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Crítica

Urchin revela Harris Dickinson como bom cineasta de sensações

Frank Dillane brilha em história performática sobre homem sem-teto

Omelete
3 min de leitura
24.10.2025, às 05H00.
Atualizada em 24.10.2025, ÀS 10H38
Frank Dillane em Urchin (Reprodução)

Créditos da imagem: Frank Dillane em Urchin (Reprodução)

Muito frequentemente, é difícil de engolir quando tipos hollywoodianos – ou, em todo caso, gente bem posicionada na indústria cinematográfica em qualquer país – resolvem virar suas câmeras para a pobreza extrema. Isso porque contar histórias sobre miséria neste mundo de capitalismo tardio que prende tanta gente nela é tão vital quanto delicado. Olhando de fora para dentro, é fácil exotizar, caricaturizar e até fazer troça (intencionalmente ou não) das maneiras de vida dessas pessoas, dos sistemas que as mantém nas ruas, e das decisões que elas tomam diante das possibilidades apresentadas a elas.

filmes e filmes, é claro, mas até os bons costumam esconder, por trás de suas “boas intenções”, uma tendência feia de dar tapinhas nas próprias costas, tudo enquanto se gasta um dinheiro que poderia ser usado para resolver o problema revelado na tela. Urchin, filme de estreia do ator Harris Dickinson (Babygirl) no roteiro e direção, não escapa totalmente desse paradoxo de hipocrisia – mas tenta dançar ao redor dele com uma disposição lúdica.

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Nosso protagonista é Mike (Frank Dillane), um morador de rua que, logo nos primeiros minutos do filme, é preso por espancar e assaltar um bom samaritano que se ofereceu para ajudá-lo. Corta para sete meses depois, quando Mike está saindo da cadeia em liberdade condicional, com um novo emprego à vista na cozinha de um hotel capenga e uma ajuda de moradia fornecida pelo governo. Decidido a mudar de vida, ele marca um encontro com a vítima do assalto para se desculpar, faz novas conexões, tenta se manter sóbrio e evita companhias como a de Nathan (papel do próprio Dickinson), um antigo amigo das ruas envolvido em todo tipo de falcatrua.

Há uma propulsão emocional genuína nessa narrativa – nós queremos que Mike encontre estabilidade, porque queremos acreditar que a estabilidade é alcançável para todo mundo. E Dickinson, muito esperto, instrumentaliza nosso envolvimento para garantir que seu filme seja permeado de certa tensão, sugerindo em motivos visuais recorrentes que há algo de sinistro cercando protagonista, assim sublinhando a verdadeira fragilidade dessa nova trajetória que ele começa a desenhar após a prisão. Não que Urchin em algum momento faça um pulo definitivo para o cinema de horror, de fantasia, ou de música… mas todos esses ensejos estão ali, e ele nos mantém na ponta dos pés.

É impressionante que Dickinson, já em sua estreia, consiga conjurar sensações empoleiradas na linha tênue entre todos esses gêneros. Não que ele não tenha ajuda: a fotografia granulada de Josée Deshaies (A Besta), sempre atento às ruínas humanas e urbanas que se misturam na narrativa, é uma grande ajuda na construção dos climas que definem Urchin; e a montagem ágil de Rafael Torres Calderón (Silver Star) não permite que o filme se perca em contemplações, e injeta energia inegável aos raros momentos de euforia incluídos na história de Mike.

No olho do furacão, enquanto isso, Frank Dillane deixa claro o quanto Hollywood não soube utilizá-lo após o sucesso como Nick em Fear the Walking Dead. O seu Mike nunca descamba para o melodrama, mas o ator entende que há algo de performático em Urchin e, portanto, injeta algo de performático também no protagonista. Seja no olhar ressabiado diante de mais uma indignidade, no suor sincero de uma noite com amigos, ou no frenesi machucado do vício, Dillane faz teatro junto com o filme, complementando as sombras e luzes de cada cena à perfeição – uma das grandes atuações que vi este ano, enfim.

Envolto nas suas próprias sensações, Urchin é um filme apaixonado pelo que pode provocar no espectador, e talentoso o bastante para nos levar junto com ele nessa paixão. Se há algo duvidoso no que ele representa, bom… aí já é outra história.

*Urchin foi exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ainda não há previsão de estreia para o filme no circuito comercial brasileiro.

Nota do Crítico

Urchin

2025
100 min
País: Reino Unido, EUA
Direção: Harris Dickinson
Roteiro: Harris Dickinson
Elenco: Harris Dickinson, Frank Dillane
Onde assistir:
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