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Filmes
Crítica

Rosemead não alivia - nem aprofunda - uma devastadora história real

Filme com Lucy Liu tem potência, mas pouco insight

Omelete
3 min de leitura
22.10.2025, às 08H00.
Cena de Rosemead (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Rosemead (Reprodução)

Não é fácil digerir que Rosemead seja baseado em uma história real. E não é uma questão dos eventos que se desenrolam em tela serem particularmente dados ao fantasioso, ou terem sido excessivamente maquiados por Hollywood; é por eles serem sufocantemente, inacreditavelmente tristes. De fato, no entanto, o que vemos no novo filme estrelado por Lucy Liu aconteceu. 

Como registrado inicialmente pelo repórter Frank Shyong no jornal Los Angeles Times, uma mãe solteira do interior da Califórnia (EUA) recebeu, no início dos anos 2010, um diagnóstico de câncer terminal. Preocupada com a perspectiva de deixar sozinho o seu filho, um jovem esquizofrênico que exibia fixação por atiradores escolares e outros assassinos em massa, ela tomou a decisão chocante de matá-lo a tiros em um quarto de hotel e deixar-se prender, para morrer na cadeia.

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Na matéria original de Shyong, esse caso devastador é emoldurado como um aviso sobre o estigma ainda associado a distúrbios psíquicos como a esquizofrenia, com um foco especial na relação dos EUA com os casos de massacres escolares e a relutância da comunidade asiático-americana em enfrentar problemas de saúde mental (como no filme, embora os nomes tenham sido alterados, os personagens reais tinham ascendência chinesa). É curioso notar como, no transporte para o cinema, adicionou-se um subtexto ali que só torna os procedimentos mais angustiantes.

Nas mãos da roteirista Marilyn Fu (A Irmandade da Noite), Rosemead é a história de uma mulher que não foi injustiçada pelo sistema, nem encurralada por estigmas culturais. De fato, ela buscou todo tipo de ajuda que poderia buscar, e encontrou todo tipo de apoio que estava disponível dentro da nossa organização social. E, ainda assim, não foi o bastante.

Nesse formato, Rosemead se torna quase um thriller – estamos ao lado de Irene (Liu) conforme ela vai esgotando suas possibilidades, topando repetidamente com becos sem saída, e empurrando a sua resistência física e psicológica até o limite. O cineasta Eric Lin, em sua estreia no comando de longas-metragens após carreira como diretor de fotografia (nessa capacidade, ele assinou filmes como Coração Batendo Alto e A Casa Mórbida), cria um mundo esparso e meticulosamente organizado para essa história se desenrolar, mas mantém o foco nos personagens. Este não é um filme de paisagens, e sim de rostos.

O resultado é, de fato, potente – e Liu, encontrando aqui um papel muscular como poucos que caíram em seu colo durante a carreira, surfa bem nessa potência. A construção de maneirismos que ela faz para Irene, uma mulher mais velha, mais rígida e mais debilitada do que ela, pode resvalar no caricato em alguns momentos, mas Liu não falha Rosemead quando o filme lhe exige credibilidade dramática. O desespero que ela expressa no clímax é cru e crível, sem sombra de melodrama, uma evolução natural daqueles olhos argutos que passaram um filme todo chicoteando de um lado para o outro em busca de uma saída que não estava lá.

Conforme Rosemead aperta o cerco ao redor do espectador e da protagonista, no entanto, toda essa integridade dramática vai ganhando um ar de testemunho removido. Natural, é claro, se deparar com a desesperança absoluta de uma história como essa e entendê-la como necessária a ser contada, até para evitar que se repita (ou, ao menos, se repita tanto) – mas me parece necessário a um filme, também, um mergulho mais profundo, e mais honesto, do que aquele que Rosemead está disposto a fazer.

O que vemos aqui, no fim das contas, é a observação de uma trajetória trágica, que ganha ares também de inevitável (e, por isso, se torna mais trágica ainda). E situações impossíveis existem, muito mais do que deveriam existir na contemporaneidade, mas entender o que nos levou a elas, e o que podemos fazer para torná-las menos impossíveis, é tão importante quanto conhecê-las. Falta a Rosemead a vontade, a clareza ou o ensejo de investigar tanto as raízes quanto as ramificações do dilema que coloca em tela com tanta competência.

Nota do Crítico

Rosemead

2025
97 min
País: EUA
Direção: Eric Lin
Roteiro: Marilyn Fu
Elenco: Lawrence Shou, Lucy Liu
Onde assistir:
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