A Timidez das Árvores mostra que nem toda semente está pronta para germinar
Curta-metragem francês traz rápido e potente debate sobre o luto
A morte sempre dói mais para quem fica. O dito popular sobre a angústia de famílias enlutadas casa como uma luva no profundo curta A Timidez das Árvores. Em menos de nove minutos, a animação francesa revira os traumas e medos de quem já perdeu um amado, mas ainda passa sua mensagem com doçura e uma sensação de conforto tipicamente maternal.
Nessa história conhecemos Hélène, uma mulher de 40 anos que visita a mãe idosa no interior da França. Quando chega na residência, ela logo percebe que algo mudou por ali. Sua mãe parece ter criado um vínculo incomum com as plantas, insetos e especialmente com o velho pé de carvalho isolado do fundo do jardim. Essa gigantesca árvore contradiz o próprio conceito do título do filme, que se refere a um conceito presente em locais mais arborizados. Constatar isso leva o espectador até onde os sete diretores querem: a relação entre as duas personagens.
Tanto a protagonista quanto sua mãe não parecem mais caber no mesmo espaço. Aspirações, prioridades e estilos de vida as separam mesmo quando elas dormem na mesma cama. Assim, como as “árvores tímidas” das florestas, seus pensamentos já não se tocam. A duração curta acelera o ritmo da história, que aposta na sutileza dos detalhes para amarrar os conceitos que o filme não tem tempo para explorar na relação distante entre mãe e filha.
São escolhas acertadas, que fazem do curta um relato profundo e de fácil assimilação. E enquanto o roteiro se apega a pequenas observações para tornar a narrativa mais eficiente em poucos minutos, o trabalho de animação dá um tom mais caseiro às cenas. Mesmo sem o orçamento de um gigantesco estúdio, os traços simples em 2D e as cores em tons pastéis tornam as cenas mais acessíveis aos olhos. O mesmo vale para a trilha sonora, que sabe o momento certo de tocar o coração do espectador.
Esses pontos fortes ficam claros no final do curta, quando vemos uma última troca de afeto entre as personagens. A sequência, carregada de drama, divide o luto em dois extremos e faz dessa dicotomia uma verdadeira piada sarcástica da própria vida. A partida sem arrependimentos da mãe a eterniza em seu último suspiro, enquanto a dor incessante da filha mostra que ela nunca estaria pronta para isso — ninguém nunca está.
Com isso, A Timidez das Árvores sucede nos tópicos que se propõe e se torna uma obra notável entre outras produções mais maduras — especialmente quando se considera que essa se trata de uma produção estudantil. Seu excesso de sentimento somente o eleva e o torna uma obra feita para quem tem saudade.
A Timidez das Árvores
The Shyness of Trees
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