Woman and Child não consegue decidir que tipo de filme é. Depois de fazer a ótima, desesperadora e ácida comédia Leila’s Brothers, um filme que tem todas as suas peças no lugar correto para contar sua história afiada, Saeed Roustaee retornou ao Festival de Cannes com um projeto que parece estar constantemente confuso sobre o que, exatamente, está movendo suas cenas.
Quando o filme começa, alternamos entre a vida de Mahnaz (Parinaz Izadyar), uma viúva de 40 anos, e seu filho rebelde Aliyar (Sinan Mohebi). Enquanto ela equilibra o trabalho de enfermeira no hospital com a necessidade de cuidar não só do adolescente e sua irmã mais nova Neda (Arshida Dorostkar), como também de sua mãe idosa (Fereshteh Sadr Orafee), ele vive de apostas, paqueras e travessuras que, eventualmente, o levam a ser suspenso da escola. O timing não poderia ser pior: ela estava contando com a ausência do menino para conhecer a família do namorado, o motorista de Hamid (Payman Maadi), com quem pretende casar.
Então, tudo dá errado. O diretor da escola não escuta seus pedidos, Hamid desaparece por um dia a mais do que o planejado só para retornar com a notícia de que prefere casar com a irmã de Mahnaz, Mehri (Soha Niasti), e seu sogro, responsável por cuidar dos meninos enquanto ela conhecia a família visitante, deixa um desastre acontecer. Eu vou segurar detalhes, mas trata-se de um choque que altera definitivamente a essência de Woman and Child, transformando toda a energia ansiosa de tudo que veio antes em uma longa manipulação da audiência e infectando tudo que vem depois com a incerteza de como reagir ao que acontece.
Durante a hora e meia que se segue depois da tragédia que parte a família de Mahnaz ao meio, Roustaee tenta fazer um filme de luto, dando a Izadyar uma série de cenas desesperadoras que, para o crédito de uma atriz disposta a tudo, até conferem a Woman and Child uma tristeza palpável. Então, há um drama de relacionamento envolvendo o casamento de Hamid e Mehri, e ainda uma espécie de suspense jurídico quando, devido ao estado emotivo da mulher, seu sogro tenta tirar dela a guarda da filha mais nova.
Enquanto encena tudo isso, Woman and Child coloca sua atriz principal pelo moedor para tirar dela uma atuação que, se viesse num filme americano, seria rapidamente categorizada como Oscar Bait. Conquanto ela seja realmente impressionante, não há gritos e choros que possam compensar as falhas do roteiro de Roustaee. O texto se perde nas mudanças de tom e gênero e, incapaz de convencer em qualquer desses aspectos, aposta inteiramente no melodrama.
Talvez o melhor exemplo desse vazio dramático seja em como boa parte da reta final é dedicada a mostrar Mahnaz se desesperando ao descobrir as piores qualidades do filho. Por mais que as atitudes tenham sido escondidas dela, já que suas primeiras cenas com o menino são calorosas e divertidas, nós acompanhamos o que ele fazia. Se Woman and Child quisesse focar no processo de uma mãe entendendo o quão perto seu filho está de se perder, quem sabe haveria um filme ali. Antes que isso possa acontecer, porém, trocamos de marcha para, digamos, o desespero dela diante da possibilidade de perder a filha.
Não há erro maior no filme do que neste arco. Depois de manter Mahnaz completamente distante da filha numa hora delicada, ignorando as necessidades emocionais e físicas da menina, Woman and Child quer que tomemos o lado dela gratuitamente. Até fazemos isso, mas mais por uma ciência do quão horrível seu sogro é do que porque o filme tem qualquer mérito em construir tensão.
Depois disso tudo, lá para o final, Roustaee até desperta. Talvez lembrando de seu rumo original, um estudo sobre perda e responsabilidade, ele encerra Woman and Child com uma imagem que, se fosse precedida de um grande filme, teria um poder palpável. Aqui, porém, o plano final serve mais para mostrar o que este longa poderia ser, mas não foi.
Woman and Child
Zan va bache
País: Irã
Duração: 131 min
Direção: Saeed Roustayi
Roteiro: Saeed Roustayi
Elenco: Payman Maadi , Parinaz Izadyar
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