Samurai do Entardecer | Crítica
Samurai do entardecer
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Samurai do entardecer (Tasogare seibei, 2002) pode enganar o típico espectador desse estilo de filme, por causa de seu título. Não se trata de uma produção repleta de lutas magníficas como o sensacional Zatoichi (2003), exibido ano passado. Sua trama se concentra em apresentar o lado mais humano desses guerreiros que até hoje fascinam ao público.
A ação acontece no século 19, período em que o feudalismo da era Edo cede lugar à restauração Meiji, em suma, o declínio dos samurais. Eles eram pagos pelos senhores feudais para proteger a terra de invasões por outros chefes de clã. O dinheiro vinha da exploração dos camponeses pelos donos das terras. Notamos até uma semelhança na relação entre os nobres, cavaleiros e servos na época feudal na Europa.
Seibei Iguchi é um samurai do segundo escalão que perdeu sua mulher por causa da tuberculose. Sobra para ele a responsabilidade de cuidar de suas duas filhas e de sua mãe senil. Ele foi treinado por um dos maiores mestres nas artes da luta com a espada, mas desde que teve que assumir as tarefas domésticas de sua casa, cada vez mais ele se torna um intelectual e amante da paz.
Ele ganha o apelido de samurai do entardecer, porque depois de suas atividades diárias para o clã, ele se apressa em ir para casa. Para completar seus problemas, o sustento de sua família não lhe permite que se banhe ou possa ter as vestimentas necessárias de um verdadeiro guerreiro. Ele vira chacota no meio de seus companheiros de espada.
Seibei reencontra Tomoe, seu amor de infância. Ela se divorciou de seu marido bêbado e violento, um guerreiro mais graduado do clã. Tomoe começa a freqüentar a casa de Seibei e ajuda nas tarefas domésticas, conquistando também as suas duas filhas. Nasce uma oportunidade para Seibei, mas ele não consegue se decidir. Seu poder de decisão também parece ter acabado junto com seu instinto assassino. A grande maioria do tempo ele está duelando com seus próprios conflitos internos.
O diretor Yoji Yamada adaptou de forma brilhante o clássico livro de Shuuhei Fujisawa. Uma história que reproduz com perfeição os dilemas de um guerreiro que precisa mudar seu estilo de vida conforme as suas necessidades. O mais gratificante nessa jornada é ver que Seibei não perde seus valores, pelo contrário, ele parece estar ainda mais antenado com a verdadeira honra da estética samurai. Da mesma forma que o ator/diretor Clint Eastwood retratou de forma avassaladora o final dos pistoleiros em Os Imperdoáveis (1992), Yamada pinta o retrato do final de uma época no Japão.
Inclusive nas duas únicas seqüências de luta do filme, Yamada não se deixa levar por heroísmos ou mesmo tenta enfeitar essas cenas. Elas são registradas pela a sua câmera claustrofóbica da maneira mais real possível. Não são usados efeitos ou mesmo qualquer tipo de trilha melodramática. A violência é representado pelo ato em si e não pelo sangue espirrado. Os diálogos entre os duelistas retratam com perfeição as frustrações e injustiças de dois homens que dedicaram suas vidas ao clã. É impossível não refletir com as falas que são mais cortantes que as espadas em si.
As técnicas de Yamada estão presentes em várias cenas, como a utilização de tons para representar os sentimentos de Seibei. No começo da narrativa notamos uma luz pálida e cores mais opacas, quase que depressivas. Logo que Tomoe aparece, a película e os objetos de cena ficam ligeiramente mais coloridos. Isso acontece diversas vezes no filme, conforme a história vai sendo desenvolvida.
Hiroyuki Sanada e Rie Miyazawa estão perfeitos interpretando Seibei e Tomoe respectivamente. Ambos os atores passam uma grande angústia para a platéia. Eles se amam, mas precisam respeitar as tradições milenares de uma nação que ainda está em formação. Suas verdades incomunicáveis provocam imensa tristeza. Principalmente as de Seibei, que realmente parece o último samurai. Um guerreiro relutante perdido num mundo que não compreende mais os valores que ele representa.
O Samurai do Entardecer
Tasogare Seibei



