Sing sing

Créditos da imagem: Diamond Films

Filmes

Crítica

Sing Sing é uma expressão genuinamente valiosa da reabilitação através da arte

Colman Domingo e Clarence Maclin encenam história real em prisão de segurança máxima

Omelete
4 min de leitura
22.01.2025, às 10H44.

O cinema adora exaltar a importância da própria arte. Filmes sobre como o processo criativo cura, renova e salva são comuns, especialmente quando se trata dos favoritos à indicações e prêmios, como é o caso de Sing Sing. Há, porém, um grupo mais seleto, e Sing Sing também faz parte dele – filmes que abordam, e até mostram, como isso acontece emocionalmente. O que faz da literatura, da atuação ou do teatro campos tão frutíferos para a realização pessoal, e como eles resgatam pessoas dos seus piores momentos?

Quando encontramos o elenco de Sing Sing – liderado pelo sempre caloroso e vulnerável Colman Domingo como John “Divine G” Whitfield – pela primeira vez, eles estão banhados em luz. Vestidos com figurinos improvisados mas cheios de vida, os atores são apresentados no palco, aplaudidos e satisfeitos com mais um espetáculo. Triunfantes, eles entram nos bastidores trocando histórias e risadas. A energia é palpável.

Então, num simples movimento de câmera, a realidade cai sobre eles, e sobre nós. O diretor Greg Kwedar inicia uma panorâmica com a lente apontada para um espelho, onde podemos vê-los ainda imersos em seus personagens, e quando termina o giro, agora na direção oposta do reflexo, os mostra novamente envoltos em uniformes de prisão. A fantasia, infelizmente, acabou. Inspirado em pessoas reais, Sing Sing acompanha o programa de reabilitação através da arte da prisão de segurança máxima que dá nome ao longa-metragem, e busca expressar as várias maneiras como a iniciativa ajuda esses homens a redescobrir a liberdade, mesmo que ainda estejam atrás das grades.

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Diamond Films

Divine G é a cabeça pensante do grupo, que também inclui Mike Mike (Sean San José) e o professor Brent Buell (um ótimo Paul Raci). Um advogado antes de ser preso por graves acusações, ele está há anos na Sing Sing, e sua paixão por livros e peças o transformou numa espécie de diretor criativo do programa, mas sua preferência por clássicos, Shakespeare e dramas desperta nos colegas a vontade por histórias originais e comédias. Tudo isso é potencializado quando Divine Eye (Clarence Maclin, uma descoberta), um dos presos mais violentos do local, decide se juntar logo depois que uma rara chance de ter sua sentença perdoada surge no horizonte. Inicialmente tímido e desconfortável, ele empolga os atores quando propõe uma tempestade de ideias que termina como um mix de Hamlet, De Volta Para o Futuro e faroestes. A narrativa é tão incompreensível quanto divertida.

Enquanto coloca em tela outros toques visuais poéticos como a panorâmica da abertura – estes incluem fortes contrastes entre a vida acinzentada da prisão e a promessa de verdes pastos no exterior, ou closes que dissolvem o universo ao redor dos atores enquanto eles viajam dentro da história – Sing Sing brilha ao acompanhar o relacionamento, às vezes amigável, às vezes tenso, de Divine G e Divine Eye florescendo. O ex-advogado e entusiasta do teatro vira uma espécie de mentor, guiando Eye tanto no processo judicial quanto no descobrimento de seu personagem. Para o choque de todos, Eye quer interpretar Hamlet na peça, e conforme se prepara para enunciar “ser não ser”, a dupla de protagonistas pondera exatamente as questões propostas no monólogo.

Quem eles são? Qual é seu destino? Morrer ali? Com exceções de alguns movimentos que parecem querer gerar conflitos artificialmente, o roteiro de Kwedar e Clint Bentley merece crédito por deixar essa exploração acontecer naturalmente, não só conforme G e Eye se desafiam e ajudam, mas também em como todo o elenco ganha espaço para brincar, respirar, desfrutar da criatividade. Espaço, talvez, para sonhar. Esses momentos, sejam eles frutos do improviso ou de um filme que sabe encenar bem a humanidade, são evidências mais fortes do tal poder da arte que grandes discursos, metáforas pesadas e melodramas arquitetados.

Aqui estão homens – homens cujo passado e personalidade não sugerem inclinações artísticas – experimentando a realidade da arte na sua carne e no seu espírito. Homens descobrindo num bom texto a oportunidade de se encontrar, nos gestos de uma performance o caminho para se analisar e no romance de uma grande obra as ferramentas para processar, vencer e entender os piores vales de suas vidas. Sing Sing é um sucesso por nos fazer testemunhas disso tudo, observadores de uma transformação real – e tal feito transforma a revelação final do filme não num truque barato, mas na mais linda representação dessa verdade.

Se você já está convencido, vá ver Sing Sing. Se já viu, ou quer saber mais, então aqui vai: com a exceção de Domingo, José e Raci, todos os outros atores estão interpretando a si mesmos. O peso visível no olhar de Maclin não é um acidente; ele realmente viveu aquilo. O mesmo acontece com Sean "Dino" Jonhson, Mosi Eagle, Patrick "Preme" Griffin, David "Dap" Giraudy, James "Big E" Williams e outros nomes da trupe. Todos eles participaram do programa. Todos encontraram na arte o túnel de fuga de suas celas. Todos estes homens um dia precisaram atuar para viver, e agora atuam porque viveram.

Com distribuição da Diamond Films, Sing Sing estreia nos cinemas do Brasil em 13 de fevereiro.

Nota do Crítico
Ótimo
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Sing Sing

Ano: 2024

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 1h47 min

Elenco: Colman Domingo

Onde assistir:
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