Cena de Terra à Deriva 2: Destino (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Terra à Deriva 2: Destino (Reprodução)

Filmes

Crítica

Mais sóbrio que o primeiro, Terra à Deriva 2 passa quase 3h buscando faíscas

Sob o peso de fazer o grande blockbuster chinês, diretor luta para manter impulso criativo

Omelete
4 min de leitura
01.06.2025, às 06H00.
Atualizada em 03.06.2025, ÀS 12H26

Parte significativa do prazer de assistir a Terra à Deriva, sci-fi de 2019 que se tornou um dos maiores sucessos globais da história do cinema chinês, estava em se acostumar pouco a pouco à sensação de não entender exatamente o que estava acontecendo na tela, e se resignar a simplesmente aproveitar a vista. Afinal, que bela vista. O cineasta Frant Gwo, que antes deste fenômeno tinha no currículo apenas um par de comédias chinesas modestas, sequestrou a ficção científica de proporções absurdas de Cixin Liu para construir um mundo futuro calcado no gigantismo - monstruosidades mecânicas de CGI pintadas em laranja-magma e prédios espelhados congelados em uma ex-metrópole invadida pela nevasca, todos se erguendo de forma assustadora ao redor dos frágeis humanos que tentam sobreviver aqui no chão.

Terra à Deriva, apesar dos dez (sim, dez!) roteiristas creditados por ajudar a construir o script, era pouco mais do que uma sucessão de complicações que se enfileiravam diante de homens e mulheres que, o filme parecia querer sempre nos lembrar, não passavam de pequenos bonecos de porcelana na escala cósmica das coisas. E sim, é claro que o discurso de colaboração global e da “última chance da humanidade ser a esperança” era manjado, é claro que a ciência em torno da história ia se tornando mais atribulada e contraditória a cada reviravolta da trama, é claro que os personagens não se mostravam exatamente exemplos de tridimensionalidade. Mas quem seria capaz de ligar para isso, quando era tão espetacular assistir a esses bonecos de porcelana se recusando a quebrar?

Daí que chegamos a Terra à Deriva 2: Destino, a inevitável continuação da saga - um terceiro filme já está planejado para 2027, inclusive. Com mais dinheiro, sim, mas crucialmente muito mais expectativa em torno do seu trabalho e a perpetuação de seu sucesso, o mesmo Frant Gwo ressurge aqui… tímido, talvez seja essa mesmo a palavra. Possivelmente convencido da Importância™ e da Legitimidade™ de sua ficção científica, ele nos transporta para décadas antes dos eventos do primeiro filme e nos mergulha em uma história largamente burocrática sobre como o mundo foi convencido - por meio de muita manobra diplomática, mas também atos de coragem individuais, na melhor tradição da narrativa histórica chinesa - a adotar o plano que salvaria a Terra da extinção.

O resultado, claro, é um filme mais sóbrio que o primeiro. A ambientação mais próxima ao nosso presente previne Gwo de cercar seus personagens com as paisagens megalomaníacas que definiram Terra à Deriva, preteridas aqui pelos ambientes brancos, cinzas e marrons de prédios institucionais e estações de pesquisa aeroespacial que pouco se afastam da realidade. A escolha de acompanhar a implantação do plano, enquanto isso, demanda um texto mais centrado e informativo, que mantenha o espectador à par de múltiplas timelines cruciais para o sucesso da humanidade em sua “imigração” milenar. Com cinco roteiristas ao invés de dez, Destino se desdobra em uma quantidade em certo ponto ridícula de letreiros na tela (“2 horas para a explosão nuclear”! “150 dias para o incidente lunar”! “(Antigo) prédio disso e daquilo”! “(Novo) quartel-general de Fulano e Siclano”!) para localizar bem o público e, talvez, nos convencer de que realmente houve um esforço narrativo feito aqui, dessa vez.

Não é um esforço mal-sucedido, na verdade… eles só esqueceram de nos perguntar se era isso que queríamos. E, francamente, é agonizante ver um artista cheio de energia inventiva como Gwo constantemente tentando escapar das grades que este filme auto importante lhe impõe. Ele consegue, várias vezes, dando a Destino os seus momentos mais interessantes através da imagem - com o diretor de fotografia Michael Liu, por exemplo, Gwo se aproveita dos ambientes corporativos cheios de vidros e espelhos para brincar com reflexões, sobrepondo personagens para nos indicar os feixes que os conectam, mesmo que eles nunca voltem a dividir a cena durante o filme. Inegável que há algo aqui, uma busca por conexão com o público que mora mais no visual do que no conteúdo, e que por vezes se realiza.

Mas, enquanto Terra à Deriva era um filme de encontro, conforme o espectador aprendia a relaxar e curtir a viagem, Terra à Deriva 2 é um filme de busca - e a primeira coisa é inegavelmente mais satisfatória que a segunda.

*Terra à Deriva 2: Destino chega aos cinemas brasileiros em breve, com distribuição da Sato Company.

Nota do Crítico
Bom

Terra à Deriva 2: Destino

Liú Làng Dì Qiú 2

Ano: 2023

País: China

Duração: 173 min

Direção: Frant Gwo

Roteiro: Yang Zhixue, Gong Geer, Frant Gwo, Hongwei Wang, Ruchang Ye

Elenco: Andy Lau , Jing Wu , Daniela Tassy , Zhi Wang , Xuejian Li , Yanmanzi Zhu

Onde assistir:
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