Filmes

Entrevista

"Filmar com Meryl Streep dá medo", diz Hugh Grant

Cotado ao Oscar, ator fala sobre seu trabalho em Florence – Quem É Essa Mulher?

18.09.2016, às 13H13.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 17H04

Galã nº 1 da comédia romântica internacional desde Quatro Casamentos e um Funeral (1994), seja em Hollywood ou seja em qualquer outro território onde possa gastar seu inglês com sotaque londrino, Hugh Grant, aos 56 anos, virou “a” sensação do 64º Festival de San Sebastián, mobilizando uma carreata de fãs nas ruas da cidadezinha espanhola, onde cartazes tamanho GG de Florence – Quem É Essa Mulher? estão espalhados pelo leito do principal rio local: o Urumea.

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Mais do que servir como uma première de gala para a carreira do mais recente longa-metragem de Stephen Frears em solo hispânico, a passagem do astro de Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) por este evento se explica pelos boatos de uma potencial indicação de Grant ao Oscar de melhor coadjuvante. São uma unanimidade os elogios por seu bom desempenho no papel do ator fracassado e empresário aproveitador St. Clair Bayfield. Sucesso mundial, o filme foi construído para Meryl Streep brilhar, mas quem roubou a cena foi este inglês de 56 anos. 

Devo confessar que contracenar com Meryl Streep é assustador. Ela é um gênio, é uma grande companheira de cena, e é sempre muito generosa. Mas ela carrega uma experiência tão vasta nas costas que nos assusta. E Frears, a quem eu já conhecia socialmente antes, dá um certo temor também. É um medalhão do cinema. Quando cheguei para filmar, preparei umas 12 perguntas, todas muito intelectualizadas, sobre o meu personagem e, ao conversar com ele, só ouvia ‘Não sei te responder’ ou ‘Não faço ideia’, como se ele me dissesse ‘Crie!’, ‘Arrisque-se!’, ‘Liberte-se’. Foi um desafio”, contou Grant ao Omelete, num papo bem-humorado, onde fez uma cobrança ao Brasil. “Já me disseram que Notting Hill passa quase todo dia por aí, nas TVs brasileiras. Cadê meus royalties?”.  

Sites como o Awards Daily e revistas como a Variety, bíblias da indústria audioviosual, dão como certa a inclusão de Grant entre os concorrentes a estatuetas douradas pela delicada figura de Bayfield em Florence – Quem É Essa Mulher?, feita com base em fatos reais. A trama é baseada numa ricaça americana que, na década de 1940, sonhava ser uma cantora de ópera, apesar de ter a pior voz possível para a tarefa. Bayfield é um espertalhão que se casa com ela por dinheiro e passa a atender os caprichos da mulher de querer cantar em público, tentando, de todo jeito, disfarçar o desprezo de ouvintes e, sobretudo, da crítica por ela.  

Eu pesquisei muito para este trabalho, mais do que jamais fiz, e me dei conta de que havia em St. Clair Bayfield um amor genuíno pelo teatro e pela arte, o que mês fez enxergar toda a humanidade e a doçura dele”, diz Grant, que agora estará no elenco de As Aventuras de Paddington 2, previsto para 2017, onde contracena com um ursinho trapalhão. “Para quem tem tantos filhos quanto eu (são quatro, de diferentes relacionamentos), fazer um filme infantil é um excelente negócio. Falam muito dessa questão de eu ter feito muitas comédias românticas. Mas isso foi uma questão de acaso, não de escolha. Os melhores roteiros que me chegavam, eram de histórias de amor. Veja... Houve muita insistência para que eu fizesse mais um filme romântico, o novo Bridget Jones, mas eu declinei dele, embora tivesse trabalhado muito no roteiro, pois meu personagem não se encaixaria na nova trama. É necessário encontrar um tom do romantismo. E, para um ator, viver um herói romântico é um desafio e tanto, pois este tipo de personagem tende a ser chato, muito pasteurizado. Eu luto sempre para fugir disso. Não sei se venho acertando, mas...”. 

Acerca do êxito popular de Florence – Quem É Esta Mulher? desde a sua primeira exibição mundialem abril, no Festival de Balfast, Grant diz que a presença de Simon Helberg, o Wolowitz de Big Bang Theory, como um afetado pianista, foi fundamental para o progresso da produção em circuito. 

Quando o nome de Simon foi anunciado, uma parte mais velha da produção reagiu com espanto, estranhando quem seria aquele rapazinho. Até eu estranhei. Mas, aí, chegou aquele baita ator, roubando todas as cenas... Fora que Big Bang... deve ter feito dele o homem mais rico do planeta”, brinca Grant, que recebeu sua maior lição de cinema de Woody Allen, com quem filmou Trapaceiros (2000). “Quando aquele senhor que há quase cinco décadas mantém uma produção de um longa-metragem novo por ano me disse ‘O segredo do sucesso no cinema é trabalho’, eu não tive dúvidas de que deveria escutá-lo”

O Festival

Concorrendo em San Sebastián a um prêmio de júri popular, Florence – Quem É Esta Mulher integra a seção Pérolas, que recebeu na tarde deste domingo seu filme mais prestigiado: On The Milky Road, do aclamado diretor sérvio Emir Kusturica. Longe dos longas de ficção há nove anos, o realizador do cult Underground – Mentiras de Guerra (Palma de Ouro de 1995 em Cannes) dirige e estrela uma história de amor ambientada na guerra dos Bálcãs, como um leiteiro apaixonado por uma aldeã de origem italiana, vivida por Mônica Bellucci. 

Na seleção competitiva oficial de San Sebastián, o longa mais elogiado até agora é o francês Nocturama, de Bertrand Bonello, no qual um grupo de jovens de diferentes classes sociais e etnias percorre linhas de metrô e instituições parisienses espalhando explosivos plásticos. O filme é uma espécie de “jogral do terror”, o que faz dele uma narrativa polêmica no atual contexto europeu. Outra trama francesa em concurso a cair no gosto dos espanhóis foi (o soberbo) Orpheline, de Arnaud Des Pallières, no qual o diretor do épico Michael Kohlhass (2013) faz um panorama da opressão contra a mulher a partir de um mosaico de histórias de jovens marcadas por um desejo desvairado ou por uma ambição equivocada. Adèle Exarchopoulos, de O Azul é a Cor Mais Quente (2013), é o destaque do elenco.     

Nesta segunda, San Sebastián exibe, na seleção competitiva Horizontes Latinos, o longa brasileiro Era o Hotel Cambridgeda diretora paulista Eliane Caffé. A trama aborda o tema dos refugiados. Eles dividem que divide com um grupo de sem-teto uma ocupação no centro de São Paulo. No elenco estão Suely Franco José Dumont. No dia 20 é a vez da produção luso-mineira A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, sobre o reencontro de duas amigas em Belo Horizonte. 

Virá da França, no dia 24, o longa de encerramento do festival: L’Odyssée, um drama sobre o mais pop dos oceanógrafos: o documentarista Jacques-Yves Cousteau, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar com seus filmes sobre o mar.

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