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Filmes
Crítica

Sexa enterra bons personagens em uma avalanche de inaptidões técnicas

Filme de estreia de Glória Pires na direção tem ideias promissoras, mas péssima execução

Omelete
3 min de leitura
23.10.2025, às 13H00.
Cena de Sexa (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Sexa (Reprodução)

Bárbara (Glória Pires) e Davi (Thiago Martins) são um excelente casal principal para uma comédia romântica. Inegavelmente conectados não só pelo desejo, mas também pela linguagem comum da maturidade e da perda, que faz com que busquem se entender mesmo quando certos obstáculos se colocam no caminho, eles também tem algo de muito concreto lhes causando conflito: ela acaba de fazer 60 anos, e ele tem 30 e poucos.

Esse é o dilema central de Sexa, filme de estreia de Glória Pires no roteiro e direção. Na busca por desafiar o conceito datado de que mulheres “de certa idade” não podem mais viver romances, Pires – com seus corroteiristas Guilherme Gonzalez (Tônia - A Diva no Espelho) e Bianca Lenti (Amazônia Eterna) – posicionam o longa como o herdeiro carioca da tradição Nancy Meyers, que produziu boas rom-coms “maduras” em Hollywood, como Alguém Tem que Ceder (2003) e Simplesmente Complicado (2008).

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O DNA do cinema de Meyers está por todo lado aqui, o que torna Sexa um pouco previsível. A introdução da melhor amiga (Isabel Fillardis) liberal e meio excêntrica que guia nossa protagonista neurótica, o posicionamento das relações familiares como criadoras de conflitos, seja no front de Bárbara (seu filho folgado acha que a mãe se comporta vergonhosamente para “uma senhora de idade”, mas ainda precisa do dinheiro dela para criar o neto) ou no de Davi (que é pai solteiro, tem amigos festeiros e mora com o pai, um senhor aposentado e gentil que está tentando novos hobbies)... enfim, nós já vimos tudo isso antes, mas o texto não executa os chavões sem um pouco de charme.

Há um ritmo em Sexa que é gostoso de acompanhar, uma carioquice filtrada pela lente de um folhetinesco que é também muito brasileiro. O filme de Pires não é exatamente uma novela das sete, mas tampouco foge das rotinas que definem esse tipo de produção – e, de fato, se dá muito melhor enquanto se concentra nelas, até por ter atores que sabem como sintonizar essa frequência. Martins é especialmente convincente como protagonista romântico e como um cara “gente como a gente”, ou ao menos a versão do “gente como a gente” que não pareceria fora do lugar nas ruas cenográficas do Projac.

De qualquer forma, o filme como um todo parece se acertar nesse tom de narrativa, que não é grande novidade, mas tampouco ofende. Os problemas aparecem, de fato, na hora de transportar o texto para a tela – Sexa, até dói dizer, está cravejado de óbvios tropeços técnicos, seja no básico da encenação (em uma cena simples de diálogo, perto do final, o posicionamento dos personagens e os ângulos de câmera fazem com que seja impossível acreditar que as duas pessoas envolvidas estavam gravando juntas), do som, da ambientação ou do cenário.

Há momentos em que é mais fácil ignorar essa inaptidão em favor da química entre os atores, ou de qualquer carisma que uma ou outra cena demonstra, é claro – mas há um número igual, senão maior, de momentos em que fica impossível se aproximar do filme, porque ele mesmo parece ter pouco conceito de como nos atrair. As intenções, enfim, estão aqui. Faltou uma mão firme para levá-las a cabo.

*Sexa foi exibido no Festival do Rio 2025 e na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A estreia no circuito comercial está marcada para 11 de dezembro de 2025.

Nota do Crítico

Sexa

2025
90 min
País: Brasil
Direção: Glória Pires
Roteiro: Bianca Lenti, Glória Pires, Guilherme Gonzalez
Elenco: Danilo Mesquita, Glória Pires, Isabel Fillardis, Thiago Martins
Onde assistir:
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