Ted Bundy: A Confissão Final

Créditos da imagem: XYZ Films/Divulgação

Filmes

Crítica

Ted Bundy: A Confissão Final é olhar tenso, mas raso, sobre um psicopata

Longa de Amber Sealey explora charme que transformou serial killer em figura da cultura pop

Omelete
3 min de leitura
17.08.2022, às 11H01.

Mais de 30 anos depois da morte de Ted Bundy, o assassino em série continua tendo sua história revisitada pela indústria do entretenimento. O charme, o cinismo e, de certa forma, a genialidade do serial killer evidenciados em entrevistas, documentários e aparições em tribunais despertaram fascínio num público distante das atrocidades cometidas por ele. Em Ted Bundy: A Confissão Final, a diretora Amber Sealey torna essa curiosidade justificável ao retratar, de forma tensa, as entrevistas de Bundy, vivido por Luke Kirby, com o agente do FBI Bill Hagmaier, interpretado por Elijah Wood.

Limitando-se o máximo possível à sala de interrogatório em que Bundy e Hagmaier conversavam ao longo dos anos 1980, Sealey cria um ambiente assustadoramente intimista, que faz com que o público se sinta frente a frente com o assassino enquanto ele tenta manipular seu interrogador. Tensas, as conversas entre os dois se desenvolvem como encantadores jogos de xadrez e, embora a culpa de Bundy nunca seja questionada, A Confissão Final expõe cada ponto que fez com que ele se tornasse um mito brutal na cultura pop. Mesmo que não traga nenhum fato novo sobre os 28 assassinatos de Bundy, o longa conquista a curiosidade do público ao focar em seu magnetismo e nos efeitos que ele tinha sobre guardas, advogados e agentes federais.

Assim como não apresenta nenhuma grande novidade em relação às ações de Bundy, o roteiro de Kit Lesser também não traz nada de novo para o gênero do true crime, com a tensão do longa se apoiando mais no carisma de seus protagonistas do que no texto. Em um trabalho irregular e formulaico, o roteirista ensaia uma crítica à espetacularização da brutalidade, mas mostra apreensão em aprofundá-la, levando a um retrato raso tanto do assassino quanto do momento histórico em que ele se insere.

Por mais interessantes que sejam os encontros entre Bundy e Hagmaier, o texto de A Confissão Final faz com que o jogo de gato e rato entre eles se torne repetitivo antes mesmo do final do segundo. Embora Kirby e Wood impeçam que o longa fique cansativo, eles não disfarçam a falta de substância no trabalho de Lesser.

Sealey, por outro lado, transforma essa superficialidade do texto em 100 minutos de tensão. Mesmo que já se saiba o desfecho dos encontros de Bundy e Hagmaier, A Confissão Final nunca perde a atenção do espectador, seja por seu ritmo envolvente ou pela forma inteligente como a diretora enquadra cada peça e personagem em cena. Detalhista, a cineasta foca a câmera em anotações, embalagens de chiclete e microexpressões que, mesmo quando irrelevantes para a trama, somam à atmosfera pesada da sala de interrogatório.

Apesar da competência de Sealey, são os dois atores principais que carregam A Confissão Final. O carisma de Kirby transforma Bundy em uma figura simpática, a ponto de o público se identificar com o perfil que o assassino vende para seu interrogador e se assustar quando ele inevitavelmente estoura em uma confissão. Ao mesmo tempo, Wood serve como um contraponto brilhante ao cinismo trazido por seu colega de cena, desarmando-o com empatia e serenidade e equilibrando o jogo mental que move a trama.

Mesmo sob o encanto das atuações de Kirby e Wood, é difícil ignorar a superficialidade dos diálogos. Se tivesse sido escrito com o mesmo cuidado com que foi dirigido, Ted Bundy: A Confissão Final poderia facilmente se colocar entre uma das melhores produções sobre o infame serial killer. Infelizmente, o longa fica aquém de seu potencial e dificilmente chamará a atenção fora da bolha dos fãs de true crime.

Nota do Crítico
Bom
Ted Bundy: A Confissão Final
No Man of God
Ted Bundy: A Confissão Final
No Man of God

Ano: 2021

País: Estados Unidos

Classificação: 14 anos

Duração: 100 min

Direção: Amber Sealey

Roteiro: Kit Lesser

Elenco: Luke Kirby, Elijah Wood

Onde assistir:
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