Sugarcane é retrato assustador dos abusos da Igreja Católica contra indígenas

Créditos da imagem: Nat Geo/Reprodução

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Crítica

Sugarcane é retrato assustador dos abusos da Igreja Católica contra indígenas

Documentário indicado ao Oscar é ainda mais poderoso por sua narrativa comedida

Omelete
3 min de leitura
28.02.2025, às 12H08.

Assistir a Sugarcane: Sombras de Um Colégio Interno pode ser uma experiência extremamente desconfortável. O documentário indicado ao Oscar 2025 é anunciado como uma "investigação" sobre os crimes cometidos por missionários católicos contra povos indígenas do Canadá ao longo de um século, mas é igualmente bem-sucedido como um estudo do trauma herdado e como isso afetou toda uma comunidade em crise, e coloca o dedo na ferida sem se preocupar com a dor.

O que faz Sugarcane ser tão poderoso é o fato de ser retratado com um olhar pessoal. Julian Brave NoiseCat, codiretor ao lado de Emily Kassie, é filho e neto de dois sobreviventes do St. Joseph’s Mission, uma escola residencial indígena perto da Reserva de Sugarcane. A dupla acompanha um grupo de investigadores locais que buscam colocar luz em uma série de abusos praticados pelos padres e freiras que lá lecionavam, e cujos pecados marcaram a vida de milhares de jovens indígenas.

As crianças foram submetidas a crimes indizíveis nessas chamadas instituições "residenciais", operadas exclusivamente pela Igreja Católica, fazendo com que muitas delas tirassem suas vidas à medida que cresciam e se davam conta dos abusos. A magnitude da tragédia, que é revelada gradualmente ao longo do filme, é imensurável. Jovens abusadas que acabavam engravidando eram mortas ou tinham que entregar seus filhos aos superiores, e o resultado disso é um cemitério com quase 100 covas, das quais mais da metade não têm registro oficial.

Os traumas vistos ultrapassam gerações e, enquanto os responsáveis fogem de dar explicações, os sobreviventes sofrem ao relembrar todo o passado nebuloso dos dias que passaram lá. Desde sempre essas vítimas eram ignoradas ou silenciadas, obrigadas a esconder essas lembranças sombrias nos cantos mais profundos do coração. NoiseCat e Kassie captam esse sofrimento de forma comedida e com um ar sufocante, quase fúnebre, no qual é quase impossível não ficar impactado com as descobertas feitas pelos investigadores.

Acima de tudo, Sugarcane é o produto de cineastas humanos que estão determinados a nunca deixar ninguém esquecer do que aconteceu naquela escola, e colocam sua indignação moral em primeiro lugar. Ainda assim, permanece uma suspeita velada de que seus melhores esforços para encontrar justiça para os vivos - e os mortos -, por mais louváveis ​​que sejam, são parte de uma campanha que pode ser interminável. Isso fica claro quando um grupo de sobreviventes viaja até o Vaticano para expôr os crimes cometidos e são recebidos com frieza e promessas aparentemente vazias de algo será feito.

No final, Sugarcane é a síntese do que deve ser feito para impedir que estes horrores voltem a existir, seja qual foi o lugar ou a comunidade. O documentário afirma com eloquência que, se quisermos retificar as violências passadas e presentes do colonialismo, não temos escolha a não ser agir.

Sugarcane: Sombras de Um Colégio Interno está disponível no catálogo do Disney+.

Nota do Crítico
Ótimo

Sugarcane: Sombras de Um Colégio Interno

Sugarcane

Ano: 2024

País: Canadá

Classificação: 18 anos

Duração: 107 min min

Onde assistir:
Oferecido por

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