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Virando a Página | Crítica

Direto da escola de comédias açucaradas e metalinguísticas

24.06.2015, às 16H02.
Atualizada em 24.06.2015, ÀS 19H01

Virando a Página (The Rewrite, 2014) vem de uma linha de filmes que tenta desconstruir a estrutura do gênero da comédia romântica através da consciência metalinguística, assim como o recente e nada interessante Deixa Rolar. Sendo o protagonista um roteirista de Hollywood, ele enxerga a própria história em atos, analisa os personagens das histórias dentro da trama e tece críticas sobre a indústria e a produção. Hugh Grant interpreta Keith Michaels, um roteirista que já ganhou Oscar, mas não consegue novos trabalhos e então aceita dar aulas de roteiro em uma pequena universidade.

O longa exala o aborrecimento de um escritor cansado de tentar agradar e é inevitável imaginar se esse também foi sentimento de Marc Lawrence, diretor e escritor do longa. Keith deixa Hollywood depois de ter diversas propostas de filmes recusados. Paradise Misplaced, seu antigo filme que ganhara Oscar de melhor roteiro, era reconhecido e ainda lhe rendia bajulações, mas não lhe abria portas para novos trabalhos. Suas histórias tentavam se enquadrar, mas não atendiam às novas demandas do mercado.

Ao chegar em seu novo emprego, Keith não hesita em ser policamente incorreto, selecionando suas alunas pela beleza e, inclusive, dormindo com uma delas. No entanto, o longa não faz caso do ocorrido e trata a relação recorrente com uma naturalidade que dispensa qualquer explicação ou justificativa da parte dos dois. Quando é revelada a relação distante de Keith com seu filho e como seu casamento acabou, o longa paira reflexivo sobre o sentimento do escritor, sem dramatizar demais a situação ou acusar os acontecimentos do passados como responsáveis pelos transtornos atuais.

Um dos pontos lamentáveis do longa é o desenvolvimento das personagens femininas coadjuvantes, que em diversos momentos caem em clichês de gênero. O principal exemplo desse problema é o embate entre o roteirista e a professora de literatura clássica (Allison Janney) que cria sobre ela um estereótipo vilanesco de megera mal amada, a partir do momento em que a professora decide discordar e enfrentar Keith. Aliás, é perceptível uma certa rusga do filme pelos discursos feministas vendo as irritações de Keith com a pressão das mulheres e com as demandas dos estúdios sobre criar personagens femininas fortes.

Enquanto desdenha da sua função de professor, o roteirista conhece Holly (Marisa Tomei), uma mãe solteira que trabalha na universidade e estuda psicologia. Aí está o romance que era necessário para cumprir a exigência do gênero. A relação dos dois não foge do companheirismo das comédias românticas mas passa longe do sentimentalismo e melodrama usado para ressaltar a intensidade e a importância do sentimento na vida do casal.

Hugh Grant continua fazendo o papel que interpretou durante toda sua carreira, mas em Virando a Página existe uma certa coerência na mesmice, já que o longa encara a realidade de um homem que cai no ostracismo depois de atingir o ápice e agora passa a aceitar com uma certa maturidade que não será mais o mesmo. É um alívio ver que o filme não busca explicações, ou resoluções catárticas. A história não alcança louros de inovações ou profundidade, mas acerta no tom ao se manter despretensiosa.

Nota do Crítico
Bom
Virando a Página (2014)
The Rewrite
Virando a Página (2014)
The Rewrite

Ano: 2014

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 107 min

Direção: Marc Lawrence

Roteiro: Marc Lawrence

Elenco: Marisa Tomei, J.K. Simmons, Allison Janney, Chris Elliott, Bella Heathcote, Hugh Grant

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