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Virgínia | Crítica

De volta ao terror gótico, Francis Ford Coppola desarma o tempo para celebrar a juventude

10.01.2014, às 18H18.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 09H02

"O que é mais poético e trágico do que a morte de uma bela jovem?", pergunta o fantasma de Edgar Allan Poe (Ben Chaplin) ao escritor em crise Hall Baltimore (Val Kilmer) em Virgínia (Twixt, 2011). A morte da beleza, que sempre encantou Poe, também tem assombrado o cinema recente, feito de fantasmas, de Francis Ford Coppola.

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Desde seu retorno à direção com Velha Juventude (2008) e Tetro (2009), o cineasta veterano tem se entregue a um estilo mais barroco para lidar, poeticamente, com a passagem do tempo como sinônimo de morte. São filmes que abusam de fusões e manipulações de cor - estética que só alguém que produz seus trabalhos do próprio bolso, como Coppola, pode bancar hoje em dia - para pintar uma visão mais saturada da beleza e da morte.

Assim como fez no seu Drácula, de 1992, o grande filme barroco de sua carreira, Coppola aproveita o subgênero do terror gótico para dar mais vazão em Virgínia a essa sua tendência estetizante. Então além de fundir a Lua com relógios (o tempo sobre a cabeça de todos), podemos ver no filme o próprio rosto de Poe transformado em Lua, entre cenas que lembram o chiaroscuro de Sin City quando tingem o cenário preto-e-branco de vermelho-sangue.

Para o espectador, o visual de Virgínia pode parecer extremamente antiquado, por conta dessas escolhas que remetem a Viagem à Lua ou a Um Cão Andaluz, mas é justamente do tempo (e do que entendemos por velho, novo, atemporal) que o filme trata, misturando modernidades e velhices (a imagem do Macbook branquinho sobre a mesinha de madeira de armar é interessante). Desde os primórdios do cinema, aliás, as fusões sempre foram uma ferramenta de linguagem usada para expressar uma passagem de tempo, e aqui Coppola extrai delas o que as fusões têm de mais dramático.

A diferença de Virgínia para Tetro e Velha Juventude é que a melancolia desses filmes dá lugar a um humor despreocupado, como se Coppola começasse a encontrar, neste crepúsculo de carreira, uma paz de espírito dentro dos seus "filmes de morte". Não por acaso, em Virgínia os jovens são sérios (inclusive a criança que joga cartas com o policial infantilizado do necrotério) e todos os adultos são figuras cômicas - a começar pelo protagonista, cujo potencial anedótico Val Kilmer entende bem.

Então dentro de uma trama bem manjada de investigação e redenção (o que vai acontecer quando não houver mais bibliotecas para os protagonistas dos thrillers vasculharem histórias de fantasmas em cidades pequenas?), Coppola minimiza a preocupação dos velhos com o tempo e acaba fazendo um filme que louva a juventude enquanto celebração do instante. Há uma beleza inerente à juventude que está fadada a morrer, mas isso não a torna menos bela.

Corta para a ótima cena, síntese de Virgínia, em que uma vampira com aparelhos nos dentes - destinada a ser jovem para sempre, por sua condição de vampira - "cresce" e perde o aparelho. Ao perdê-lo, é como se virasse adulta, mulher, mas sem envelhecer. De novo, Coppola se debruça sobre o tempo, e sobre a perda da inocência, esse tema universal, mas desta vez opera a proeza de fazer o tempo inclemente parar, para que possamos aproveitar em toda a sua glória de sangue a beleza do instante.

Virgínia | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Virgínia
Twixt
Virgínia
Twixt

Ano: 2011

País: Estados Unidos

Classificação: 14 anos

Duração: 84 min

Direção: Francis Ford Coppola

Elenco: Val Kilmer, Bruce Dern, Ben Chaplin, Elle Fanning, Joanne Whalley, David Paymer, Alden Ehrenreich, Anthony Fusco, Don Novello, Ryan Simpkins, Tom Waits

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