Em Sound of Falling, somos espectadores de um século do sofrimento feminino

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Em Sound of Falling, somos espectadores de um século do sofrimento feminino

Leia nossa crítica do filme de Mascha Schilinski no Festival de Cannes 2025

Omelete
4 min de leitura
15.05.2025, às 07H00.

Estamos nos anos 1910 quando vemos a pequena Alma (Hanna Heckt) acompanhar com atenção as práticas fúnebres de sua família, morando numa enorme casa no interior da Alemanha. Ali mesmo, 30 anos depois, Erika (Lea Drinda) e sua irmã precisarão aprender a viver durante a ascensão de Hitler. Já em 1980, quando o país está dividido em dois, Angelika (Lena Urzendowsky) se vê num vai-e-vem entre desconforto e atração quando nota o olhar de adultos, incluindo um tio, em direção a seu corpo. É uma preocupação que Lenka (Laeni Geiseler) também sentirá, agora no Século 21, mas que felizmente não se aplica à sua irmã mais nova Nelly (Zoë Baier), cujos maiores problemas parecem ser pesadelos. Com exceção da ordem cronológica deste parágrafo, é assim que Sound of Falling apresenta as mulheres que protagonizam seu centenário de histórias.

Há outras, claro. Irmãs, tias, mães, criadas, vizinhas. Todas elas, independente do grau de protagonismo, não só eventualmente se revelam como elos entre os quatro capítulos do filme de Mascha Schilinski, como também produzem ecos que transcendem o tempo (mas, crucialmente, não o espaço) durante esses 100 anos. Comportamentos, dilemas e interesses parecem ser compartilhados entre todas as habitantes daquela casa, sejam elas judias tradicionais ou adolescentes inseguras com seus seios na era digital, e através desses retratos, descobrimos como o sofrimento feminino, muitas vezes silencioso mas nunca menos brutal, ganhou – ou não – novas formas.

Filmado como se a diretora fosse uma parente rodando vídeos caseiros, íntimos e reveladores que um dia serão assistidos por netas e filhas sofrendo das mesmas coisas, Sound of Falling é, em proposta e formato, frequentemente arrebatador. À exceção de ter uma fotografia que deixa as imagens cheias de ruídos de câmeras familiares – algo que Schilinski até adota aqui e ali – na poeira, a abordagem não só ajuda a localizar cada uma das mulheres em sua única realidade, observando com atenção os detalhes e costumes particulares à cada época, como também faz desses recortes parte de um todo. Nossa sensação, mesmo quando a imagem de Fabian Gamper encontra uma beleza assustadora em interiores gelados ou às margens do rio, não é tanto a de ver algo cautelosamente encenado. Sentimos como se, por alguns minutos, entrássemos na privacidade de famílias conectadas por sangue e dores.

Então, o filme continua rodando. E continua. E continua. A confusão inicial, a descoberta das conexões, o entendimento brutal dessas vidas judiadas por um mundo que força mulheres a engolirem suas lágrimas década após década, eventualmente dá lugar ao que parece ser apenas uma linhagem sem fim de tristezas arquitetadas. Se, por um lado, a abordagem rústica da direção de Schilinski nos coloca próximos dessas personagens, ela também nos mantém firmemente no posto do espectador. Apesar do uso frequente de narrações, enxergamos Alma, Erika, Angelika, Nelly e todas as outras de fora para dentro. As particularidades de cada uma existem à serviço do roteiro. Consequentemente, Sound of Falling parece nos treinar. Quando cortamos para outra moldura temporal, tomamos uma postura de inevitabilidade, como se disséssemos: “ok, o que essa personagem vai sofrer agora?”

Este não é um argumento a favor de um filme mais macio, que oferecesse saídas inexistentes num mundo que, como esse passeio por um século de violência deixa bastante claro, continua indisposto a ouvir, perdoar ou nutrir mulheres de todas as idades. Mas a falta de uma interioridade tão rica quanto a construção de atmosfera, ao longo de duas horas e meia onde cada minuto deixa sua marca cruel, significa que essas mães e filhas se transformam em algo como avatares – rostos diferentes para as mesmas expressões.

É verdade que este fato é, em parte, o que torna o filme de Schilinski intelectualmente engajante, mas é isso que nos impede, emocionalmente, de entender essas experiências no nível pessoal. A excelência como exercício cinematográfico é o maior dos méritos de Sound of Falling, mas essa característica experimental, desacompanhada de uma construção emocional mais forte, é também seu erro mais danoso.

Nota do Crítico
Bom

Sound of Falling

In die Sonne schauen

Ano: 2025

País: Alemanha

Direção: Mascha Schilinski

Onde assistir:
Oferecido por

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