I'm a cyborg, but it's ok - Festival do Rio 2007
Coreano de Oldboy desenvolve uma história de amor em um cenário insólito
I'm a cyborg, but it's ok (Saibogujiman kwenchana, 2006) é o novo filme do cineasta Park Chan-Wook, famoso pela trilogia de vingança (Sr. Vingança, Oldboy e Lady Vingança). Mas quem espera uma produção calcada na violência gráfica com reviravoltas na trama vai se decepcionar. A produção está aquém de seus projetos anteriores, mas isso não significa que a obra não tenha suas qualidades. Chan-Wook desenvolve uma história de amor em um cenário insólito, equilibrando o real com lúdico. Uma espécie de comédia romântica surreal que tem como mensagem o humanismo. Fica evidente que através do amor verdadeiro conseguimos aceitar e entender as diferenças do outro.
Segundo a trama, Young-goon é hospitalizada numa clínica psiquiátrica por acreditar que é uma ciborgue. Ela recusa toda a comida que lhe oferecem, preferindo "recarregar as baterias" através de um transistor, e ainda usa a dentadura da avó e fala com todos os aparelhos eletrônicos. Mas o seu caso não é o único: ela está rodeada de pacientes que têm interlocutores imaginários. Quando o belo e anti-social Il-soon é internado, tudo muda para ela. Não leva muito tempo para que eles se envolvam. Mas a saúde da menina piora cada vez mais.
1
2
O tema inusitado requer paciência do espectador. O roteiro escrito por Park Chan-Wook e Jeong Seo-Gyeong flerta com o imaginário dos pacientes da clínica psiquiátrica. Um jogo cênico que contrasta o real com fantasia. Por sinal os melhores momentos do filme. Toda vez que Chan-Wook embarca no fantasioso, seqüências divertidas e poéticas explodem em fotogramas repletos de significado. São cenas que produzem um diálogo entre o abstrato dos personagens com o concretismo do espectador. Fica claro que os doentes são oriundos de algum trauma, abandono dos familiares ou pressão da sociedade. Chan-Wook demonstra que fugir da realidade através de um universo encantador é uma forma de lidar com as injustiças provocadas pelo mundo real.
Infelizmente, o diretor não tem o mesmo cuidado quando o argumento flerta com o real. Nestes casos, as cenas não parecem tão verdadeiras e destoam da narrativa. As exceções são duas lindas seqüências com os personagens Young-goon e Il-soon. Emociona o momento que Il-soon encontra uma forma de alimentar Young-goon e quando os dois estão no refeitório sendo observados pelos outros pacientes. Fica clara ali uma crítica aos médicos e ao sistema utilizado para curar os doentes. Falta nos profissionais a mesma imaginação que têm os pacientes. Interessante notar também que ambos os personagens sofrem de distúrbios relacionados a uma forte presença de suas mães. Um outro tópico levantado pelo diretor.
Mas vale dizer que os temas propostos pelo filme funcionam devido à ótima escolha do elenco. Com destaque para Lim Soo-Jung no papel de Young-goon e o cantor de música pop coreana Rain no papel de Il-soon. A dupla possui uma química invejável.
Tecnicamente, Park Chan-Wook mantém as assinaturas que o consagrou. O cineasta sul-coreano coloca em prática sua câmera subjetiva percorrendo cenários coloridos com personagens desajustados, entre outros maneirismos. Tudo isso preenchido com a excelente trilha sonora de Jo Yeong-Wook. Chan-Wook pontua a narrativa da mesma forma encantadora que fez em "Oldboy". Um outro recurso interessante surge na seqüência de abertura. Impressiona a forma equilibrada que ele mistura cor, estética e dramaturgia. Percebe-se que desta vez a proposta de Chan-Wook era visual. E nada melhor que uma trama explorando um universo imaginário para corroborar suas intenções.