Filmes

Entrevista

Eu, Daniel Blake | "É a história de milhares de ingleses que mofam no desemprego", diz protagonista

Humorista britânico falou ao Omelete sobre a educação social no filme

02.01.2017, às 16H22.
Atualizada em 02.01.2017, ÀS 17H00

Definindo a si mesmo como “um operário fantasiado de ator”, por seu corpanzil fora dos padrões de beleza de academia, Dave Johns, o sexagenário astro de Eu, Daniel Blake, passou anos ganhando o pão de cada dia nos palcos britânicos, em shows de stand-up comedy ou peças de humor, até ser convocado para protagonizar o filme que deu ao diretor inglês Ken Loach Palma de Ouro no último Festival de Cannes. Outros 14 prêmios em mostras estrangeiras de prestígio, como os festivais de Locarno e San Sebastián, abrilhantaram o currículo do longa-metragem, que estreia no Brasil nesta quinta (5), apresentando ao público nacional este estreante em tela grande, de 60 anos, cuja habilidade de comover plateias tem arrancado lágrimas aos litros sempre que a história de Daniel Blake é projetado. 

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A história dele é a mesma dos milhares de ingleses que mofam na fila dos centros de assistência social à espera do seguro-desemprego, deslocados da equação financeira da Europa e distantes da sensação de dignidade”, definiu Johns em entrevista ao Omelete em Cannes.

Ambientado em Newcastle (terra onde se passam várias peripécias do bruxo John Constantine, nas HQs da DC), Eu, Daniel Blake radiografa as sequelas do desemprego e do desamparo social na Inglaterra, a partir da relação de amizade estabelecida, pela sorte do acaso, entre uma mãe solteira (vivida por Hayley Squires) e um  cinquentão com problemas cardíacos, Daniel, vivido por Johns. Ele não tinha nenhuma intimidade com sets de filmagem quando foi convocado por Loach, para quem o filme “é uma denúncia da burocracia e um convite à discussão sobre formas institucionalizadas de segregação financeira”.

“Quando a gente filmava, seguindo cartesianamente a ordem dos acontecimentos que se passam no longa, ele não exigia de mim nenhuma preparação específica, nenhum estudo específico: tudo o que valia para ele era o meu instinto, minha habilidade de reagir à tragédia social à minha frente”, disse Johns, que arranca gargalhadas no início de Eu, Daniel Blake, pelo jeitão fanfarrão do personagem. “Sou um careca, barrigudo com uma carranca inglesa de quem come peixe com batatas: é olhar pra mim e rir”. 

Dez anos antes do longa, Loach já havia conquistado uma Palma em Cannes com Ventos da Liberdade (2006), que teve uma bilheteria minúscula. Já a saga de Blake, pelo carisma de Johns, tem tido um desempenho popular maior na Europa: só na França, foram 830 mil pagantes. E sua estreia nos EUA acontece nesta sexta (6), sob a boataria de que o longa possa conquistar uma indicação ao Oscar de melhor roteiro.

A maior vitória neste filme foi o aprendizado: no primeiro dia de filmagem, Loach me fez preencher um formulário de seguro social para desempregados. Era tanta página para ler e preencher que dava até desânimo”, disse Johns. “Imagina fazer quem está no desespero lidar com uma burocracia dessas”.  

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