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Hallam Foe - Festival do Rio 2007

Jamie Bell vive jovem perturbado no novo trabalho do britânico David Mackenzie

25.09.2007, às 22H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 03H04

Hallam Foe (2007) é o novo trabalho do irregular diretor britânico David Mackenzie (Paixão sem Limites). O roteiro é baseado no livro de Peter Jink e trata dos temas preferidos do diretor: melodrama mórbido envolvendo sexo provocativo. O filme é uma combinação de suspense, romance, drama e humor negro encenado no estilo gótico. Interessante, porém, como todos esses gêneros não são perceptíveis e surgem conforme a história vai se desenvolvendo. Não dá pra saber o que esperar durante o desenvolvimento, mas o resultado é encantador.

A trama gira em torno de Hallam Foe, um jovem incapaz de aceitar o suicídio de sua mãe, preferindo acreditar que ela foi assassinada por sua madrasta, que antes era a secretária de seu pai. Esse trauma o leva a espionar todos a sua volta, registrando suas impressões em páginas de vários diários. Hallam age como um voyeur, mas não por satisfação sexual. Sua necessidade é derivada de uma inquietação psicológica.

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Depois de um confronto com a madrasta, Hallam foge para a cidade de Edinburgo. Lá encontra uma mulher, Kate, que é idêntica à sua mãe. Fascinado, ele consegue um emprego no hotel em que ela trabalha e passa a escalar os prédios da cidade todas as noites como um homem-aranha, só para espioná-la. Essa prática em um grande centro leva-o a um universo sentimental, até então inexplorado de seu próprio interior. Conseqüências e transformações envolverão as pessoas ao seu redor.

Percebemos desde a primeira cena que Hallam é um jovem perturbado. Sua obsessão em espionar as pessoas lhe garante uma camada doentia por trás de seu olhar inocente. A cada seqüência fica a impressão que Hallam irá surtar e cometer algum crime, incertezas apresentadas em um ritmo surpreendentemente suave pelo cineasta. Impressiona como um material tão sombrio teve uma abordagem tão leve.

Esse contraste entre o tema e a maneira de apresentar é uma marca que pontua toda a narrativa. Os créditos animados iniciais, criados por David Shrigley, dão a impressão que estamos em uma suposta comédia romântica. Já na primeira cena, porém, Mackenzie rompe com essa certeza.

Esse jogo cênico acontece a todo instante. As reações de Hallam para com o que acontece a sua volta são surpreendentes. Ele nunca perde sua aura doce, mesmo protagonizando atos bizarros. Sua patologia lida com a esquizofrenia e o complexo de Édipo. Cenas que poderiam chocar ou cair nas armadilhas do mau-gosto, são tratadas de maneira natural pelo diretor.

Tecnicamente o filme acompanha essas escolhas. A fotografia de Giles Nuttgens consegue manter o clima de mistério, mesmo quando a história sai do campo para tomar as ruas de Edinburgo. A cidade acaba se tornado também um personagem, com suas vielas e prédios vitorianos preenchidos por um céu acinzentado. A trilha sonora recheada de canções pop rivaliza com essa atmosfera.

Mas muitos dos créditos do filme precisam ser computados na conta do ator Jamie Bell, que interpreta Hallam. Bell constrói um misto de ingenuidade com psicopatia latente que hipnotiza. Impossível tirar os olhos dele quando em cena. Igualmente competente é Claire Forlani, que faz a madrasta, nos deixando na dúvida se ela é uma assassina fria ou mais uma vítima. Sophia Myles que interpreta Kate, também atua de forma imprevisível. Todos os personagens seguem o mesmo caminho multifacetado, como tivessem segredos escondidos e estivessem usando máscaras sociais.

Além da ótima atuação do elenco, vale ressaltar a química entre Bell e Myles. Cada olhar e gesto trocado entre os dois emociona. Essa particularidade romântica marca um rito de passagem para Hallam. Um caminho para sua possível cura. Agressores e vítimas trocam de lugar. A perversidade com o parceiro certo pode ser uma maneira de lidar com a morte de sua mãe. Essa tratamento enigmático é o diferencial do filme.

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