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Filmes
Crítica

Um Filho encontra tragédia pungente nas falhas de comunicação familiares

Filme de Florian Zeller pode parecer apoiado no diálogo, mas é melhor mesmo nos silêncios

Omelete
4 min de leitura
CC
23.03.2023, às 18H03.
Cena de Um Filho (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Um Filho (Reprodução)

Muito da angústia sentimental genuína que Um Filho transmite para o espectador se materializa em momentos nos quais o adolescente Nicholas (Zen McGrath) é confrontado diretamente pelos pais, Peter (Hugh Jackman) e Kate (Laura Dern), sobre o seu comportamento errático e deprimido. Em cada uma dessas cenas, das quais Um Filho tem talvez uma mão cheia, o roteiro de Florian Zeller e Christopher Hampton empurra habilmente os personagens na direção de uma ruptura de consciência que seria fundamental para evitar a tragédia para qual a trama se encaminha - mas, em cada uma delas, os personagens falham em pronunciar as palavras que concretizariam essa ruptura, perpetuando a comunicação incompleta que define a família no centro do filme.

De certa forma, é muito mais fácil escrever uma história que soletra todas as suas nuances em diálogo do que uma história cujo próprio desfecho depende e muito daquilo que os personagens deixam de dizer uns para os outros. Nesse sentido, Um Filho é um trabalho dramático até mais consumado do que o filme anterior de Zeller, Meu Pai, que foi uma das grandes figuras do Oscar 2021 - e com o qual esta nova obra divide laços narrativos, uma vez que Anthony Hopkins interpreta o mesmo personagem em ambos os longas. Enquanto Meu Pai abusava de recursos cinemáticos para nos colocar na visão confusa de um paciente de Alzheimer, Um Filho escolhe uma abordagem visual e narrativa direta, folhetinesca, e luta para encontrar a ressonância que essa escolha tem potencial de causar.

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Na trama, Peter e Kate se divorciam quando ele a troca pela mais jovem Beth (Vanessa Kirby), tornando-se pai novamente com a nova esposa. Nicholas inicialmente vai morar com a mãe, mas começa a ter problemas na escola e expressa desejo de se mudar para o apartamento de Peter e Beth, onde mexe com a dinâmica da nova unidade familiar. As situações dramáticas de Um Filho carregam toda aquela artificialidade de um novelão de Manoel Carlos, e Zeller não abre mão de recursos típicos do gênero: vide o momento que ele escolhe subir o volume da trilha sonora orquestrada de (acredite se quiser!) Hans Zimmer ao focar a câmera em um melancólico Nicholas enquanto Peter e Beth dançam juntos animadamente a poucos centímetros dele, na sala de estar.

Tal como os melhores folhetins, no entanto, Um Filho se utiliza do melodrama para desvelar algo inegavelmente verdadeiro da natureza humana e das relações que estabelecemos. Neste caso, Zeller e cia. pintam, com o protagonista Peter, um retrato preciso de como as crueldades infligidas a nós marcam a forma como nos comunicamos com aqueles que mais amamos - especialmente se tais crueldades nos ensinaram a proteger as verdades mais vulneráveis da nossa identidade com uma carapaça de sucesso externo e organização metódica. No fim das contas, Peter não consegue se obrigar a compreender Nicholas, até porque não tem as ferramentas para fazer isso, e a decisão final tomada pelo personagem é reflexo desse mesmíssimo desencontro.

Amarrado a este protagonista, Hugh Jackman trabalha aqui uma atuação de dilemas profundamente internalizados, que escapam na tela através da linguagem corporal: o elegante e sisudo Peter aos poucos se desconstrói em posturas desconfortáveis, culminando em um desmoronamento físico que é o que mais impressiona na cena cruel que fecha Um Filho. Ao redor dessa performance construída de forma tão granulada, o restante do elenco é responsável por balançar o pêndulo para o outro lado e aumentar a intensidade do drama - missão cumprida com competência variável, mas na qual Vanessa Kirby, expert em construir mulheres elegantemente sanguíneas, se sai particularmente bem.

No fim das contas, é fácil entender porque Um Filho não conseguiu repetir o sucesso crítico e acadêmico de Meu Pai, mesmo tendo grande parte da mesma equipe e até se aproximando do antecessor ao abordar o tema da saúde mental. Acontece que, ao invés de tentar transformar uma peça de teatro sobre relações familiares em uma obra plenamente cinematográfica que imerge o espectador em uma condição psíquica, talvez até para nos distrair de tudo aquilo que permanece não dito entre pais e filhas (e sogros e genros), Meu Filho confia plenamente na força do seu drama, e entende que sua mensagem exige a crueza exacerbada - mas, de certa forma, gentil - do novelão.

A Academia pode não ter mordido a isca, mas o espectador brasileiro, criado desde sempre na sombra desta forma de arte, sabe muito bem a força que ela tem.

Nota do Crítico

Um Filho

The Son

2022
123 min
País: Reino Unido/França
Direção: Florian Zeller
Roteiro: Christopher Hampton, Florian Zeller
Elenco: Laura Dern, Anthony Hopkins, Hugh Jackman, Vanessa Kirby, Zen McGrath
Onde assistir:
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