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Expocine | Feira para o mercado de cinema aposta em inclusão e novas tecnologias

Nova lei diz que cinemas precisam oferecer adaptações para pessoas com deficiência

29.09.2017, às 15H42.
Atualizada em 29.09.2017, ÀS 18H03

Realizada desde 2014, a Expocine se tornou o maior evento da América Latina sobre a indústria cinematográfica e a edição deste ano teve um foco especial para a parte de inclusão de pessoas com deficiência e novas tecnologias. No primeiro caso, a procura acontece por conta da nova legislação: segundo uma Instrução Normativa de 2016, cinemas que possuem a partir de 21 salas precisam disponibilizar recursos de LIBRAS, legenda descritiva e audiodescrição em 50% delas a partir de novembro.

Entre as novas soluções do mercado, está a disponibilização dos recursos através de tablets, como é o caso da Ktalise, uma das expositoras do evento. Neste caso, o software da empresa acessa os arquivos acessíveis e os transmite nos aparelhos, que devem ficar em cada poltrona. Tanto nos casos de audiodescrição, legenda ou LIBRAS, não há nenhum tipo de incômodo de luz ou tela para as pessoas ao redor. A ideia da lei é exatamente incluir as pessoas com deficiência em todas as sessões, ao invés de fazer horários ou salas exclusivas.

“As pessoas com deficiência estão com uma grande expectativa para que os filmes comecem a ser acessíveis. O Brasil é um pioneiro nesse sentido, em exigir a lei, então acreditamos que essa será uma mudança muito importante no mercado de exibição e distribuição, uma mudança positiva e que um novo público poderá acessar os conteúdos. Acreditamos também que será uma questão muito importante para o mercado em termos de bilheteria”, afirma Luis Mauch, representante da empresa.

Outra opção para os cinemas é colocar os recursos de acessibilidade em smartphones, como é a proposta da Assista Tecnologia, que levou seu novo projeto em parceria com a Dolby para a Expocine. Além das legendas e audiodescrição, a parte de LIBRAS conta com duas opções: o intérprete humano e o avatar animado, que consegue traduzir qualquer filme para a língua de sinais.

“O intérprete humano faz hoje uma tradução muito melhor do que a automática, mas a tendência é que, com o tempo, a qualidade fique semelhante e até melhor, já que o humano faz os sinais com o jeito, com o ‘sotaque’ dele. O avatar é neutro, o sinal sempre será feito da mesma forma”, explica Guido Lemos, da Assista. “Como o Brasil é pioneiro nessa questão, não existiam produtos para oferecer isso. Há também toda uma logística de distribuição desse material inclusivo, que é totalmente diferente da distribuição do filme em si. Além da questão de segurança, afinal, a história do filme está nas legendas e na audiodescrição”, completa.

O 4D é o futuro?

Outras tecnologias que chamam a atenção na feira são o 4D e a realidade virtual, que têm os estandes mais disputados do espaço. A Lumma apresentou uma tecnologia de 4D E-Motion que leva para as salas de cinema movimento, ar, impacto de ar, vibração, aromas, água, tremor, vento e luzes. Questionado sobre a possível distração do espectador com tantas sensações ao redor, o expositor Marcos Franco explica que tudo passa por aprovação e há uma técnica para não deixar o público “cansado”:

“A sincronização é feita em Los Angeles, existem pessoas treinadas para isso e precisa ter a aprovação do estúdio. Existem três empresas que fazem isso no mundo e somos uma delas. Há um grande controle de qualidade, é definitivamente uma arte. O filme não tem movimentos o tempo inteiro. Quando os efeitos visuais são feitos da forma errada, eles te tiram do filme, mas quando são feitos do jeito certo eles te levam para dentro do filme. É a mesma coisa aqui”.

Já a parte de realidade virtual, muito conhecida atualmente no mundo dos games, começa a fazer seu caminho dentro da indústria cinematográfica, ainda que de forma mais modesta. Enquanto apresentar longas em realidade virtual ainda pareça algo distante, as empresas apostam em proporcionar experiências menores para o público. É o caso da Quanta DGT, que apresentou na Expocine um formato com pequenas narrativas, de 30 minutos cada, nos gêneros de ficção científica, terror, animação, etc.

“É uma outra forma de entretenimento, ainda com uma narrativa, com uma história que é contada dentro desses temas”, explica o expositor Tieres Tavares.

Embora veja as opções tecnológica com bons olhos, o diretor da Expocine, Mauri Palos, ressalta a importância de não “enganar” o público na divulgação desses produtos:

“O grande segredo nessas novas possibilidades é não tentar ludibriar o público, porque não basta você ter a tecnologia 4D de exibição, ou a realidade virtual, se aquele conteúdo não foi preparado para isso. Isso aconteceu muito no 3D: muitos filmes que não foram produzidos dessa forma foram adaptados e exibidos e as pessoas começam a se sentir ludibriadas mesmo, porque ele paga mais caro no ingresso para ter uma experiência diferente, mas não recebe”.

Preocupação com a bilheteria

Com um verão considerado fraco na bilheteria americana - saiba mais, há uma preocupação dos empresários sobre como atrair mais o público para os cinemas. Palos revela que há uma preocupação com a arrecadação no Brasil, embora exista algum otimismo:

“A luz vermelha já acendeu há muito tempo e para todos. Apesar do otimismo, todos estão com os pés no chão. Existe uma crise econômica que é mundial, não é só da América Latina, existem mais competidores para as salas de cinemas, opções de lazer e cultura. Hoje as pessoas repensam bastante os investimentos, mas talvez exista mais uma mudança do perfil do público, do que uma diminuição do público. E é nisso que os cinemas apostam, em oferecer novas experiências nas bombonieres, diversificando o trabalho”.

“Hoje, o latino-americano assiste mais filmes, em comparação com 30 anos atrás, existem mais possibilidades: TV aberta, fechada, serviços de streaming, a pirataria ainda… a questão é a experiência de ir aos cinemas, que não é apenas pela tela grande e a qualidade de som, muitas vezes você consegue fazer isso em casa, mas é a experiência de coletividade, um ponto de encontro. Os conteúdos que passam nos cinemas podem passar em outros locais. A questão não é essa, a questão é o cinema oferecer essa experiência diferente”, finaliza.

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