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Crítica

Sicario - Terra de Ninguém | Crítica

Guerra às drogas é travada em solo americano em suspense enervante de Denis Villeneuve

11.09.2015, às 01H04.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

O canadense Denis Villeneuve segue em Sicario - Terra de Ninguém (Sicario, 2015) uma carreira dedicada a enervar o espectador como poucos no cinema contemporâneo.

Depois do thriller de psicopata Os Suspeitos, o diretor aponta seus holofotes para a guerra contra as drogas. Seu olhar sobre o assunto, porém, é desconfiado, com o filme se aproximando em tom mais de Guerra ao Terror ou A Hora Mais Escura do que o típico "barão do tráfico é o novo nazista". Não que Villeneuve não vilanize os narcotraficantes... Mas ele o faz com tons de cinza, sujando as botas nas operações especiais da CIA e sem recorrer a subterfúgios narrativos previsíveis.

No roteiro de Taylor Sheridan, ator da série Sons of Anarchy, uma agente do FBI (Emily Blunt) é convidada a juntar-se a dois especialistas do governo (Josh Brolin e Benicio Del Toro) em uma missão arriscada que cruza as fronteiras entre os EUA e o México para derrubar um líder de cartel carniceiro.

Moralidade e ambiguidade são os interesses do diretor, que usa os contrastes nos planos da fotografia crispada do celebrado Roger Deakins para desestabilizar o público. As cenas aéreas sobre a fronteira e a cidade/campo de batalha de Juarez, no México, fazem parecer que Sicario se passa em um país estranho e exótico. Poderia ser o Iraque, mas é só o quintal dos EUA e uma cerca frágil o separa (sem sucesso) da guerra lá fora.

Entre esses planos aéreos e distantes, entram cenas de close-up de rostos suarentos dentro de carros do governo e dedos no gatilho. No banco de trás, a confusa agente do FBI tentando entender seu papel em tudo aquilo, agindo por instinto e buscando algum controle entre operativos escusos acostumados a atuar em zonas de conflito. A favor do suspense, o cineasta conta também com a trilha impecável de Jóhann Jóhannsson, que aparece e desaparece sem aviso com sonoridade mecânica, frequentemente usando maquinário como base. Não há manipulação musical ou alertas sonoros no mundo de Sicario além daqueles que chegam sussurrados pelo rádio dos agentes.

Desde a sequência inicial, um ataque a uma casa de condomínio no Texas, a tensão é estabelecida e não há qualquer momento de respiro. Nem mesmo quando a trama desvia-se para uma dispensável subtrama sobre um policial corrupto no México. Villeneuve é extremamente preciso na criação de um mundo sombrio e instigante, mas é em seu elenco que o filme realmente se destaca. Benicio del Toro é uma presença dúbia... Ora sinistra, ora apaziguadora, mas sempre imponente. Já Emily Blunt surge aqui despida de sua sensualidade, pequena e de constituição frágil perante soldados curtidos pelo sol do Oriente Médio.

A personagem trafega de cabeça erguida por um mundo tão opressivo quando agressivo e imoral. Ao mostrar a agente vendo ruir suas certezas sobre si e o mundo, enquanto desesperadamente agarra-se aos seus ideais, Sicario torna-se um dos mais intensos filmes já feitos sobre o narcotráfico.

Nota do Crítico
Excelente!

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