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Crítica

Terra de Ninguém | Crítica

Em tempos de atentados e incertezas, longa vida a Terra de Ninguém.

01.02.2002, às 01H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

A cinquentenária Casa Garabed, localizada na Zona Norte de São Paulo, conquistou sua fama devido aos seus apetitosos bolinhos de bacalhau e às suas fartas esfihas, uma das melhores da cidade. Mas um fato curioso, uma reunião providencial de pessoas, vitaminou ainda mais a aura do restaurante. Durante um almoço, na realidade a reunião do júri da 23ª Mostra Internacional de Cinema, em 2000, a cineasta e produtora belga Marion Hansel, o produtor independente Marco Muller, italiano de origem brasileira, e o croata Cedomir Kolar discutiam a viabilidade de um roteiro repleto de humor negro e crítica social, a respeito do conflito entre os sérvios e os bósnios na ex-Iugoslávia.

O produtor Kolar tentava convencer os colegas a financiar a idéia mirabolante de seu amigo, o iniciante roteirista e diretor bósnio Danis Tanovic. E conseguiu! Talvez a qualidade das esfihas tenha contribuído, pois a boa promessa Terra de Ninguém (No Mans Land) saiu da Casa Garabed com futuro garantido. Finalizado em 2001, enfim, o segundo filme de Tanovic ganhou o mundo. Em maio, na sua primeira projeção mundial, ganhou a Palma de Ouro de Melhor Roteiro em Cannes. Em outubro, levou o Prêmio do Público na 25ª Mostra, conhecida oficialmente como Mostra BR de Cinema. E, finalmente, já em 2002, desbancou fortes concorrentes, inclusive Abril Despedaçado, de Walter Salles, e foi escolhido pela imprensa norte-americana como Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro.

Idioma francês

O projeto tem realização conjunta de Bélgica, Bósnia-Herzegovina, França, Itália, Eslovênia e Reino Unido, seguindo a linha multinacional dos seus idealizadores. O filme trata o conflito na ex-Iugoslávia também de maneira universal. Dentro da ótica ácida de Tanovic, todas as guerras se assemelham pela estupidez do estopim, a ignorância dos combatentes e a hipocrisia dos negociadores de paz. A trama utiliza um artifício instigante: no campo de batalha, dois soldados inimigos, um bósnio e um sérvio, caem machucados na mesma trincheira. Para sobreviverem no meio do tiroteio, Chiki (Branko Djuric) e Nino (Rene Bitorajac) precisam cooperar. Não fosse tragédia suficiente, o bósnio Cera (Filip Sovagovic), também ferido na trincheira, recai sobre uma mina de fabricação norte-americana e ativa o mecanismo. Qualquer movimento fará o artefato explodir.

Desde o contato inicial entre os soldados até a conclusão do ocorrido, o humor negro pontua toda e qualquer situação. O riso sai fácil, mas fica a sensação perturbadora de que a crítica de Tanovic tem um fundamento inabalável. Chiki e Nino já namoraram a mesma garota, mas, na condição atual, nada os impede de se atacarem constantemente. A ajuda internacional chega, mas ninguém entende o idioma francês falado pelos militares da ONU. A imprensa aparece, mas também causa os seus estragos. E, finalmente, o alto escalão internacional das Nações Unidas (o alvo preferido de Tanovic) impede qualquer ação mais pragmática e atenuadora. Em tempos de atentados e incertezas, longa vida a Terra de Ninguém.

Nota do Crítico
Excelente!
Terra de Ninguém (2001)
No Man´s Land
Terra de Ninguém (2001)
No Man´s Land

Ano: 2001

País: França, Itália, Bélgica, Inglaterra, Slovênia

Classificação: 14 anos

Duração: 98 min

Direção: Salomé Lamas

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