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Filmes
Crítica

Suçuarana é bom road movie à brasileira com toque de terror fantasmagórico

Filme mineiro reflete com certa potência sobre o destino dos sem destino

Omelete
3 min de leitura
17.09.2025, às 06H30.
Cena de Suçuarana (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Suçuarana (Reprodução)

Conta a diretora Clarissa Campolina que o lampejo para realizar Suçuarana aconteceu quando ela leu A Fera na Selva, celebrada obra de Henry James. Naquele livro, o protagonista desperdiça sua vida esperando, impávido, pela chegada de um momento mágico. Agarrado à certeza de que há um “grande destino”, trágico ou glorioso, esperando por ele, o personagem criado por James não se permite realizar nada de concreto no agora.

É num limbo muito parecido, de fato, que vive Dora (Sinara Teles). Há dez anos, se você acreditar na palavra dela, a protagonista de Suçuarana vaga pelas estradas mais remotas de Minas Gerais, sem se deter muito em qualquer lugar. Dora está em busca do Vale do Suçuarana, um local mencionado por sua falecida mãe décadas atrás, durante uma das poucas folgas que tinha do trabalho.

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Durante a quase 1h20 de metragem de Suçuarana, vai ficando claro aos poucos que o tal Vale não existe. Dora poderia muito bem estar à procura de Eldorado, do continente perdido de Atlantis, ou (talvez mais apropriadamente) das terras utópicas de Shangri-lá: a região onde a mãe lhe prometeu construir uma casa na qual a família poderia ser feliz e viver uma rotina estável. É uma possibilidade que, intuímos muito facilmente através da atuação cristalina de Teles, nunca foi tangível na vida da nossa endurecida protagonista. 

Ela se agarra ao Vale do Suçuarana, e se recusa a reconhecer a futilidade dessa busca, porque a busca é a única coisa que lhe resta. Diante dessa personagem que não pode parar, Campolina e seus parceiros criativos (ela divide com Sérgio Borges a direção, e com Rodrigo Sorogoyen o roteiro) atacam a forma evidente de cinema que se encaixa nela: o road movie, é claro.

Como filme de estrada, Suçuarana triunfa principalmente por abordar cada personagem que cruza o caminho de Dora com olhos e ouvidos atentos. Não é surpresa que a mineira Campolina saiba replicar os ritmos e reações de seus conterrâneos, e a parceria com o espanhol Sorogoyen (diretor do elogiado As Bestas) gera também um filme de estrutura bem definida. Cada capítulo da viagem de Dora tem seu tempo e seu timbre, do acolhimento à hostilidade.

Esse poema tonal se completa com um par de versos que se aproximam do terror, ou ao menos da história dramática de fantasma — não por acaso, a especialidade de Henry James. Suçuarana conta da Minas Gerais definida por fábricas e vilas abandonadas, fruto de promessas de progresso que se quebraram, povoada por grupos alternativos que assombram as construções arruinadas que ficaram para trás.

É um povo à deriva, mas nem todos são como o protagonista de A Fera na Selva ou como Dora, à espera de algo que muito provavelmente não vai chegar. Como todo bom road movie (e, de certa forma, como todo filme de fantasma), a protagonista tem algo a aprender com aqueles que encontra pelo caminho. No fundo, Suçuarana é a história de comunidades que se arranjam, bem à brasileira, onde mal há espaço para se arranjar.

Agarrando-se uns aos outros, criando um passado compartilhado que os faça menos sozinhos, essas pessoas — interpretadas no filme pelos membros da Guarda de Moçambique de Ouro Preto, um grupo de artistas que preserva tradições locais — fazem com que seguir por aí sem rumo ganhe alguma sombra de sentido. No mundo de pouca esperança que Suçuarana nos apresenta, é mais do que o bastante.

Nota do Crítico

Suçuarana

2024
85 min
País: Brasil
Direção: Sérgio Borges, Sérgio Borges, Clarissa Campolina
Roteiro: Rodrigo Sorogoyen, Clarissa Campolina
Elenco: Sinara Teles, Carlos Francisco
Onde assistir:
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