Filmes

Crítica

Uma Quase Dupla

Comédia com Tatá Werneck traz frescor ao gênero sem abrir mão da sua personalidade

18.07.2018, às 14H28.
Atualizada em 18.07.2018, ÀS 15H48

A imagem que se tem da comédia nacional hoje não é das mais positivas. Associa-se ao gênero narrativas não muito inovadoras e performances bastante exageradas e nem sempre engraçadas. Mas, aos poucos esse estigma começa a se desfazer com o lançamento de novas produções, como Uma Quase Dupla, que consegue atingir todos os públicos, sem precisar abrir mão da sua personalidade.

Youtube/Reprodução

No longa, Tatá Werneck vive Keyla, uma detetive prática e bem-sucedida do Rio de Janeiro que é enviada para o pequeno município de Joinlândia com a missão de resolver um assassinato bizarro. Lá, ela tem que trabalhar com Cláudio, o policial inexperiente interpretado por Cauã Reymond, que prefere sempre acreditar no lado bom das pessoas. Essas diferentes abordagens criam divergências entre os personagens, mas eles precisam deixá-las de lado se quiserem encerrar o caso.

A estrutura narrativa da investigação é bastante familiar ao que se convencionou nas séries policiais, mas o diretor Marcus Baldini consegue usar essa referência de modo mais lúdico. Brincando com a ideia de que aquela cidadezinha no interior está parada no tempo, ele usa os ângulos de câmera mais dinâmicos das produções dos anos 1970 e explora, sem reservas, a trilha sonora tradicional daquela época para criar suspense e humor. Os cenários e os figurinos seguem essa tendência, mesmo com a trama contemporânea. Assim, os desentendimentos dos protagonistas e, consequentemente, as situações cômicas começam já no visual do filme, com o contraste entre o novo e o antigo.

Embora não tente “reinventar a roda”, os roteiristas Ana Reber e Leandro Muniz (com colaboração da própria Werneck, Fernando Fraiha e Daniel Furlan) criam diálogos consistentes e ácidos, que montam uma boa base para os atores serem criativos nas performances. É interessante notar ainda que o texto brinca com assuntos variados, desde a música da Maria Gadú “Shimbalaiê” e o filme Seven, até os brindes das revistas de celebridade, mas sem deixar rebarbas. Tudo se encaixa e a piada, além de divertir, enriquece a trama de alguma maneira.

Como uma boa comédia buddy cop, a alma do filme está na química de seus personagens. Tatá e Cauã trabalham o humor físico com muita naturalidade nas cenas de ação e encontram o equilíbrio no choque entre a personalidade exagerada de Keyla e a ingenuidade do Claudio. Famosa pelo seu humor rápido, é claro que a atriz se destaca pelo ritmo que dá aos diálogos e pela coragem que tem de se arriscar e fazer humor com o absurdo. Mas Reymond em nenhum momento ocupa uma posição de coadjuvante. Apesar de um ou outro pequeno deslize, ele mostra que também tem um bom timing cômico e surpreende o espectador, que se habituou a vê-lo em um contexto mais dramático.

Mesclando o humor físico e o sarcasmo, Uma Quase Dupla constrói situações realmente engraçadas, mas sem perder de vista para onde a história está caminhando. Ainda que recorra a um ou outro recurso já esgotado do gênero, o filme traz uma sensação de frescor não somente pela preocupação estética e com o enredo, mas principalmente porque não tem receio de ser idiota. E o melhor: não deixa nem um pouco óbvio quem é o assassino.

Nota do Crítico
Ótimo
Uma Quase Dupla
Uma Quase Dupla

Ano: 2018

País: Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 108 min

Direção: Marcus Baldini

Roteiro: Leandro Muniz

Elenco: Ary França, Louise Cardoso, Cauã Reymond, Tatá Werneck

Onde assistir:
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