Mais popular de todos os festivais de cinema do Brasil, dotado de um glamour capaz de atrair até quem não é cinéfilo de carteirinha, Gramado completa 45 anos nesta sexta-feira (18), quando abre mais uma seleção de longas-metragens inéditos com uma projeção hors-concours de João, o Maestro, de Mauro Lima. No mesmo dia, o evento, que mobiliza a Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, a cerca de duas horas de Porto Alegre, exibe o primeiro dos concorrentes ao Kikito de melhor filme nacional de 2017: O Matador, de Marcelo Galvão. Este faroeste ambientado em Pernambuco traz a grife Netflix, que recusou pedidos de entrevista para seu diretor.
Além de Galvão, o pacote de concorrentes brasileiros – selecionado por uma trinca de curadores composta pela argentina Eva Piwowarski e os brasileiros Marcos Santuário e Rubens Ewald Filho, o crítico mais famoso do Brasil – inclui: A Fera na Selva, de Paulo Betti, Eliani Giardini e Lauro Escorel; As Duas Irenes, de Fábio Meira; Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky; Bio, de Carlos Gerbase; Pela Janela, de Carolina Leone; e Vergel, de Kris Niklison. Dia 26 de agosto será conhecido o ganhador.
Na entrevista a seguir, Ewald dá um panorama do evento, que vai conceder honrarias especiais à atriz Dira Paes (o prêmio Oscarito), ao ator Antonio Pitanga (troféu Cidade de Gramado), ao animador Otto Guerra (a láurea Eduardo Abelin) e à cantora e atriz argentina Soledad Villamil (Kikito de Cristal).
Omelete: Como você avalia o lugar de Gramado no imaginário brasileiro, depois de 45 anos de resistência?
Rubens Ewald Filho: As pesquisas todas apresentam Gramado como o lugar mais desejado para o turista visitar no Brasil, o que é surpreendente, mas muito verdadeiro, inclusive por um detalhe: a segurança local. E, nesse ano, a nova administração do festival esta demonstrando que novamente Gramado existe por causa do cinema brasileiro.
Omelete: Como vc avalia o desenho da competição oficial deste ano? Existe uma tendência temática nos longas nacionais e nos gringos de 2017?
Rubens Ewald Filho: Meus colegas de curadoria são mais próximos dos latinos e tiveram este ano um trabalho mais presente, tendo ido a diversos festivais estrangeiros de Cuba, a México e outros mais.
Omelete: Em 2016, o Troféu Eduardo Abelin, distinção máxima dada a Gramado a um cineasta nacional, foi para José Mojica Marins, o Zé do Caixão, e, este ano, o prêmio vai para um animador: Otto Guerra. Parece uma guinada em direção ao pop. O que essa guinada já aponta para o festival?
Rubens Ewald Filho: Acho ofensivo se tratar levianamente o Otto, ilustre e querida figura de uma importante parte do cinema: a animação. Poucos no Brasil tiveram e tem uma carreira tão notável no formato quanto ele.
Omelete: Depois de cinco anos fazendo a curadoria de Gramado, você já consegue dimensionar os caminhos que nosso cinema vem tomando nas telas?
Rubens Ewald Filho: Não. É sempre uma eterna redescoberta e sempre há muito ainda o que mudar e conquistar e superar.