Filme causa polêmica no México
Filme causa polêmica no México
Na
última sexta-feira, a Confederação dos Bispos do México conclamou a nação
para boicotar El crimen del padre Amaro (2002), o novo filme do diretor
Carlos Carrera (vencedor da Palma de Ouro em Cannes por El heróe,
em 1994). Trata-se de uma adaptação, ambientada nos dias de hoje, do clássico
da literatura O crime do Padre Amaro, escrito pelo português Eça
de Queiroz em 1875.
Além do protesto da igreja, grupos antiaborto entraram com ações exigindo que o filme, que estreou dia 16 de agosto, fosse retirado de todas as salas de exibição. As instituições exigem também que diversos políticos sejam punidos pelo envolvimento com a produção, financiada em parte pelo governo.
De acordo com o periódico Boston Globe, o diretor nega que o filme seja um ataque à igreja, explicando que a produção trata de um caso fictício isolado e, em momento algum, critica a igreja católica como instituição. Mesmo assim, não conseguiu apaziguar os ânimos dos críticos, que afirmam que o que estão exigindo não é censura, mas apenas que os católicos no poder ajam como tal e interrompam a produção de filmes desse tipo, nas palavras de Bernardo Barranco, diretor do Centro para Estudos Religiosos da Cidade do México.
Apesar da polêmica, a estréia do filme foi bastante tranqüila. De acordo com pesquisa dos jornais Reforma e El Universal, 75% dos espectadores não acharam que a fita ofende o catolicismo. A esmagadora maioria também afirmou que ninguém tem o direito de censurar o que os mexicanos querem ver. Como quase sempre acontece nesses casos, o tiro mais uma vez saiu pela culatra. 43% dos espectadores foram ao cinema apenas para conferir o alvo de tamanha polêmica.
O
filme conta a história de um jovem padre - e interpretado por Gael Garcia
Bernal, de Amores brutos e de E sua mãe também - que se apaixona
por uma paroquiana de dezesseis anos. Enquanto é tomado por crises de consciência
e culpa, o protagonista descobre que seus colegas do clero não são tão inocentes
quanto imaginava. Um aceita dinheiro de traficantes de drogas, enquanto mantém
caso com uma mulher, e outro financia guerrilhas de esquerda.
O roteiro do filme, que ainda não tem previsão de estréia por aqui ou mesmo nos Estados Unidos, foi escrito por Vicente Lenero, vencedor do maior prêmio de literatura do México em 2001.