitária, ao longo de duas décadas e meia. Considerada a beldade nº1 da Espanha hoje, Adriana Ugarte vive a jovem Julieta e Emma Suárez assume a protagonista em sua idade adulta. No início, temos um clima de suspense, que logo se converte em um registro melodramático sobre a relação caudalosa de Julieta com Xoan, pescador vivido por Daniel Grao, que mexe com a libido da jovem. Os dois se juntam e têm uma filha. Mas uma crise se instaura na relação entre Julieta e a menina após uma tragédia (ligada, como não poderia ser diferente ao universo do diretor, ao desejo). Mas nenhum dos contratempos ganha dimensão maior do que os dilemas internas de Julieta, expressando uma virada na obra do cineasta, agora menos interessados em viradas e mais preocupado com traumas psicológicos.

Este é um filme que depende muito da minha maturidade”, diz Almodóvar, hoje com 66 anos. “Eu não sou uma vaca sagrada. Eu não me sinto um velho, mas estou mais experiente. O autor americano Philip Roth costuma dizer que a velhice não é uma doença e, sim, um massacre. Talvez ele tenha razão. E, talvez por isso, eu tenha pensado este filme como uma reflexão acerca das idiossincrasias do Tempo”.

Em resposta ao Omelete, Almodóvar lembra que seu grande amigo brasileiro Caetano Veloso costuma chamar seus filmes de almodramas, pela maneira particular como estes dialogam com a cartilha melodramática.

Meus filmes são muito distintos entre si, mas, se você somar os 20 filmes que eu dirigi ao longo das últimas três décadas, terá uma cadeia de valores com os quais eu me relaciono com a realidade. São 20 pedaços de mim”, explica o cineasta, laureado com o Oscar de melhor filme estrangeiro por Tudo Sobre Minha Mãeem 2000, e agraciado com a estatueta de melhor roteiro da Academia em 2003 por Fale com Ela. “Eu peço sempre ao meu irmão, Agustín, que é meu produtor, assim como peço aos meus amigos, para que, após a minha morte, não autorize nunca uma cinebiografia minha. Minha vida já está contada nos filmes que eu fiz”.    

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