A ideia era promissora: depois de mais de 10 anos fora dos holofotes, uma atriz que era considerada uma estrela de sua geração retorna aos poucos, experimentando o comeback com aquelas despretensiosas - e facilmente produzidas - rom-coms da Netflix. O elenco de apoio é pouco conhecido, o orçamento é modesto e o contexto é garantido: o Natal, cenário rico para o mais puro romance água com açúcar. Que solo favorável para a aguardada - e por que não, querida - volta de Lindsay Lohan. Mas com tanta promessa e tão pouco risco, Uma Quedinha de Natal acabou atestando o pior: Lohan ainda não reencontrou nem seu carisma, nem seu talento.
Uma Quedinha de Natal segue a herdeira de uma rede de hotéis de luxo que perde a memória e aprende compaixão com uma família proprietária de uma pequena pousada. Retire-se o peso da expectativa criada em torno da volta de Lohan e o que resta é um filme de baixo impacto daqueles que servem no streaming para ocupar o top numa semana e fazer volume no catálogo a partir de então. Mesmo com esse prospecto sem pretensões, é uma pena que a presença da atriz seja uma tristeza de assistir.
É difícil entender exatamente o que se passa por trás do olhar esvaziado de Lohan em Uma Quedinha de Natal. A atriz, que marcou o cinema popular americano do começo dos anos 2000 com presença e timing em comédias românticas e filmes-família, não parece muito interessada em reivindicar para si novamente essa posição. Se é perda de talento ou falta de esforço, fato é que Sierra Belmont, a personagem de Lohan em 2022, é inexpressiva, e sua atuação faz da “jovem inexperiente” uma personagem simplesmente irritante de assistir.
Por mais que todo o universo de Uma Quedinha de Natal seja frágil - desde a família esquisita dona da pousada, a presença esporádica do (sim!) Papai Noel ou o “alívio cômico” insuportável do noivo de Sierra Belmont, Tad (George Young) - tudo encaixaria não fosse a presença descolada de Lohan. São suas interações com o universo que evidenciam tão claramente o absurdo a que estamos assistindo. Para quem não se atenta às cenas tecnicamente estranhas, é difícil não perceber o desconforto de todos que contracenam com ela, e a dificuldade geral de entrosamento na produção.
Nem pequenas referências ao passado de Lohan - como o contexto perfeito para fazê-la cantar “Jingle Bell Rock” e relembrar tempos de Meninas Malvadas - nem o paralelo da personagem privilegiada com a vida conturbada da atriz salvam sua triste empreitada aqui. Mas há um contrato de diversos filmes já assinados com a Netflix, e a realidade é que Uma Quedinha de Natal já atingiu seu propósito comercial, chegando ao topo em diversos países e abrindo espaço para mais produções com Lohan no catálogo. E se é falta de prática que prejudica a atriz, resta torcer para que a Netflix seja uma oportunidade de treinamento e não só um ganha-pão.
Ano: 2022
Direção: Janeen Damian
Elenco: Lindsay Lohan, Chord Overstreet, George Young
