Truque de Mestre — O 3º Ato se prende ao próprio escapismo narrativo
Filme tenta tirar coelho da cartola com trama mais tecnológica, mas dá passo maior que a perna
Créditos da imagem: Lionsgate/Divulgação
Achar que um quarteto de mágicos sorrateiros pode derrubar um império corrupto já exige demais da suspensão de descrença do público, porém, Truque de Mestre - O 3º Ato dobra a aposta e coloca os ilusionistas em uma guerra secular contra nazista e criminosos da pior espécie. Ao mesmo tempo em que tenta resgatar a essência que tornou a franquia tão apaixonante, o novo filme também busca novos rostos para seu trama — um indício de que há preocupações com o futuro.
Enquanto o primeiro filme trouxe o personagem de Mark Ruffalo — Dylan Rhodes — como um cavaleiro disfarçado, o segundo introduziu Lula (Lizzy Caplan) como substituta de Henley Reeves (Isla Fisher). Já o terceiro o longa-metragem, de Ruben Fleischer, tenta refrescar essa atmosfera pré-estabelecida com um núcleo jovem, que flerta com as principais características da geração Z, e com isso Justice Smith, Dominic Sessa e Ariana Greenblat se juntam ao elenco como verdadeiros “aprendizes de feiticeiro”.
Logo no início vemos que ambas as gerações estão prestes a construir relações fortes. Enquanto os Cavaleiros estão inativos desde seu último grande truque, o trio de arruaceiros usa seus rostos famosos para aplicar golpes em jovens milionários. Essa onda de aparições leva Atlas (Jesse Eisenberg) direto para eles e, juntos, o agora quarteto bola um plano fantástico para derrubar uma herdeira milionária que perpetua a lavagem de dinheiros para os piores crimes da humanidade.
O plano consiste em roubar um diamante — o maior já encontrado — para expor os podres relacionados ao esquema criminoso que perdura há décadas sob o comando da vilã Veronika, de Rosamund Pike. Porém, a decisão tem consequência que levam ao reaparecimento de todos os Cavaleiros originais e também a uma fuga com cara de Fórmula 1. E por mais que esse encontro pareça ser um choque geracional, isso fica somente para o roteiro, já que em termos de atuação todos mostram ser as escolhas certeiras para seus respectivos papéis.
Essa equidade de talento é aproveitada pelo longa, que inicia o que parece ser a passagem de bastão para a futura geração de mágicos; um conceito que vai muito além do marketing em torno de manter a franquia viva, sendo usado para justificar várias escolhas do roteiro. Enquanto a geração mais velha aposta em truques clássicos de ilusionismo e mágica, os mais jovens usam tecnologias de ponta para os seus shows em uma dinâmica que perpassa por toda a história da mágica.
Mas mesmo com todas essas boas intenções, o roteiro conta com problemas que ele próprio parece não querer lidar, como a sua ambiciosa trama sobre a luta histórica entre mágicos e nazista, e o próprio conceito de derrubar organizações criminosas com alguns truques de mágica. E para a infelicidade do projeto, a direção não ajuda muito nesse ponto e, desta vez, olhar demais para o ilusionista pode acabar revelando os segredos por trás da mágica — que na maioria das vezes é feita de CGI.
Ao apostar alto na entrega do público à sua trama, o filme cria narrativas que somente os mais desapegados conseguem abraçar, colocando em risco a experiência do espectador. Tentando fazer um escapismo da realidade em seu próprio universo, Truque de Mestre — O 3º Ato dá uma passo maior do que podia e falha em desenvolver questões que ele mesmo propôs, estabelecendo uma nova régua para um possível futuro. Ainda assim, o filme cumpre seu papel de entreter quem se permite ser enganado, afinal, é assim que a mágica funciona.
Truque de Mestre - O 3º Ato
Now You See Me: Now You Don't
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