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Crítica

Um Alguém Apaixonado | Crítica

Abbas Kiarostami toma o pulso acelerado de Tóquio numa comédia romântica de erros

19.10.2012, às 13H48.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

O cinema só tem a ganhar se Abbas Kiarostami, como Woody Allen, decidir transformar num hábito a ideia de rodar filmes em lugares distintos. O mais importante cineasta do Irã saiu do seu país e foi ao Velho Mundo fazer Cópia Fiel, e agora roda Um Alguém Apaixonado (Like Someone in Love) em Tóquio. Os dois filmes formam um díptico interessante porque representam opostos: o peso histórico da Europa contra o motor da modernidade efêmera na capital japonesa.

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like someone in love

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Se Cópia Fiel, com suas referências ao passado, era um filme de muitos tempos em um, Um Alguém Apaixonado é um filme de muitos espaços em um. Sai a carga da história, representada no flanar, no pedestrianismo, e entra o imediatismo de viver tudo agora, acelerado pelos muitos deslocamentos de carros ao longo do filme. Kiarostami não chega ao ponto de filmar Um Alguém Apaixonado inteiro dentro de um carro, como já fez no Irã em Dez, mas foi quase.

Os dois cenários que servem de começo e fim para essa história de deslocamentos são um bar e um apartamento. No bar, a acompanhante de luxo Akiko (Rin Takanashi) aceita contrariada quando seu cafetão manda ela pegar um táxi até um endereço a uma hora de Tóquio, o apartamento de um velho professor e tradutor, Takashi (Tadashi Okuno). Presume-se que Takashi é o tal personagem que age "como alguém apaixonado" do título, porque inicialmente ele só quer aproveitar a companhia de Akiko com um tranquilo jantar romântico em seu apê, e rapidamente sua vida está tão desarranjada quanto os corações dos amantes.

A comparação com Woody Allen vem ao caso porque Um Alguém Apaixonado começa dramático mas se desenrola como uma comédia de erros romântica. E nunca uma personagem foi tão portadora de malentendidos quanto Akiko. Kiarostami faz um filme em que os espaços se confundem porque a cacofonia do bar no início - em que pessoas trocam de lugares para manter conversas paralelas - depois se transfere para o apartamento do velho, desde o momento em que o telefone toca quanto Akiko chega. Logo Takashi estará lidando com o barulho das aulas de inglês e com a vizinha curiosa (cujo mundo restrito não poderia ser melhor representado do que com a janelinha por onde ela espia a vida dos outros).

É como se Akiko, a garota de programa, que pela própria definição da sua profissão é uma pessoa eternamente em trânsito existencial, carregasse consigo as atribulações do mundo - e os reflexos da janela do carro no rosto da simpática Rin Takanashi, durante o passeio à noite na cidade, dão plenamente conta disso. E é com esse descompromisso panorâmico, por vezes hilariante e outras bastante triste, que Abbas Kiarostami encontra uma forma no Japão para falar sobre a sufocante onipresença da modernidade.

Um Alguém Apaixonado | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Um Alguém Apaixonado
Like Someone in Love
Um Alguém Apaixonado
Like Someone in Love

Ano: 2012

País: Japão, França

Classificação: 18 anos

Duração: 109 min

Direção: Abbas Kiarostami

Elenco: Rin Takanashi, Tadashi Okuno, Ryō Kase, Denden

Onde assistir:
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