Elvis Pelvis - Festival do Rio 2007
Infância e identidade são temas de obra artística e reflexiva
Elvis Pelvis (2007) parte de uma idéia interessante. Um menino de 10 anos, fã do guitarrista Jimi Hendrix, é obrigado pelo pai tirânico a imitar e se vestir como Elvis Presley. A inusitada produção, dirigida por Kevin Aduaka, é uma obra artística e reflexiva, que abusa da estética para dialogar sobre a relação entre ícones, pais e filhos.
O roteiro de Aduaka divide a trama em duas partes. Na primeira, chamada "The Suit" (A Roupa), acompanhamos o garoto Elvis perdendo sua identidade por causa do fanatismo de seu pai para como Rei do rock. Ao mesmo tempo, Elvis é fã de Jimi Hendrix e gostaria de se vestir como o guitarrista. O que parecia um inocente confronto entre duas pessoas atormentadas por seus ícones, se torna uma história de abuso e agressividade. No meio do conflito, a mãe de Elvis também é brutalizada pelo pai, com conseqüências catastróficas.
Na segunda parte, denominada "The Messiah" (O Messias), 17 anos se passaram e Elvis está crescido. Ele agora se chama Derek e carrega traumas. Sua solidão o leva a conhecer um velho que tem um filho chamado Jimi, supostamente desaparecido. Desse encontro inesperado, Derek tem despertadas as lembranças de sua infância. Derek e o velho desenvolvem uma relação de pai e filho. Ambos precisam cicatrizar velhas feridas e estão em busca de uma espécie de redenção por seus atos passados.
O cineasta investe no estudo sobre a condição humana. Propõe um debate sobre o quanto as figuras da cultura pop podem influenciar nosso destino. Celebridades ganham a condição de mito. Realidade e fantasia podem se misturar, cruzando a linha tênue que separa o imaginário do real. Ao mesmo tempo, a narrativa aposta em certos dogmas, como no conceito de que pais são vistos pelos filhos como potenciais heróis. Muitas vezes os filhos procuram se espelhar no comportamento de seus pais, mas quando isso se choca contra o nosso próprio conceito de individualismo, pode provocar uma tragédia emocional. Pais podem não sobreviver a força do herói.
Todas essas reflexões comportamentais ganham uma força descomunal nas lentes de Aduaka. Ele abusa da fotografia saturada, gelatinas, cores, close-ups e lentes angulares, entre outros maneirismos técnicos, para apresentar esse choque entre o real e o imaginário. Interessante que o filme não tem imagens "oníricas". Toda a narrativa é calcada com seqüências cotidianas como ir ao banheiro, comer e beber. As transmutações emocionais são construídas através dos recursos fílmicos citados e com a atuação dos atores. Um ótimo exemplo de como uma série de temas pode ser discutida através de vários recursos da linguagem cinematográfica.