Justice Smith e Sydney Sweeney com binóculo na mão em The Voyeurs

Créditos da imagem: The Voyeurs/Amazon Prime Video/Reprodução

Filmes

Crítica

The Voyeurs mira no suspense erótico com trama rocambolesca

Cheio de metáforas rasas, longa estrelado por Sydney Sweeney poderia ser uma paródia, mas se leva a sério demais para seu próprio bem

Omelete
3 min de leitura
15.09.2021, às 10H12.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H47

A vida alheia é, via de regra, interessante. Ainda que o outro seja monótono ou desimportante, a oportunidade de ter um vislumbre da sua intimidade é, instintivamente, tentadora. Por isso, é muito simples entender o ímpeto do casal do suspense erótico The Voyeurs: antes de formularem qualquer ideia sobre o que significa observar os vizinhos, eles sentem a curiosidade, a agitação de fazer algo em segredo e, claro, o desejo, e é justamente na efervescência da descoberta de que tem uma vista privilegiada do apartamento da frente que o diretor e roteirista Michael Mohan começa seu filme. No entanto, esse entusiasmo inicial se esgota rapidamente assim que The Voyeurs tenta ser mais esperto do que de fato é. Entre metáforas óbvias e rasas e a falta absoluta de química entre o casal principal, sobra uma trama rocambolesca -- sexy, mas que seria melhor aproveitada como farsa ou paródia.

No filme, Sydney Sweeney (Euphoria)e Justice Smith (Genera+ion) vivem Pippa e Thomas, jovens apaixonados que acabam de dar um passo significativo na sua relação mudando-se juntos. Por mais espaçoso que seja o apartamento que escolhem, de cara ambos notam que as gigantescas janelas que tomam conta do imóvel de uma ponta a outra não têm cortinas -- um detalhe relevante para qualquer inquilino que preze por sua privacidade, mas que Pippa e Thomas cordialmente ignoram, sobretudo depois de acompanharem de camarote a vida sexual do misterioso casal do outro lado da rua. É claro que o que parecia uma inocente aventura para os protagonistas, sedentos por algum tipo de adrenalina diante do marasmo da sua vida a dois, ganha contornos mais dramáticos que se enveredam para discussões sobre privacidade, monogamia, senso de certo e errado e até um crime. A surpresa, contudo, não vem nos twists, mas no quão enfadonha é a construção de tensão até chegar neles.

Mohan usa e abusa de metáforas óbvias para estruturar sua fábula moderna, a começar pela obsessão previsível com o olhar, que vai desde a escolha da profissão de Pippa (oftalmologista) a um presente de boas-vindas pela casa, isto é, um bebedouro para pássaros. Isso porque, segundo a chefe da protagonista, esses animais são conhecidos no Japão como “dois olhos com asas”, curiosidade imediatamente seguida pelo conselho: "lembre-se de como a visão da nossa própria espécie é imperfeita". Quer dizer, o tempo todo, no discurso e nas imagens, Mohan lembra o espectador que seus olhos podem estar pregando peças. A repetição destes recursos, a falta de traquejo para incrementar a história e seus personagens e a lentidão da trama, somados, tornam insuportáveis a espera pelo instante sexy da vez. A redenção chega no twist -- não pela sua originalidade, mas pela tosquice.

É quase como se estivéssemos diante de outro filme. A sensualidade, sugerida até nas trocas mais burocráticas entre os personagens, é deixada de lado para focar num melodrama intenso, com direito a revelação de um sentimento vilanesco sem qualquer nuance e a exposição da suposta moral da história. A seriedade com que tudo é posto em tela beira o cômico e, por isso mesmo, diverte mais do que qualquer outro momento das quase duas horas de The Voyeurs.

Se ao menos Michael Mohan tivesse investido por completo na paródia, talvez o final do filme não salientasse o quão frustrante ele realmente é. Mas quando Pippa é vista pela última vez, evocando um heroísmo sem muita justificativa, é a constatação de que vale a pena, sim, resistir aos impulsos de bisbilhotar a vida alheia. Não porque o desejo pode se tornar uma obsessão perigosa, capaz de colocar em risco seu relacionamento monogâmico, como parece ser a mensagem do diretor, mas porque, contrariando as expectativas, pode ser apenas tedioso.

Nota do Crítico
Regular
The Voyeurs
The Voyeurs
The Voyeurs
The Voyeurs

Ano: 2021

País: Estados Unidos

Duração: 120 min

Direção: Michael Mohan

Roteiro: Michael Mohan

Elenco: Sydney Sweeney, Ben Hardy, Justice Smith, Natasha Liu Bordizzo

Onde assistir:
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