Nenhum bolão de aposta feito ao longo dos onze dias de Festival do Rio 2016 considerou a surpresa (boa) que encerrou a maratona cinéfila carioca na festa de premiação da Première Brasil, a disputada competição nacional de longas do evento: venceu o amor, representado pela love story Fala Comigo. A direção é do estreante Felipe Sholl (antes mais conhecido pelo curta Tá, pelo qual ganhou a láurea gay Teddy em Berlim, em 2008). A trama narra a paixão de um estudante de 17 anos por uma mulher de 43 anos.
"Nossa democracia está ameaçada e espero que este nosso filme cumpra a pequena parte dele para tornar este mundo menos conservador", disse Sholl. Com sua narrativa feérica e febril, o longa-metragem Era o Hotel Cambridge, de Eliane conquistou ainda o prêmio de júri popular e a láurea de melhor filme latino-americano crítica internacional votado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci).
"A experiência que estamos tendo com este filme tão polifônico tem ido muito além do esperado", disse Eliane Caffé no palco, ao lado de Carmen Silva, líder dos movimentos de sem-teto em São Paulo que vive a si mesmo no longa, também agraciado com o troféu de melhor montagem. "O nosso maior prêmio é poder levar a todos os setores da sociedade que a gente pode ter um mundo mais unido", disse Carmen.
Considerado o segundo galardão mais importante do Festival do Rio, o Prêmio Especial do Júri foi entregue a um cineasta de primeiro filme, mas de longa estrada na direção de TV: o mineiro José Luiz Villamarim, por Redemoinho. A produção é derivada da literatura de Luiz Ruffato.
Filmado no Sul do país, na fronteira com o Uruguai, o drama Mulher do Pai rendeu o troféu Redentor de melhor direção de ficção para a estreante Cristiane Oliveira. Seu longa, sobre um pai cego às voltas com a criação de uma filha adolescente, foi laureado ainda com prêmios de melhor fotografia (dividido com o doc SuperOrquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos) e atriz coadjuvante (confiado à uruguaia Verónica Perrota).
Na briga de documentários, confirmou-se o favoritismo de A Luta do Século, filme de boxe do baiano Sérgio Machado, produzido por Lázaro Ramos. Também inflado por elogios do público e da crítica, Divinas Divas, que marca a estreia da atriz Leandra Leal como diretora, recebeu o prêmio de Júri Popular e o Troféu LGBT Félix, por falar do panteão de travestis dos palcos nacionais. Houve ainda um prêmio de direção de docs para Sérgio Oliveira pelo sensorialíssimo musical SuperOrquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos.
Entre os vencedores do ano, houve mais uma surpresa (das boas) no empate na categoria de melhor ator contemplando um veterano na ativa desde a década de 1960 - Nelson Xavier, laureado pelo thriller de ação Comeback - e um jovem quarentão - Julio Andrade, galardoado em dupla via, por sua atuação em Sob Pressão e por Redemoinho. Entre as mulheres, a vitória de Karine Teles, por Fala Comigo, era tida como uma barbada - e se confirmou - por méritos indiscutívris.
Os ganhadores do Festival do Rio 2016
Filme (ficção): Fala Comigo, de Felipe Sholl
Filme (documentário): A Luta do Século, de Sérgio Machado
Júri Popular (ficção): Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé
Júri Popular (documentário): Divinas Divas, de Leandra Leal
Diretor (ficção): Cristiane Oliveira (Mulher do Pai)
Diretor (documentário): Sergio Oliveira (por SuperOrquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos) com uma
Menção Honrosa a Marcos Prado (por Curumim)
Prêmio Especial do Júri: Redemoinho, de José Luiz Villamarim
Atriz: Karine Teles (por Fala Comigo)
Ator: Nelson Xavier (por Comeback) + Julio Andrade (por Redemoinho e Sob Presão)
Atriz coadjuvante: Verónica Perrotta (por Mulher do Pai)
Ator coadjuvante: Stepan Nercessian (por Sob Pressão)
Roteiro: Vermelho Russo
Fotografia: SuperOrquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos + Mulher do Pai
Montagem: Era o Hotel Cambridge
Curta: O Estacionamento
Prêmio da Crítica Internacional (Fipresci): Era o Hotel Cambridge + Viejo Calavera
Prêmio Félix (LGBT): Divinas Divas
